Polônia - Adeus ao P. Augustyn Dziędziel SDB, Ex-Delegado do Reitor-Mor para a Polônia: "Amava obstinadamente a Deus e a Congregação Salesiana"

22 janeiro 2025
Foto: Facebook PLS

(ANS – Cracóvia) – Os funerais para o P. Augustyn Dziędziel, salesiano polonês, de 90 anos de idade, 72 de Profissão religiosa e 66 de Sacerdócio, foram presididos pelo Conselheiro para a Região Europa Centro e Norte, P. Roman Jachimowicz, terça-feira, 21 de janeiro de 2025, na Igreja Salesiana de Santo Estanislau Kostka, em Cracóvia-Dębniki. O salesiano, que residia na Comunidade do Teologado Salesiano, de Cracóvia, falecera na terça-feira, 14 de janeiro de 2025. No início da Santa Missa fúnebre, o P. Jachimowicz o descreveu como um salesiano que "amava obstinadamente a Deus e a Congregação Salesiana".

O P. Augustyn Dziędziel nasceu em 20 de abril de 1935 em Gorzów, na Diocese de Cracóvia, perto de Oświęcim (Auschwitz, em al.). Seus pais eram Rudolf e Zofia, nascida Matyj. Ele tinha cinco irmãos, dois dos quais falecidos na infância.

Em criança, viveu a Segunda Guerra Mundial; costumava lembrar, entre outras coisas, de um bombardeio aéreo alemão, do mesmo dia em que a guerra começou (1º de setembro de 1939), e também da fuga de sua família dos invasores, perto de Trzebinia e seu retorno a Gorzów. Não era incomum ver prisioneiros famintos de Auschwitz trabalhando nos campos de Babice e Broszkowice, onde adultos e até crianças, como Augustyn, que tinha apenas alguns anos de idade, tentavam ajudá-los com comida. Mamãe Zofia deu a Augustyn um pacote de pão e o instruiu sobre como e onde escondê-lo dos ‘Kapos’ e das SS, que vigiavam os prisioneiros.

Aos 7 anos de idade, Augustyn começou a frequentar a escola, com um programa alemão para alunos poloneses: só ensinavam a "escrever, ler e contar até 500". Após as aulas, os alunos e seus professores eram forçados a trabalhar para o ‘bauer’ que havia assumido a propriedade Sapieha, em Bobrek. Nessa escola, os professores complementavam secretamente o ensino às crianças em assuntos proibidos pelos alemães.

Entretanto, para o pequeno Augustyn, a escuridão da ocupação fez brilhar uma luz que influenciaria a trajetória de sua vida. Em 1942, ele assistiu a ‘Primeira Missa’ do Neossacerdote P. Józef Piotrowski, originário de Gorzów, celebrada na Igreja da Santíssima Trindade, em Bobrek. Foi vendo o novo padre que o menino sentiu o chamado de Deus para também se tornar sacerdote, chamado que nunca mais o abandonou.

Finda a guerra (1945), entrou para a Escola Secundária Particular Salesiana do Instituto São João Bosco, em Oświęcim (Ausschwitz], em setembro de 1948. Um ano depois, Augustyn e toda a família viveram o momento dramático da morte improvisa do pai, com apenas 49 anos. Os cuidados da família foram assumidos pela mãe e seu irmão mais velho, Stanisław. Augustyn, por outro lado, trabalhava nas férias de verão para ganhar dinheiro com que pagar as mensalidades da escola. Terminado o ensino médio em 1952, entrou, em agosto do mesmo ano, para o Noviciado da Congregação Salesiana, em Kopiec, perto de Częstochowa, professando os votos salesianos temporários em 15 de agosto de 1953. Três anos depois, em 1956, em seu pedido de votos perpétuos, escreveu: "Durante os três anos de votos, fui confirmado na convicção de que minha vocação realmente vem de Deus.

Augustyn Dziędziel completou sua formação religiosa e estudos no Seminário Maior da Sociedade Salesiana, em Cracóvia, e no Seminário Diocesano, em Lublin, onde foi ordenado sacerdote em 19 de abril de 1959 pelo Bispo Dom Piotr Kałwa. É interessante notar que, antes de se ordenar sacerdote, Augustyn teve de pedir dispensa, no item idade, ou seja: por não ter ainda atingido a requerida idade de 24 anos, exigida pela lei canônica, porque só completaria 24 anos no dia... seguinte.

