Dom Bosco sonhou que estava numa colina, do alto da qual podia ver uma floresta, mas atravessada por estradas e caminhos. Dali, ele virou o seu olhar, o que o levou até ao fundo do horizonte: o seu ouvido foi tocado pelas vozes de uma multidão de meninos.
Por mais que tentasse descobrir de onde viessem aquelas vozes, não conseguia saber. Viu, por fim, uma multidão - imensa - de jovens que, correndo, se puseram em seu derredor, dizendo: "Finalmente! Faz tanto tempo que o estamos esperando... Finalmente chegou! Nunca mais o deixaremos fugir!"
Dom Bosco não entendia, nem sequer sabia o que aquela sua gentinha quisesse. Mas, enquanto -atônito- os contemplava, viu também um imenso rebanho de cordeiros conduzidos por uma Pastora que, depois de separar os jovens das ovelhas, colocando uns de um lado e as outras de outro, parou ao lado de Dom Bosco e disse:
– “Você está vendo o que está à sua frente?”
– “Sim, vejo” – respondeu Dom Bosco.
– “Bem! Você se lembra do sonho que teve quando tinha 9 anos?!...”
Depois, convidando os meninos a se achegarem a Dom Bosco, acrescentou:
– “Olhem para cá agora, todos vocês: olhem lá longe... e leiam o que está escrito; e digam-me o que estão vendo”.
– “Vejo montanhas, depois mares, depois colinas, depois montanhas e mares novamente”.
– “Eu leio ‘Valparaíso’ – disse um dos meninos”.
– “Eu ‘Santiago’ – disse outro”.
- “Eu leio os dois” – exclamou um terceiro.
– “Bem – continuou a Pastora – . Trace agora, a partir desse ponto, uma linha de visão e você terá uma ideia do que os salesianos deverão fazer no futuro".
– “Vejo montanhas, colinas e mares”.
E os jovens aguçaram o olhar e exclamaram em coro:
– “Le-mos Pe-quim!”.
Dom Bosco, então, viu uma grande cidade, cortada por um largo rio, atravessado por algumas grandes pontes.
– “Muito bem! – disse a Pastora – . Agora trace uma única linha, de Santiago a Pequim; faça um centro no meio da África; e terá a ideia exata do que os salesianos deverão fazer”.
– “Mas como fazer tudo isso? – exclamou Dom Bosco – . As distâncias são imensas, os lugares difíceis, os salesianos, poucos...”.
– “Não se preocupe. Seus filhos, os filhos de seus filhos e os filhos deles farão tudo isso. Mas permaneçam fiéis à observância das Constituições e ao espírito da Congregação”.
– “E onde achar tanta gente?”
– “Venha cá e olhe. Veja lá 50 missionários prontos. Mais para lá, veja outros... E outros mais!... Trace uma linha de Santiago ao centro da África. E o que está vendo?
– “Dez centros”.
– “Pois bem, esses centros que você está vendo formarão etudantados, noviciados, que darão uma multidão de missionários de que prover essas regiões. Agora, vire-se para o outro lado. Veja ali: do meio da África até Pequim - mais dez centros. E também esses centros fornecerão missionários a todas essas outras regiões. Lá está Hong Kong, Calcutá e, mais além, Madagascar. Esses e outros centros, terão casas, estudos, noviciados”.
Dom Bosco ouviu, olhou, examinou; e depois repetiu:
- “Mas onde achar tanta gente? E como enviar Missionários a esses lugares?”
- “Veja - respondeu a Pastorinha - , ponha-se de boa vontade: há uma única recomendação a fazer aos meus filhos: ‘Cultivem constantemente a virtude de Maria”.
- “Está bem! Parece-me ter entendido. Direi a todos as suas palavras”.
- “E mais: cuide-se do erro - que agora está em voga - de misturar os que estudam as artes humanas com aqueles que estudam as artes divinas, porque a ciência do céu não quer ser mesclada com as coisas da terra”.
Dom Bosco queria ainda falar, mas a visão desapareceu... E o sonho terminou.