No III Congresso da Delegação Argentina da Associação de Linguística e Filologia da América Latina (Alfal), as duas estudiosas apresentaram uma análise da documentação da língua «Selk'nam» realizada pela Ir. Gutiérrez, que havia compilado um vocabulário, ordenado alfabeticamente, de cerca de mil expressões, enfatizando a importância do registro para o conhecimento da linguagem feminina naquele período.
Numa cultura dominada por homens e onde a visão das mulheres era limitada ao serviço doméstico, estes documentos representam uma verdadeira riqueza. A religiosa salesiana soube integrar cultura e realidade, ciência e vida cotidiana em seu trabalho. "A documentação da Ir. Gutiérrez foi intuitiva: ela dispunha de poucas ferramentas metalinguísticas e se baseava em percepções influenciadas pela fonética da língua espanhola. Entretanto, naquela "terra dos homens", a religiosa soube criar um registro com características que o diferenciam dos registros de seus contemporâneos salesianos homens" – afirma a Dra. Nicoletti. A conclusão emerge, de fato, de uma comparação com os registros paralelos feitos naqueles anos, naquela mesma língua, pelos salesianos PP. Giovanni Zenone, Fortunato Griffa e Giuseppe Beauvoir.
Em sua pesquisa, os autores descrevem o contexto em que o registro foi elaborado, com base nas fontes do tempo e segundo uma nova visão historiográfica de gênero.
Na língua «Selk'nam», o gênero é uma categoria muito importante. Nicoletti e Malvestitti confirmam a hipótese de que a Ir. Gutiérrez notou variações de gênero nos relatos orais de seus interlocutores: "Não se trata realmente de uma variedade linguística típica de um gênero no sentido sociolinguístico, uma vez que os sinais gramaticais são obrigatórios; mas sua coleção dá acesso a essa morfologia que, em outros registros da época, é influenciada pelas expressões dos interlocutores masculinos" – explica a Dra. Malvestitti.
Segundo Nicoletti, "o interesse linguístico desenvolvido pela Irmã Gutiérrez era, aparentemente, algo extraordinário".
A participação das FMA como compiladoras foi destacada por Antonio Tonelli em sua obra “Gramática e glossário da Língua Ona-Selknám da Terra do Fogo”, publicada em 1926, onde se faz a primeira menção ao vocabulário «Quaderno de palabras onas» (Caderno das palavras onas).
Fonte: El Ciudadano Web