Após a ordenação, o P. Augustyn voltou para Cracóvia, onde por dez anos, até 1969, ocupou o cargo de secretário inspetorial da Inspetoria Salesiana de São Jacinto, com sede em Cracóvia. Também foi editor do Boletim Salesiano "Nostra"; e ajudou no trabalho pastoral na paróquia salesiana de St Stanislaus Kostka. "Tive a alegria de ajudar pastoralmente a paróquia", disse. De 1964 a 1969, enquanto realizava as tarefas que lhe eram atribuídas, estudou Direito Civil por correspondência na Universidade ‘Jagiellonian’. "Surgiu a oportunidade de iniciar estudos superiores. Escolhi estudar direito porque passei por uma escola de vida difícil, que me tornou sensível à injustiça e aos infortúnios dos outros; e quero defender minha própria felicidade e a dos outros com tais estudos", disse ao relembrar aquele período, durante o qual também atuou como notário no estágio final do Processo de beatificação da Irmã Faustina Kowalska, presidido pelo então cardeal Karol Wojtyła.

Mais tarde, o P. Augustyn Dziędziel ocupou o cargo de Ecônomo Inspetorial por um ano (1969-1970). Em 1970, foi nomeado Superior da Inspetoria Salesiana de Cracóvia, cargo que ocupou até 1976. Como Inspetor, pertencia à Conferência dos Superiores Maiores das Congregações Masculinas, da Polônia. A Conferência o elegeu para o Conselho, seu órgão supremo. Como representante das Ordens religiosas, foi nomeado para duas Comissões da Conferência Episcopal Polonesa: a Comissão para Assuntos Religiosos e a Comissão para a Pastoral Geral.

Como Superior da Inspetoria, demonstrou grande bondade e ajuda às Filhas de Maria Auxiliadora; e supervisionou o desenvolvimento dos Salesianos Cooperadores e dos Ex-Alunos. Por recomendação do P. Luís Rícceri, iniciou o desenvolvimento do Instituto das Voluntárias de Dom Bosco (VDB) em solo polonês. Graças ao empenho e ao trabalho de formação do P. Augustyn, formou-se um grupo de candidatas e depois de Voluntárias, o que levou à criação de grupos em várias partes da Polônia, incluindo Piła, Skawa, Łódź, Kielce e Wrocław. Mais tarde, como Delegado do Reitor-Mor, o P. Egidio Viganò levou a ideia do Instituto VDB aos países da Ex-Urss, primeiro à Lituânia e depois à Letônia, Geórgia e Rússia.

Durante os anos do regime comunista na República Tcheca, Eslováquia e Hungria, ajudou os salesianos de várias maneiras: inclusive os que viviam na clandestinidade. Organizou a ordenação de tais clandestinos da Eslováquia na Polônia. Também os ajudou a estabelecer e manter contato com o Reitor-Mor.

Após concluir seu mandato como inspetor, trabalhou na pastoral da paróquia salesiana de Skawa de 1976 a 1978. Depois de dois anos de trabalho pastoral, seguiu-se outra etapa de ministério salesiano em sua vida.

Em 1978, foi nomeado pelo Reitor-Mor P. Egídio Viganó, Delegado para a Polônia Salesiana, função que exerceu por 18 anos. Vale a pena mencionar que o P. Augustyn participou de cinco Capítulos Gerais. Não pôde participar do de 1966 porque as Autoridades polonesas lhe negaram o Passaporte. O exercício desse cargo lhe deu a oportunidade de conhecer muitas personalidades salesianas, tanto clericais quanto leigas.

Apreciou os encontros com o Santo Padre João Paulo II em várias ocasiões e nas visitas ao Santo Padre. Eram momentos em que transmitia ao Papa notícias sobre a Igreja (atrás da cortina de ferro), em particular sobre a vida e atividades dos salesianos na República Tcheca, Eslováquia, Hungria, e sobre os países que visitou (na época, faziam parte da União Soviética - Belarus, Geórgia, Lituânia, Letônia, Ucrânia) e, nos anos posteriores, também a Rússia. O objetivo de tais visitas era, entre outras coisas, encontrar-se com os salesianos que haviam sobrevivido naqueles territórios desde antes da guerra. Realizou, com grande discrição, a animação vocacional e organizou a formação salesiana inicial de noviços e jovens irmãos.

O empenho do P. Augustyn Dziędziel não se limitou à Europa Oriental. Em 1980, foi-lhe confiada a tarefa de lançar e desenvolver as missões salesianas em Zâmbia (África) com a ajuda dos irmãos das Inspetorias polonesas. Esse trabalho levou ao estabelecimento de comunidades em Zâmbia, Malaui, Zimbábue e Namíbia. Quatro anos depois, respondeu a outro pedido do Reitor-Mor, organizando missões salesianas em Uganda, Ruanda e Burundi. Outra tarefa era preparar a divisão das duas províncias polonesas em quatro. Ao realizar tal projeto, cuidou para que as obras e os irmãos salesianos se sentissem bem identificados nas várias Inspetorias.

