RMG – À redescoberta dos Filhos de Dom Bosco que se tornaram cardeais: João Cagliero (1838-1926)

12 setembro 2023

(ANS – Roma) – O primeiro de todos os cardeais salesianos foi Dom João Cagliero, conterrâneo de Dom Bosco, nascido, assim como o Santo dos Jovens, em Castelnuovo d'Asti (hoje Castelnuovo Don Bosco). Nascido numa família de modestos agricultores, em 11 de janeiro de 1838, conheceu Dom Bosco aos 13 anos e juntou-se a ele em Valdocco, onde cresceu pacificamente, distinguindo-se pelo empenho nos estudos e pelo amor à música.

Os biógrafos relatam uma agradável conversa entre Dom Bosco e a mãe de Cagliero, Teresa, quando ele lhe pediu permissão para levá-lo consigo a Turim; “Você quer me vender seu pequeno João?”, disse, brincando; e ela respondeu, em dialeto: “Os bezerrinhos se vendem, as crianças se doam”. “Melhor ainda – respondeu ele – . Prepare sua roupa que amanhã o levo comigo”.

No Oratório havia muita pobreza, mas muito amor: “Nossos dormitórios, no térreo, eram estreitos, pavimentados com pedras de rua. Na cozinha, umas poucas tigelas de estanho e respectivas colheres. Garfos, facas, guardanapos..., vimos tudo isso muitos anos depois. Garfos, facas, toalhas..., só anos mais tarde iríamos ver. O refeitório era um telheiro. Dom Bosco nos servia à mesa, nos ajudava a manter em ordem o dormitório, limpava e remendava nossa roupa, fazia todos os serviços mais humildes. Levávamos vida comum em tudo. Mais que num ‘colégio’, nós nos sentíamos numa família, sob a direção de um pai que nos queria bem e que só se preocupava com o nosso bem espiritual e material".

Quando Dom Bosco decidiu criar a nova Congregação, com noviciado regular e votos de pobreza, castidade e obediência, o jovem João Cagliero pronunciou aquela célebre frase, que ficou nos anais, e que teve também uma força cativante em outros dos jovens presentes: “Frade (i. é: religioso) ou não frade, continuo com Dom Bosco!”.

O P. Cagliero fez os votos trienais em 14 de maio de 1862 e os votos perpétuos, já sacerdote, em 15 de novembro de 1865.

Ele era o ídolo dos jovens. Possuía um temperamento exuberante, cheio de impulsos; sentia e comunicava aos outros a alegria de viver com Dom Bosco: trabalhar, correr, doar-se. Muitas vezes, os garotos, depois da “boa-noite salesiana” de Dom Bosco, aproximavam-se de Cagliero e cumprimentavam-no com carinho e espontaneidade.

Enquanto isso, João Cagliero aperfeiçoou suas habilidades musicais. Funções na igreja, academias e na banda, fizeram dele um compositor precoce e brilhante. Duas de suas obras, «O filho do exilado» e «O limpa-chaminés» foram elogiadas por Giuseppe Verdi por sua bela e comovente melodia. Também chegaram à Corte e foram cantadas pela futura Rainha Margarida. A “Missa de Réquiem’, a três vozes, foi considerada uma “joia de fé e harmonia”. Seu mestre Cerutti pediu que a apresentassem na Casa Real por ocasião do funeral de Carlos Alberto.

Foi vulcânico também nisto: no dia 9 de junho de 1868, a Missa de Consagração da Igreja de Maria Auxiliadora foi cantada por três coros: um com duas vozes de meninos, dispostos na cornija da cúpula; dois coros com três vozes masculinas, sob a cúpula e no coro.

Após o sacerdócio, trabalhou como salesiano por 13 anos, tornando-se um fenômeno de atividades e projetos, chegando a ocupar o cargo de Diretor Espiritual das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA). Dedicou-se também com paixão à música, sacra e não, compondo canções ricas melodicamente, que - sobretudo nos primeiros anos (1860-70) - foram um importante componente do ambiente oratoriano.

Em 1875, Dom Bosco confiou-lhe o primeiro grupo de salesianos que partiram em missão, com destino à Patagônia, Argentina.

Em Buenos Aires, iniciou o seu apostolado entre os emigrantes italianos, numerosos naquele período de grande migração; abriu uma paróquia na zona mais pobre da cidade, fundou também igrejas, institutos e obras salesianas; por toda parte difundiu o ardor e a alegria salesianos.

Após passar nove anos na América do Sul, em 1884 João Cagliero foi ordenado Bispo e Vigário Apostólico da Patagônia, tornando-se, assim, o primeiro sacerdote salesiano no episcopado. Foi ordenado em Turim, na igreja de Maria Auxiliadora: sua Mãe – Teresa – de 88 anos, teve a alegria de vê-lo com a insígnia episcopal antes de morrer. Naquele dia, Cagliero também manteve a mão com o anel de bispo escondido nas dobras da batina até a chegada de Dom Bosco: por direito, o primeiro beijo no anel devia ser dele.

Em sua terra de missão, Dom Cagliero iniciou em grande estilo a evangelização dos povos indígenas da Patagônia, aprendeu a andar a cavalo, lançar o laço, escalar montanhas, chegar a tribos remotas... Sempre em busca de almas.

Voltou às pressas a Turim assim que soube que Dom Bosco estava morrendo e, em 30 de janeiro de 1888, deu-lhe o último beijo, enquanto recitava as últimas orações. Retornou à Patagônia imediatamente após o funeral.

Em 1915, o Papa Bento XV criou-o cardeal, aos 77 anos; reconhecendo, assim, o mérito de uma vida dedicada ao bem dos outros, especialmente em terras de missão.

Voltando à Itália para os últimos anos de sua vida, faleceu em Roma no dia 28 de fevereiro de 1926, aos 88 anos. Seu corpo, inicialmente sepultado em Roma, repousa desde 1964 na Catedral “Mater Misericordiae”, de Viedma, sua primeira sede episcopal, a pedido do Episcopado Argentino.

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