RMG – “O campo apostólico para a Igreja e, em particular para os salesianos, é extremamente vasto”: entrevista com o P. Nguyen Thinh Phuoc, Conselheiro para a Região Ásia Leste-Oceânia

(ANS – Roma) – Entrevistado pelo Boletim Salesiano italiano, o Conselheiro para a Região Ásia Leste-Oceânia, P. Nguyen Thinh Phuoc, descreve a realidade em que vivem e trabalham os salesianos nos lugares da Região que acompanha, o que significa conviver com outras religiões e qual seja a situação geral dos cristãos.

Segue a entrevista completa.

O senhor pode se apresentar?

Meu nome é (Joseph) Nguyen Thinh Phuoc. Nasci numa família de dez irmãos crescidos em um ambiente católico tradicional devotado. No Vietnã, os meninos católicos eram encorajados a praticar a piedade e, se possível, a pensar na vida sacerdotal ou religiosa. De fato, os cinco primeiros meninos da família se tornaram aspirantes de várias congregações (Irmãos Cristãos, Redentoristas, Salesianos). Após minha Primeira Comunhão, o desejo de me aproximar de Jesus, o Senhor, tornou-se cada vez mais forte e meu sonho se tornou realidade quando fui admitido no Aspirantado do Liceu Salesiano. O espírito de família, a proximidade, a alegre familiaridade entre os superiores, irmãos, clérigos e alunos, a alta qualidade da educação cristã no Aspirantado me levaram a sentir imediatamente que Deus me chamava para aquele estilo de vida e nunca me arrependi de ter aceitado aquele chamado, dia após dia.

Como os salesianos chegaram ao Sudeste Asiático?

Os Salesianos chegaram à Região (salesiana) da Ásia Leste-Oceânia no início do século XX, tendo como primeiro destino (em 1906) Macau (China), realizando o sonho missionário de Dom Bosco (sua visão de Pequim!). Nas primeiras três décadas do século, os salesianos se estabeleceram em cinco países. Após a Segunda Guerra Mundial, outros cinco países receberam salesianos missionários. Nas duas últimas décadas do século XX, os salesianos iniciaram obras em outros cinco países. Nos últimos 20 anos do século XXI, outras presenças (quatro países) foram lançadas por estas Inspetorias consolidadas como missões de proximidade, cada vez mais autônomas na inculturação do carisma salesiano.

Qual é a situação geral dos cristãos?

A Ásia Leste-Oceânia é uma região extremamente vasta, que atualmente inclui 22 países com diferenças muito evidentes em termos de cultura, língua, história, desenvolvimento econômico e social, situação política e, em particular, filiação religiosa. Em alguns países os Cristãos são maioria, como nas Filipinas (95%), em Papua-Nova Guiné (93%) e na Austrália (60%, 22-23% católicos). Outros, possuem números mais moderados, como a Coreia do Sul (11%), Vietnã (7%). Em muitos outros países a Igreja Católica, apesar dos 500 anos de evangelização, ainda é minoria (Tailândia, menos de 1%; Japão 0,05%) e, recentemente, com um novo território de missão, a Mongólia, com 1.000 católicos numa população de 3,3 milhões.

Como é o contato com outras religiões?

Para os asiáticos e habitantes das ilhas do Pacífico em geral (e também para os australianos, que são muito abertos aos outros), ser diferente na adesão religiosa (crenças, práticas de piedade religiosa) não é um desafio, mas uma oportunidade. Por milhares de anos, as principais religiões do mundo atraíram crentes para esses dois continentes (Ásia e Oceânia) e transformaram suas vidas para torná-las mais úteis e frutuosas para suas comunidades. O ensinamento católico insiste na humanidade do indivíduo como base de todos os contatos, diálogos e colaborações que se dão no dia a dia; e na Ásia e Pacífico há séculos (desde o século XVI, quando chegaram os primeiros missionários). Hoje, podemos encontrar milhares e milhares de jovens não cristãos e não católicos, junto com seus pais, que consideram o ambiente salesiano uma como sua segunda casa.

Qual é a situação atual dos Salesianos?

Atualmente os salesianos (na Região) são cerca de 1433 (até 2021) com idade média de 55 anos. Dedicam a sua vida em 80 Escolas acadêmicas (que servem a 110.000 alunos) e mais de 40 Centros profissionais (técnicos, com 10.500 alunos) e 73 paróquias (em que se atendem 137.541 fiéis), juntamente com mais de 100 oratórios (para 15 000 jovens); há também pensionatos (45, que servem a 4.000 residentes).

Entre as sete Regiões da Congregação, é a menor em números, mas muito viva na evangelização e no envio de missionários ‘ad gentes’ a outras Regiões. As estatísticas apresentadas no Capítulo Geral 28, em 2020, mostram que 40% dos atuais missionários provêm desta Região (2014-2020).

Quais são os países e obras mais importantes?

As mudanças sociais após a era colonial provocaram muitas revoluções: muitos países asiáticos entraram na arena mundial com muitas esperanças de se igualar a outras nações. A educação sempre foi o meio mais eficaz. Com seu zelo missionário, muitos missionários salesianos levaram também o seu carisma, um carisma que visa o desenvolvimento humano e cristão por meio de obras tradicionais, como escolas humanísticas, escolas técnicas, que possam estar ligadas ou circunscritas a comunidades paroquiais. Estas ainda são muito válidas em vários países em desenvolvimento, semidesenvolvidos ou mesmo desenvolvidos, pois se dirigem aos jovens para transformá-los em bons cidadãos e devotos credentes. Mesmo nas estações missionárias onde a evangelização parece estar no centro das atenções, mais cedo ou mais tarde os salesianos iniciam algum tipo de programa educativo para melhorar a vida dos jovens pobres naquelas áreas. Internatos com centenas de meninos são ainda muito comuns em muitas Inspetorias da AEO, porque respondem às necessidades de jovens que precisam desesperadamente de um ambiente seguro e adequado para estudar e formar-se religiosamente. É sabido que muitas dessas obras são bem vistas pelo governo e boa parte delas recebe apoio.