Segundo informações recolhidas por historiadores salesianos que consultaram os arquivos do Instituto da Memória Nacional, ele sofreu muitas investidas durante o período comunista, recebendo numerosas ofertas de colaboração com as autoridades de segurança, sempre dando uma resposta veementemente negativa. Sua pessoa, tão importante para as autoridades comunistas por causa de suas atividades na Polônia e em outros países, permaneceu cristalina até o fim!

A etapa seguinte do trabalho salesiano do P. Augustyn Dziędziel foi na Circunscrição Leste, com sede em Moscou. Depois de completar 18 anos (1978-1996) como Delegado do Reitor-Mor, o P. Augustyn, a seu pedido, foi designado para trabalhar na Circunscrição Leste, desembarcando em Moscou em 2 de agosto de 1996 e ajudar na Paróquia da Imaculada Conceição de Maria. Durante estes anos, ele se empenhou por desenvolver o trabalho salesiano e da Família Salesiana (VDB, FMA, ASSCC) e participou ativamente do renascimento da Fé no Povo russo.

Entre outras coisas, contribuiu para a recuperação do edifício da antiga igreja católica, construída pelos poloneses antes da Segunda Guerra Mundial, em Moscou, e para a completa restauração da mesma, restabelecendo suas funções sagradas e, após o completo enriquecimento do templo, para o estabelecimento nela da primeira Catedral católica de Moscou, que funciona até hoje. Ali, desempenhou suas funções como Vigário Provincial e exerceu o ministério pastoral na Catedral da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, em Moscou, também celebrando a Eucaristia em vários idiomas: inglês, russo, italiano, latim.

No dia 17 de dezembro de 2013, em Cracóvia, sob a direção do Superior da Inspetoria e por proposta dele, o Conselho de Premiação decidiu por unanimidade homenagear o P. Augustyn Dziędziel com o "MIR da Inspetoria de Cracóvia 2013" por seus méritos especiais, pelo seu trabalho na reorganização e animação das Inspetorias polonesas, e pela organização de obras educativas e pastorais na Ex-União Soviética e em Missões salesianas.

Uma vida e um trabalho tão ativos cobraram seu preço na saúde do salesiano. Aos 85 anos de idade, foi dispensado de suas responsabilidades e se estabeleceu em Moscou, no Orfanato Salesiano da Divina Providência, que está localizado no Centro Juvenil São João Bosco. Ali, sob os cuidados atenciosos do P. Dariusz Gojko, Diretor, e de Leigos engajados, ele serviu com oração e o ministério sacramental.

Em maio de 2023, devido ao agravamento de suas condições de saúde e por não poder contar com cuidados médicos adequados em Moscou, o P. Augustyn decidiu retornar à Terra Natal e, no dia 1º de junho de 2023, mudou-se para o Seminário Salesiano de Cracóvia. Ali, na comunidade do seminário, continuou a dar testemunho da vida salesiana por meio da oração, da bondade e do sorriso. Embora suas forças não o permitissem, continuou a pedir que lhe fosse dada alguma tarefa.

Exausto pelo trabalho constante – ao celebrar 65 anos de sacerdócio e 89 de vida em 2024 - sua saúde piorou. Para ele, que havia sido ativo durante toda a vida, os últimos meses lhe foram um "caminho de cruz", que, entretanto, carregou com muita paz no coração, oração e sorriso. Foi acompanhado por seus irmãos clérigos que, com serviço e bondade verdadeiramente samaritanos, cuidaram dele. Agradecemos a todos os seminaristas, ao salesiano coadjutor Sr. Sebastian e aos sacerdotes que celebraram a S. Missa ao lado do leito do P. Augustyn quando estava doente. Também merecem elogios seus Familiares, por sua presença constante e que tanto o alegrava. Certamente, todos cumpriram com amor fraterno e familiar as palavras de Jesus: "Estive doente e Vós me visitastes" (Mt 25,36).

Após a Missa fúnebre, os Fiéis foram ao cemitério Rakowicki, em Cracóvia, onde os restos mortais do P. Augustyn foram depositados no túmulo salesiano.

Muito linda a despedida! Lindas as palavras pronunciadas por diversos religiosos, leigos e salesianos! Cheia de belos testemunhos, acima de tudo, foi a homilia: houve quem não hesitou em chamar o P. Augustyn de ‘santo’. Graças à transmissão on-line, muitos outros amigos do P. Augustyn puderam assistir ao funeral, inclusive de outros países, onde ele trabalhara incansavelmente como Filho de Dom Bosco, como homem de Fé e Oração heroicas.

Foto: Facebook PLS.

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