“Hoje não vemos o fruto completo deste processo, mas podemos olhar para o horizonte que se abre diante de nós: o Senhor deverá guiar e ajudar todos "a ser Igreja mais sinodal e missionária, que adora a Deus e serve as mulheres e os homens do nosso tempo, saindo para levar a todos a alegria consoladora do Evangelho":
Servir e anunciar, mas também acolher, adorar, amar. Acima de tudo “amar”, diz o Pontífice na sua reflexão intercalada com citações do Cardeal Martini e de São João Crisóstomo, porque o “amor” é o primeiro mandamento, o “centro motor”, o “princípio inspirador”. “Não os cálculos humanos, não as modas do mundo”, não a “idolatria” que parece oferecer a vida quando, em vez disso, pedem a vida em troca: “Amar a Deus com toda a vida e amar o próximo como a si mesmo”, este – afirma o Papa – é “o princípio e o fundamento a partir do qual tudo começa. E recomeça”.
Mas como traduzir tal impulso de amor? Antes de tudo com a adoração, primeira resposta ao amor “livre e surpreendente” de Deus. Adorar significa reconhecer que Deus “é o sentido do viver”. Ao adorá-Lo, redescobrimo-nos livres. Por isso, na Sagrada Escritura, o amor ao Senhor aparece frequentemente associado à luta contra toda a idolatria. Quem adora a Deus rejeita os ídolos, pois, enquanto Deus liberta, os ídolos tornam-nos escravos: enganam-nos; nunca realizam o que prometem; porque são “obra das mãos dos homens”.
“Sempre – adverte Francisco - devemos lutar contra as idolatrias”:
- tanto as mundanas, que muitas vezes derivam da vanglória pessoal - como a ânsia do sucesso, a autoafirmação a todo custo, a ganância do dinheiro (o diabo entra pelos bolsos, não o esqueçamos!), o encanto do carreirismo;
- quanto as disfarçadas de espiritualidade - como a minha espiritualidade, as minhas ideias religiosas, a minha habilidade pastoral... Vigiemos para não nos colocarmos a nós mesmos, em vez de a Ele, no centro”.
“Mas voltemos à adoração. A Igreja seja adoradora! Adore-se o Senhor em cada diocese, em cada paróquia, em cada comunidade! Porque só assim nos voltaremos para Jesus, e não para nós mesmos..."
O segundo verbo que o Papa cita é “servir”, isto é, amar a Deus e aos outros. “Não existe experiência religiosa que seja surda ao grito do mundo. Não há amor a Deus sem envolvimento no cuidado do próximo: caso contrário corre-se o risco do farisaísmo” - afirma o Bispo de Roma.
“Talvez tenhamos de verdade muitas e belas ideias para reformar a Igreja, mas lembremo-nos: adorar a Deus e amar os irmãos com o seu amor - esta é a grande e perene reforma”.
Uma “Igreja do serviço”, portanto, é o que deseja o Sucessor de Pedro, uma Igreja que “lava os pés da humanidade ferida, acompanha o caminho dos mais frágeis, dos débeis e dos descartados, sai com ternura pelos mais pobres”.
“Penso naqueles que são vítimas das atrocidades da guerra; nas tribulações dos migrantes, no sofrimento escondido de quem se encontra sozinho e em condições de pobreza; em quem é esmagado pelos fardos da vida; em quem já não tem mais lágrimas, em quem não tem voz. E penso nas vezes sem conta em que, por trás de lindas palavras e eloquentes promessas, se favorecem formas de exploração; ou então nada se faz para as evitar”. É uma pena, um pecado grave.
“Nós, discípulos de Jesus, queremos levar ao mundo outro fermento, o do Evangelho: Deus em primeiro lugar e, juntamente com Ele, aqueles para quem vão as suas predileções, ou seja: os pobres, os mais frágeis”.
“Esta, irmãos e irmãs, é a Igreja com a qual somos chamados a sonhar: uma Igreja que seja serva de todos, serva dos últimos”, reitera Francisco. Uma Igreja que “acolhe, serve, ama, perdoa”. Uma Igreja, portanto, “mais sinodal e missionária”. Daí o agradecimento a todos os que fizeram parte da assembleia “ por tudo o que fizeram no Sínodo e continuam a fazer” e “pelo caminho percorrido juntos, pela escuta, pelo diálogo”. E, junto com a ação de graças, também o voto de que possamos crescer na adoração a Deus e no serviço ao próximo”.
“Avante, pois, com alegria!”
Salvatore Cernuzio