Você disse que, nesta pandemia, os que mais perdem são os "Filippos" da situação. Quais são as atitudes que devem ser tomadas com as pessoas próximas?
Antes de me aproximar de meu filho, Filippo, coloco sempre a máscara cirúrgica, o que implica em não tocar, nem beijar ou abraçar. Também tenho um amor imenso por meu avô, mas agora preciso tomar muito mais cuidado. Sei também muito bem que, infelizmente, se chegarmos ao ponto de precisar escolher, opta-se por quem tem mais probabilidade de viver e, portanto, abrir mão de tomar café ou fumar cigarro com ele, por mais difícil que seja, é realmente a coisa certa a fazer.
Qual a realidade do hospital?
No hospital, muitos pacientes morrem sozinhos por causa do COVID-19. Todos os procedimentos são muito longos: por exemplo, a "pronação", um procedimento para ajudar a respiração, por mais simples que seja, leva cerca de 30 minutos por pessoa, durante os quais é preciso tomar muito cuidado para não tirar o soro da veia do paciente. Obviamente, fazemos tudo o que podemos, mas quando há 10 pacientes exigindo a sua atenção, fica realmente difícil.
Como um cidadão comum pode ajudar?
Se as pessoas realmente ficassem em casa, já seria uma grande ajuda: muitas saem, fazem compras duas vezes por semana, usam o cachorro como desculpa, praticam corrida nas ruas mesmo quando não o faziam antes... É preciso lembrar que o período de incubação é de 14 dias e que há casos assintomáticos, que ainda podem infectar.
O que Valsalice deixou para você que a ajudou a enfrentar a situação?
Meus professores me deixaram muito: nos momentos de desespero, lembro-me dos meus professores e daquilo que eles me transmitiram. Isto me dá forças para seguir em frente; às vezes leio um trecho do romance ‘Promessi Sposi’ (Os noivos, de A. Manzoni, sobre as dificuldades de um casal na época da peste negra, n.t.) ou da ‘Divina Comédia’, de Dante, e me sinto um pouco mais leve em relação ao que está por aí, me devolve o fôlego que às vezes falta. Lembro-me particularmente que, durante uma aula, o professor Bove leu-nos um trecho de..., se não me engano de ‘Se este é um homem’, no qual Primo Levi se sentia como eu me sinto agora: a única coisa que o mantinha vivo era uma passagem da Divina Comédia: ao relembrar aquele trecho, ele se sentia menos fera e um pouco mais homem.
Fonte: Il Salice