Itália – Uma fonte preciosa para a identidade: a “Cronichetta” do P. Giulio (Júlio) Barberis SDB

31 outubro 2022

(ANS – Roma) – A “Cronichetta” (croniqueta ou pequena crônica) do salesiano P. Júlio Barberis (barbéris) é um documento de grande relevância histórica e carismática. Abrange o período que vai de maio de 1875 a junho de 1879, anos determinantes para a obra salesiana, que iniciava a sua expansão mundial. Os 15 cadernos do primeiro Mestre de Noviços (salesianos) põem-nos em contato direto com o Dom Bosco real, e com a vida cotidiana do oratório, com o espírito que o animava e com os problemas e as labutas de uma comunidade em rapidíssima expansão. Máximo Schwarzel cuidou-lhe a edição crítica com um alentado volume de 770 páginas publicado pelo Instituto Histórico Salesiano (ISS, em italiano), lançado ao público segunda-feira, 24 de outubro, na Universidade Pontifícia Salesiana (UPS), de Roma.

O encontro, organizado pelo ISS e pelo Centro de Estudos Dom Bosco, foi moderado pelo Secretário do ISS, P. Stanisław Zimniak SDB, e contou com vasta participação de público.

Depois da saudação inicial do P. Thomas Anchukandam, Diretor do ISS, se foram sucedendo três palestrantes que ilustraram o valor da obra do P. Barberis. Suas falas estão disponíveis on-line neste link.

Na primeira participação o P. Máximo Schwarzel, editor do volume, pôs em evidência a figura do P. Barberis e a importância historiográfica do seu trabalho. Nascido em 1847, Barberis entrou para o curso ginasial de Valdocco em 1861. Ordenado sacerdote em 1870, completou a sua formação em 1873, com a Láurea em Teologia pela Universidade de Turim. Dom Bosco lhe confiou a formação dos noviços em 1875. Tinha somente 28 anos. Desempenhou o encargo por 25 anos. Depois foi Inspetor e Catequista Geral da Congregação. Trabalhador incansável e preciso, intensamente ligado a Dom Bosco, teve a oportunidade de dialogar frequente e longamente com o Fundador. Fruto de tais colóquios são os cadernos da ‘Croniqueta’, inspirados pela preocupação de não perder a memória “dos fatos e das palavras de Dom Bosco”, do estilo educativo de Valdocco e do espírito que animava a primeira ‘casa’ da Congregação. O P. Giovanni (João) Battista Lemoyne SDB, primeiro biógrafo do santo, auferiu amplamente desse rico subsídio, filtrando-o na perspectiva hagiográfico-edificante. A leitura direta da ‘Croniqueta’, ao invés, permite um contato direto com o Dom Bosco histórico, com o homem concreto, com sua mentalidade, o seu estilo de ação, as suas perspectivas ideais.

Na segunda fala, o P. Aldo Giraudo ilustrou algumas particularidades da vida cotidiana de Valdocco. Aqueles eram anos de contínuo aumento numérico. A casa extravasava: 700 rapazes pobres internos, pelos 12-20 anos, mais uma centena de salesianos, todos eles muito jovens. O ambiente revestia um fervor operativo frenético, uma caraterística própria essa do espírito da Congregação. Tal laboriosidade irrompia de um desejo de se consumirem a si mesmos pela maior glória de Deus e o bem dos jovens. Uma segunda peculiaridade da casa de Valdocco era o intenso clima espiritual em que jovens e salesianos estavam imersos, de modo natural, sem nenhuma constrição. Disso derivava uma vivência espiritual férvida, fecunda de excelentes frutos. Um desses era o impressionante florescimento vocacional. O relator faz notar que a ‘Cronichetta’ não põe em evidência fatos “sobrenaturais”. O P. Barberis não apresenta Dom Bosco como taumaturgo. Descreve a pessoa inteligente e empreendedora; o sacerdote zeloso e corajoso; a pessoa virtuosa e devota, mas normalíssima, sem evidentes fenômenos extraordinários. Cuida, entretanto, de narrar tudo quanto lhe aparece extraordinário na vida da comunidade, para demonstrar a proteção de Deus e a assistência de Maria Auxiliadora à obra salesiana.

O terceiro relator, P. Samuel Amaglo, se deteve nas expedições missionárias de 1875 e de 1877, amplamente ilustradas na ‘Cronichetta’. A missão salesiana envolveu, desde as origens, toda a nascente Congregação. O P. Barberis descreve de modo detalhado a preparação da Primeira Expedição, e testemunha todo o fervor suscitado pelo acontecimento. Fora de fato um projeto longamente cultivado por Dom Bosco, o qual soube criar no ambiente um estado permanente de missão. O pessoal foi acuradamente selecionado, a começar pelo chefe da expedição, P. João Cagliero, preferido “por sua índole doce, caráter conciliador, modo amável de fazer”. A solene função de adeus causou um intenso impacto, tanto sobre os jovens quanto sobre a opinião pública. Dom Bosco valorizou, em perspectiva educativa, espiritual e vocacional, tal entusiasmo, sugerindo aos seus meninos e adolescentes: “Começai por preparar-vos com a oração, com o ser realmente bons, com o servir-vos como missionários uns aos outros, dando-vos bom exemplo; e, depois, também dedicando-vos, com afinco, aos estudos, cumprindo bem os vossos deveres de estudo e de aula”. O fervor inspirado pelo santo e, de modo especial, o clima por ele criado para cultivar vocações missionárias e formar os 'expedicionários', são ainda hoje elementos que servem de lição para renovar a missionariedade segundo o carisma de Dom Bosco.

Ao encerrar o evento, o P. Michal Vojtáš, Vice-Reitor da UPS, apresentou alguns tópicos para reflexão sobre a fecundidade pedagógica, espiritual e identitária de documentos como esse, para um repensamento operativo no hoje da identidade e da missão salesianas.

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