Há outras crianças e adolescentes: Filomena e Inocêncio, gêmeos, que a mãe insiste em dizer que têm 5 anos de idade, apesar da aparência e esperteza indicarem 10 anos. A mãe fica fiscalizando de longe o que os filhos arrecadam. A história dessa mulher, que tem dez filhos... bem, essa é outra história. Há o Edu, 17 anos, surdo e mudo de nascença. É o mais arredio e pouco interage com quem se aproxima.
Há também a Luiza, 13 anos, e a Mônica. A segunda destoa dos demais, pois já completou 21 anos e tem um bebê de nove meses, apesar de ainda brincar com o grupo. O seu trabalho é o mesmo: pedir esmolas para ajudar no sustento da família. O que eles têm em comum? A absoluta e urgente necessidade de serem vistos e acolhidos pelos órgãos governamentais competentes, pois nenhum deles sabe ler ou escrever nem sequer o nome. Carecem não apenas das moedas, que lhes são jogadas dos veículos colocando em risco suas vidas. Carecem de escola, de atenção da sociedade, de dignidade e do direito básico de serem crianças e adolescentes.
Esses adolescentes conversaram por uma hora e meia com os integrantes de uma das equipes missionárias que participaram da formação para líderes e animadores do Movimento Juvenil Salesiano (MJS), no sábado e domingo (7 e 8 de abril), no Centro de Espiritualidade Emaús, na Matola, com o P. Martín Lasarte, membro do Dicastério para as Missões da Congregação Salesiana. Ele está em Moçambique entre os dias 6 e 16 de Abril para animar diversos grupos missionários e juvenis.
No primeiro dia do encontro, P. Lasarte falou sobre a “Dimensão Missionária na Pastoral Juvenil”, para aproximadamente 50 jovens, provenientes de Goba e Namaacha (na divisa com a Suazilândia), de Moamba (na divisa com a África do Sul) e de diversas paróquias de Maputo e da Matola. O primeiro dia da formação foi destinado a palestras, discussões em grupos e ao planejamento da missão propriamente. O dia terminou com uma vigília, dirigida pelos padres Francisco Pescador, Delegado da Pastoral Juvenil, Luiz Gonzaga Piccoli, Delegado da Animação Missionária, e do próprio Martín Lasarte.
O segundo dia da formação iniciou-se com a celebração da Eucaristia, na qual houve o envio dos jovens, divididos em grupos. Cada um recebeu o terço missionário e, após o cafaé da manhã, todos saíram em missão evangelizadora em lugares no entorno da Casa São Domingos Sávio, uma das oito presenças salesianas em Moçambique.
Os missionários entraram em casas de famílias, ouviram suas histórias, suas dificuldades, seus anseios. Ao final da manhã regressaram repletos de assuntos para partilhar depois do almoço. E foram muitas as experiências marcantes, como a do grupo que esteve na Lixeira – local onde é despejado grande parte do lixo produzido em Maputo e na Matola. Ali, dezenas de pessoas remexem, sem proteção suficiente, e retiram tudo o que dá para comer ou vender. Comoveu particularmente ver um senhor idoso desmaiar de fome ao chegar àquele local.
Em tempo: quanto aos meninos de rua que ficam na EN4, a equipe assumiu o compromisso de retornar já no próximo domingo e levar uma bola, pois como toda criança de qualquer parte do mundo, eles gostam de futebol. O campo? Todos sabem onde há um espaço adequado para que essas crianças sejam, de fato, apenas crianças. O convite para conhecerem o Oratório da Matola foi feito. É aguardar que apareçam. Dom Bosco esperou e reuniu muitos rapazes.