Brasil - 90 anos de presença salesiana em Humaitá-AM: a semente fincou raízes profundas no chão da Amazônia

06 Giugno 2018

(ANS - Humaitá) - Quando o carisma salesiano chegou na Amazônia em maio de 1915, quem poderia imaginar por onde ele se espalharia? Quem poderia, naquelas circunstâncias, medir a quantidade de pessoas que se envolveriam na missão tecida dia-a-dia com vitórias, fracassos e avanços?

Por P. José Ivanildo de O. Melo, sdb 

A presença salesiana em Humaitá-AM, insere-se nessa fabulosa trama divina, que conduziu (e ainda conduz) os filhos de Dom Bosco por esses vastos rincões. Vejamos alguns trechos do Resumo Histórico das Casas Salesianas da Amazônia, escrito em 1996 pelo saudoso Dom Miguel D`Aversa, onde narram-se as primeiras iniciativas dos salesianos na região:

“No dia 8 de dezembro de 1925 chega o primeiro missionário salesiano à localidade de Humaitá, para celebrar a Festa da Padroeira, Nossa Senhora da Conceição. Trata-se do P. Antônio Carlos Peixoto […] Depois de repetidos envios de missionários em visitas pastorais a Congregação Salesiana achou oportuno fundar alguns centros de Missões: em Porto Velho, Humaitá e Guajará-Mirim”.

De fato, tendo sido criada a Prelazia de Porto Velho-RO pela Santa Sé em 01 de maio de 1925 e confiada aos Salesianos em 15.07 do mesmo ano, por ali começaram a missionar. Assim, tendo sido preparada por diversas visitas pastorais, como a descrita por Dom Miguel, no dia 13 de maio de 1928, o Padre Uruguaio José Maria Pena inicia a presença salesiana em Humaitá, conforme a descrição do Sr. Juca Mota, radialista e testemunha ocular da história:

“Ele chegou com sua maleta e começou a obra de Deus. As poucas mulheres fervorosas encontraram o padre José sentado em cima da maleta com uma destemperança como quem pensava: o que é que eu vim fazer aqui? E elas perguntaram ao padre José se ele estava com fome. Ele tinha chegado num navio por volta da uma da tarde. Ele disse – Estou com fome, e as mulheres providenciaram sua alimentação daqueles dias […]. O padre José Maria Pena era um padre novo, um homem dinâmico. Ele tinha o quinto ano de medicina […], quem era o nosso médico daqui era o padre José Maria Pena”.

A austeridade de vida, os incômodos das doenças tropicais, a solidão das distancias da comunidade religiosa, são algumas das características que marcaram a vida dos primeiros missionários desta nova presença. Desprovidos de bens, mas revestido da confiança em Deus, estes homens cativaram o povo, construíram obras, semearam a fé, espalharam por comunidades, oratórios e centros profissionalizantes o carisma de Dom Bosco. Os frutos que hoje alegres colhemos na memória dos mais velhos, nos sinais concretos do desenvolvimento cidadão dos munícipes, na gratidão que tantas pessoas e instituições pelo trabalho salesiano desenvolvido, foi germinado nas fadigas e suor desses nossos irmãos da primeira hora.

“No dia 13 de maio de 1928, aniversário das aparições de Nossa Senhora de Fátima, após uma longa viagem, chega em Humaitá o P. José Maria Pena, cognominado o segundo fundador de Humaitá […] Encontrou a casa paroquial desprovida do absolutamente necessário, com exceção de uma mesa!

Durante muitos dias a mala que trouxera lhe serviu de cadeira! Por um longo tempo teve que fazer suas refeições na casa de particulares! Passados alguns dias, recebeu o batismo do Amazonas, a febre palustre, que o prostrou por muito tempo!

José Maria Pena, após longos e dedicados anos de trabalho, deixou Humaitá no dia 28 de julho de 1954, regressando à sua terra natal, o Uruguai. Não tendo coragem de se despedir dos fiéis, desceu até Petrópolis, um povoado distante 5 quilômetros, para pegar o motor.

Nos primeiros cinco anos, em Humaitá, ficou sozinho!”.

Alguns anos mais tarde seus restos mortais foram trazidos do Uruguai e depositados na Catedral de Humaitá, firmando definitivamente o pacto de entrega entre o missionário e o cidadão Humaitaense que o receberam de braços e corações abertos em 1928 e que agora podem tê-lo sempre por perto como intercessor a quem recorrer.

“Depois de P. Pena, um outro herói trabalhou nessa cidade: o P. Luiz Bernardi! Dedicou muitos anos de sua vida percorrendo o interior, enfrentando dificuldades, visitando as famílias, levando o conforto e ajudando os necessitados! Enfrentando o sol e as intempéries! Deu exemplo de um fecundo apostolado e de um grande espírito de sacrifício! Combatia a imodéstia no vestir e as danças!”

P. Luiz, tendo chegado em Humaitá em 1941, aí viveu até sua Páscoa em 1981. Jamais retornou à sua pátria para visitar seus familiares, tinha um motivo – “Quando parti e deles me despedi, eu disse: até o paraíso. Adeus!”. Mesmo tendo sido animado pelos superiores não descumpriu sua palavra. “Assinava sempre: P. Luis Bernadi, SDB, missionário salesiano. Outras vezes, acrescentava: Agraciado de São Domingos Sávio”.

Os salesianos em Humaitá construíram ao longo desses 90 anos escolas, centros profissionalizantes, oratórios, atenderam pastoralmente os fiéis assumindo paróquias, realizando itinerância nas comunidades ribeirinhas. Junto com a valiosa colaboração das irmãs salesianas e muitos outros leigos da Família Salesiana, formaram gerações de “bons cristãos e honestos cidadãos”, cuidaram (e cuidam) da saúde do corpo e da alma, da educação formal e da formação cristã, enfim, parafraseando as palavras do Apóstolo Paulo- combateram o bom combate, guardaram a fé (cf. 2Tm 4, 7-8).

Em 2010, em vista do redimensionamento da presença salesiana, os salesianos deixaram a cidade de Humaitá. As raízes profundas da árvore planta, no entanto, fizeram a obra permanecer. Ao longo dos últimos anos garantir a subsistência do Centro do Menor Salesiano tem sido um desafio enorme, como foram nos anos iniciais, mas graças a coragem de leigos colaboradores hoje ainda podemos celebrar mais um ano dessa história que desejamos continue a nos inspirar por tantos outros anos.

Entretanto, mesmo que os Salesianos Consagrados não voltem, mesmo que os prédios terminem, as obras concluam sua tarefa, ainda assim resistirá a memória feliz dos dias de outrora, dos valores recebidos, da criançada a correr nos oratórios festivos, das capelas dedicada ao santo adolescente, dos numerosos leigos educadores que assumiram o carisma de Dom Bosco como estilo de vida, da feliz data em que pelos braços de Maria, chegaram os primeiros filhos de Dom Bosco nessa terra de pretas pedras chamada HUMAITÁ, para não sair jamais!

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