E quais são os que mais inspiram esperança?

São os jovens que inspiram mais esperança. Em muitas casas, escolas ou oratórios salesianos podemos encontrar milhares e milhares de jovens, que os frequentam para receber algum tipo de formação. Neste contexto, o crescimento do carisma salesiano é garantido para as gerações futuras, pois muitos jovens aspiram a continuar as boas obras que os salesianos lhes ofereceram e, por sua vez, assumirão suas responsabilidades. É possível notar que, mesmo numa sociedade onde a Igreja é minoria ou onde a sociedade se torna cada vez mais fortemente secularizada, Deus ainda chama os jovens católicos a entrar para a vida salesiana.

Há ainda uma forte estrutura familiar e um forte vínculo que insiste no alto valor da comunidade. Não só entre os jovens pobres, que saem da aldeia e da família para ir para a cidade em busca de trabalho; mas também entre os jovens profissionais mais bem-sucedidos: veem na família a base da prosperidade contínua em suas vidas. Quanto mais a Igreja trabalha na pastoral familiar, quanto mais o Instituto educativo salesiano inculca e forma os jovens para viver os valores familiares, tanto mais a sociedade irá pelo caminho pelo rumo do seu desenvolvimento. E esta é uma forte dimensão alimentada pelo carisma salesiano.

Quais são os principais problemas do momento?

O principal refere-se a como viver a nossa identidade carismática salesiana. Os salesianos da AEO tiveram muito sucesso na gestão de paróquias, escolas e oratórios. Algumas Inspetorias deixaram legados gloriosos no passado, e também no presente. Muitos dos fundadores do carisma salesiano foram elevados às honras dos altares (São Luís Versiglia e São Calisto Caravário) ou estão prestes a fazê-lo (Cimatti, Braga, Majcen). Eles deixaram seus países para ir ao Extremo Oriente Asiático, não apenas para educar, mas também para evangelizar os jovens e todas as pessoas. O cristianismo tem algo único e especial a oferecer aos povos da Ásia e do Pacífico: Jesus Cristo. Sob o impacto global, muitos países da AEO também se vão mais e mais se secularizando, apesar de suas raízes familiares religiosas. Como místicos no Espírito Santo, os Salesianos são desafiados a testemunhar a antropologia cristã delineada por Jesus Senhor em sua vida cotidiana e em seus serviços.

Ao mesmo tempo, diferenças culturais, étnicas e mesmo religiosas, ao invés de serem um tesouro comum a ser compartilhado, podem ser manipuladas por forças políticas sedentas de poder e se tornarem fatores desastrosos para desestabilizar os países interna ou regionalmente.

Quais são as necessidades mais urgentes?

Cada país enfrenta suas próprias urgências, que são bem diferentes e, de alguma maneira, até conflitantes. No entanto, seja qual for o estado que o país tenha alcançado em sua transformação social e econômica, "os pobres sempre estarão convosco!". Por instinto, os salesianos têm o cuidado de reconhecer as diversas formas de pobreza que atingem os jovens (minorias étnicas, imigrantes, trabalhadores migrantes, etc.). Como as forças internas podem alcançar estes jovens marginalizados e garantir seu futuro?

Reconhecendo estas necessidades, dificilmente uma Inspetoria salesiana pode oferecer a solução sem entrar em parceria com outras Inspetorias, como pede o Reitor-Mor.

Como o senhor vê o futuro?

A colheita é abundante, mas os trabalhadores são poucos. Juntamente com a Ásia Sul, 33% da população mundial reside nesta região. O campo apostólico para a Igreja e para os salesianos em particular é extremamente vasto. Ao mesmo tempo, a Igreja convida os seus fiéis da Ásia e do Pacífico a um tríplice diálogo: diálogo com os pobres, com a cultura e com as religiões. Com sua identidade carismática missionária, os salesianos apostam na educação e na evangelização, privilegiando os jovens pobres como parte sensível da sociedade.

Tendo crescido e trabalhado numa Inspetoria (VIE) que perdeu quase tudo durante e após a guerra (1954 e 1975) e reunindo algo muito humilde para recomeçar, acredito que nenhuma dificuldade e nenhum desafio (interno ou externo) poderá impedir que os salesianos dediquem seus serviços aos jovens em dificuldade: Deus ama os jovens; Dom Bosco amava os jovens; as necessidades dos jovens são evidentes. Ou seja: a missão salesiana é significativa. Cabe a cada salesiano realizar esta missão, confiada por Deus a ele e à sua comunidade.

InfoANS

ANS - “Agência iNfo Salesiana” - é um periódico plurissemanal telemático, órgão de comunicação da Congregação Salesiana, inscrito no Registro da Imprensa do Tribunal de Roma, n. 153/2007. 

Este sítio utiliza ‘cookies’ também de terceiros, para melhorar a experiência do usuário e para fins estatísticos. Escorrendo esta página ou clicando em qualquer de seus elementos, aceita o uso dos ‘cookies’. Para saber mais ou negar o consentimento, clique na tecla "Mais informações".