Como lidar com o problema da pornografia?
Gostaria de responder a esta pergunta fazendo três afirmações que podem nos ajudar a enfrentar esta situação de modo educativo, tendo em conta a psicodinâmica humana e o que a Igreja nos ensina.
Partindo da perspectiva digital, eu penso que pais e educadores são chamados a abordar inicialmente a questão da pornografia do ponto de vista da lógica digital: como efeito da aceleração psicológica e psicofísica que se experimenta no mundo digital. A partir desta visão, podemos nos fazer algumas perguntas: o que ocorre, em nível psicológico, com um adolescente que se expõe ao mundo digital de forma contínua e intensa? O que sucede: nos níveis físico e emocional com a consequente aceleração do seu cérebro, com os seus aspectos cognitivos e afetivos; na ansiedade, no medo, na insegurança e, consequentemente, na sexualidade? Como esse adolescente - com pleno acesso a toda a lógica do mundo digital, com tantas imagens e vídeos - gerencia seus sentimentos, emoções, desejos, hormônios? E assim por diante.
Hoje vive-se o que se chama de hipersexualização, uma nova realidade no mundo digital. A hipersexualização se manifesta na hiperexposição do corpo, da performance, do poder e do sucesso que induzem adolescentes e jovens a experienciar a sexualidade através de estímulos. Na lógica digital, como dissemos, os estímulos governam a imaginação e as ações. É, por isso, importante que pais e educadores conversem com os adolescentes e jovens sobre como funciona a lógica digital no contexto das redes sociais e da Internet. Primeiro, compreender estas dinâmicas e aprofundar-se nos valores humanos e cristãos da sexualidade.
Um segundo tópico é o aspecto físico: refere-se à ideologia que norteia o mundo digital, a internet e as redes sociais; e ao modelo de Pessoa humana que é proposto em tal universo. O simbolismo e os sinais usados subliminarmente pela publicidade tornam as pessoas consumidoras famintas. Há muita publicidade presente para adolescentes e jovens. São estratégias de consumo com produtos que levam seu uso ao ponto de serem praticamente “divinizados” e circunstâncias em que as pessoas vivem consumindo através de mensagens contínuas e intensas. Tudo isso chega imediatamente ao mundo digital, criando um círculo vicioso através de um desejo de consumo contínuo e incontrolável.
Esta dinâmica de aceleração - de sentimentos, emoções e imaginação - tende a tornar as pessoas indiferentes perante o seu mundo de consciência crítica e reflexão.
O senhor acredita, portanto, que o digital estimula as pessoas a entrarem num ciclo de consumo constante de sexo?
Alienar-se dos próprios sentimentos e vivenciar a insatisfação no consumo de bens de forma exagerada e acelerada afeta diretamente a sexualidade, levando a pessoa a transferir essa mesma dinâmica para o sexo. Estamos, portanto, falando da resposta da sexualidade aos estímulos, da aceleração do cérebro, dos desejos, da libido e da procura de um ambiente (digital) que ofereça estes produtos e um tipo de estilo de vida que permita e potencie esse consumo constante de sexo. Ou seja: existe o risco de as pessoas procurarem sexo sem considerar todo o aspecto da sexualidade humana, que envolve sentimentos, amor, valores, consciência, responsabilidade para com os outros e fidelidade à pessoa.
Às vezes, esses estímulos são potencializados pelo uso de sons que amplificam os desejos e a libido. Outras vezes, o uso de determinadas substâncias químicas, psicotrópicas, drogas ou álcool, leva os jovens a vivenciarem situações extremas de perda de sentido, radicalismo consigo mesmo e com os outros, perdendo totalmente o controle emocional. Tudo isso se torna um atrativo para eles assistirem pornografia como forma de se libertarem.
É claro que a pornografia existia antes da digitalização e da Internet. Há que lembrar que o tema da pornografia também está ligado a questões educativas, distúrbios psicológicos e realidades culturais: elas são questões complexas que merecem uma investigação mais aprofundada.
Seguindo as indicações da Igreja, é fundamental educar para a sexualidade madura a partir do amor doado, construindo um projeto de vida em que a sexualidade seja vivida na sua totalidade como um dom responsável.
A Igreja Católica, por meio do catecismo e dos ensinamentos sobre moral e sexualidade, apresenta uma antropologia e psicologia seguras de como viver a sexualidade e crescer de forma integral e madura como pessoa humana que ama e vive a sua sexualidade de forma saudável e responsável. “A sexualidade exerce influência em todos os aspectos da pessoa humana, na unidade do seu corpo e da sua alma. Diz respeito particularmente à afetividade, à capacidade de amar e de procriar, e, de modo mais geral, à capacidade de estabelecer relações de comunhão com os outros” (2332).
As crianças estão conscientes de que é mais importante que os pais (e educadores) passem tempo com elas do que acompanhar as redes sociais ou responder a e-mails?
Acredito que a responsabilidade de viver no mundo digital seja uma responsabilidade tanto dos pais quanto dos filhos. Todos somos chamados a nos educar para viver de forma saudável, mais humana e fraterna no universo digital. É, portanto, uma questão de diálogo, de escuta, de amor. Um adolescente que viva em família envolvido por amor, terá uma referência emocional muito importante para crescer com senso ético no mundo digital.
Sabemos que, embora os jovens sejam hábeis em navegar pelo mundo digital, ainda procuram a nossa amizade, a nossa escuta, o nosso apoio como companheiros de viagem e educadores. Devemos aprender com os jovens; e caminhar-lhes ao lado.
O senhor já viu casos de cyberbullying ou conhece alguém que já os presenciou?
Sim, tenho visto alguns casos de cyberbullying, especialmente entre alunos de Ensino médio. Este tópico está relacionado com o que eu disse anteriormente sobre as reações intensas e às vezes irracionais causadas por estímulos aumentados pela tecnologia digital. Mesmo ali, a pessoa é sempre responsável por seus atos. O cyberbullying muitas vezes depende da educação recebida, de problemas psicológicos; mas, nas mãos de uma pessoa, a tecnologia pode se tornar um perigo, uma ameaça para os outros.
Há que lembrar que um dos graves problemas do mundo digital é o poder. O poder de seduzir, manipular, mentir, causar ódio e violência, contra os outros. É por isso que a educação ética, para a vida no mundo digital, é uma questão de extrema urgência - nas escolas e em nossas famílias.
Como poderíamos nós, educadores, ter mais iniciativa e, para manter as crianças ocupadas, ser menos dependentes de videogames e programas de TV?
Considerando que vivemos num mundo digital e que a televisão, a internet e as redes sociais estão todas interligadas, não creio que limitar o uso dos meios de comunicação seja educativo. Impedi-los de jogar videogame e encontrar outra atividade para mantê-los ocupados poderia produzir resultados mínimos. A questão não é limitar ou evitar, mas educar para o uso criativo, saudável, responsável, ético. Toda a família deve pensar em como criar um estilo de vida saudável e equilibrado com seus filhos dentro do hábitat digital.