Uma mulher, muitos trajes
Ainda que Dom Bosco seja mais conhecido como o apóstolo de Maria Auxiliadora, a sua Devoção a Maria transcende todos os títulos, deslocando-se no tempo. Para o Pai e Mestre da juventude, Maria é sempre Nossa Senhora, sempre a Theotòkos (Mãe de Deus), a Mãe de Jesus, continuamente presente na Igreja para, qual mãe amorosa, guiar, defender e interceder por seus filhos; sempre fiel ao papel que Deus lhe pediu no seu plano de salvação; sempre objeto de uma relação mui terna e pessoal.
Esta frase possa, talvez, ser um resumo do amor constante de Dom Bosco por Maria, sob diferentes títulos: "uma só mulher, com trajes diferentes". Em variados momentos da vida pessoal e pastoral de Dom Bosco se manifestou uma particular devoção mariana. Isto é com certeza válido para Maria como ‘Imaculada Conceição’.
Uma presença guia torna-se um ‘artigo de Fé’
Mesmo antes de a Bula Ineffabilis Deus, de 1854, do Papa Pio IX, definir a conceição ‘imaculada’ como artigo de fé, a Imaculada Conceição era já uma presença constante e guia, na vida e no ministério de Dom Bosco: a Capela do seminário de Chieri era dedicada a Maria Imaculada; Dom Bosco recebeu todas as ordens sacras, inclusive a ordenação sacerdotal, na Igreja da Imaculada Conceição, anexa ao palácio arquiepiscopal de Turim; o início do oratório se deu na festa da Imaculada Conceição, em 1841, no célebre encontro de Dom Bosco com Bartolomeu Garelli; no. O Oratório São Luís igualmente se iniciou na festa da Imaculada Conceição. Já em 1842, Dom Bosco tinha começado a tradição de fazer uma conferência no dia 8 de dezembro para recordar e invocar a proteção de Maria Imaculada sobre a Obra do oratório; o pequeno Domingos Sávio chegou ao Oratório perto de cinco semanas antes da proclamação do Dogma de 1854 e logo aprendeu de Dom Bosco a invocar Maria Imaculada, o que culminou com a fundação da sua Companhia da Imaculada.
Já a partir de 1847, no Oratório se rezava regularmente para pedir a definição do Dogma da Imaculada Conceição. ‘O Mês de maio em honra de Maria Imaculada’, de Dom Bosco, publicado em 1858, nas suas “Leituras Católicas”, contribuiu para difundir a devoção a Maria e para honrá-la particularmente como Imaculada Conceição.
Uma catequese imaculada
A insistência de Dom Bosco - acerca do fato de que o esboço de Rollini não transmitia a Imaculada Conceição através da beleza corpórea - , pressagia de algum modo a Teologia do Corpo, de São João Paulo II; uma catequese em que o corpo humano se apresenta como sendo necessariamente o pivô do sagrado. Não se duvida que a "santa pureza" inclua a castidade corpórea; mas é muito mais do que isso. A santa pureza modelada por Maria é a entrega intencional e total de si à própria missão doada por Deus para o bem dos outros. Maria encarna a "santa pureza" na mente e no coração, no corpo e no espírito: é bela porque é Imaculada; e é Imaculada porque em todos os aspectos é bela, isto é: é um reflexo de Deus, é feita à Sua imagem.
Contemplar Aquela que sempre esteve livre de pecado impele-nos a aceitar o em que nos devamos converter. Enquanto Maria é replena de Graça, a nós impõe-se–nos fazer escolhas intencionais que nos abram à graça paulatina e progressivamente.
Toda a vez que nos esforçarmos por construir comunhão, tornar-nos-emos mais "imaculados". A catequese que podemos oferecer é a de lutar pela integridade espiritual, interna e externamente. Talvez esta seja a cabeça da serpente que devemos colocar sob os pés de Maria: as nossas atitudes, os nossos comportamentos, as nossas ideologias que minam a comunhão - uma comunhão que podemos mui facilmente tomar por garantida, ou que sem a qual infelizmente nos habituámos a viver.
Maria, nossa Mãe, inspira em nós essa beleza imaculada - do corpo, da mente, do espírito - , beleza que Tu modelas tão perfeitamente!
- P. Mike Pace SDB, Museu Casa Dom Bosco