Itália – A comunidade P. Graziano Muntoni de Sassari: uma “família” depois da prisão, para “sair melhor”

04 dezembro 2024

(ANS – Sássari) – Um lar, um projeto educacional e um trabalho de preparação para a reintegração na sociedade. A Comunidade P. Graziano Muntoni, de Sassari, acolhe cerca de quinze entre homens e mulheres, em medidas alternativas. As pessoas que chegam ao local, o fazem porque querem reparar a erros cometidos, redimir-se, retomar a vida em suas próprias mãos. Os caminhos já nascem na prisão, com a escuta e a observação, graças à visão do capelão, desde 2011, da prisão de Bancali, P. Gaetano Galia, Diretor do escritório diocesano da Pastoral Carcerária, que em 2018 fundou a comunidade para acolher os detentos que não têm a oportunidade de um lugar para passar as horas fora da prisão.

"Aqui eles têm a chance de se sentir valorizados, de se descobrir como um 'recurso'", explica o P. Galia, "e de experimentar uma vida boa e serena". Para cada um deles há um projeto educacional no qual estão incluídos o trabalho voluntário e a atividade laboral, fundamentais para a libertação da pessoa".

Tais atividades são realizadas graças à Cooperativa Salesiana “Differenze” (Diferenças), associada aos Salesianos pelo Social APS, com 19 funcionários, 14 dos quais provenientes do mundo da detenção. Entre eles encontra-se Mustafá (nome fictício), que terminou de cumprir sua pena há alguns meses. "Esse caminho me fez olhar para o futuro, me ajudou a me integrar. Eu mudei: hoje eu orgulho-me de mim mesmo. Encontrei pessoas que me mostraram o caminho certo.

Na comunidade, eles vivem como numa família, também graças à presença 24 horas das Irmãs ‘Poverelle’, de Bergamo. Um trabalho diocesano "fruto de uma união de carismas", diz ainda o P. Galia, "numa inovação profética, na qual as congregações entendem que devem unir forças". Os caminhos variam conforme a duração da sentença, mas a base é sempre o espírito de família e de ser uma comunidade "mista", onde se cresce em igualdade de gênero, interculturalidade e caráter ecumênico, onde a oração se torna uma oportunidade de diálogo e encontro.

Sílvia (nome fictício) agora vive com seus filhos e trabalha. Encontrou o P. Galia pela primeira vez há cerca de dez anos, na prisão: "Além da minha liberdade, eu havia perdido minha identidade: graças à escuta, comecei uma jornada importante". Ela chegou à Comunidade há cerca de seis anos: "Eu fazia a limpeza, ajudava a cozinhar, fazia, enfim, o que se faz numa casa normal. Para mim, foi um novo começo: a possibilidade de reconstruir relacionamentos, redescobrir a intimidade com meus filhos. Recuperei a segurança, a dignidade, a normalidade que se me haviam tirado. Ajudar as Irmãs na cozinha é uma forma de retribuir a ajuda que recebi. Ainda hoje me sinto importante lá".

Enzo e Agim (nomes fictícios), jovens detentos que cometeram crimes quando ainda menores de idade, começaram a trabalhar na digitalização do arquivo da antiga prisão no Parque Nacional Asinara há alguns anos. A Comunidade, para ambos, se tornou seu "lar". "Estou tentando retribuir a confiança que me foi dada, tornando-me útil aos outros. Cresci sem referências, aqui entendi o valor da família", diz Enzo.

"Sinto-me livre, pelo menos durante essas horas do dia", diz Agim. "Aqui não há grades ou chaves, não recebemos ordens, mas responsabilidades. Crianças de escolas e paróquias vêm nos visitar, e nós vamos até elas: se alguém vem contar sua história, significa que transformou seu sofrimento em algo bom. Fazemos com que os jovens entendam que os erros são pagos, mas que, se você quiser e graças às pessoas certas, é possível sair melhor da prisão".

A comunidade trabalha em conjunto com o Escritório de Execução Penal Externa, com o Tribunal de Vigilância de Sássari e com a prisão, não apenas com a de Bancali; além disso, faz parte da Coordenação Regional das comunidades (8, no total) envolvidas na recepção de detentos, apoiada pela Região: "Um valor agregado para ter um impacto em nível político, mas também para confrontar-se reciprocamente", diz o P. Galia. As atividades da comunidade também são garantidas pela Igreja de Sássari, graças ao 8×1000 e ao autossustento, que pode ocorrer, por exemplo, por meio da venda de produtos cultivados na horta, onde alguns dos residentes fazem suas quatro horas de trabalho voluntário todas as tardes. Outros acompanham crianças em idade escolar em visitas à fazenda educativa. Atividades destinadas a cuidar da natureza e dos animais, mas também a ensinar um trabalho, graças aos tutores e aos cursos de treinamento profissional.

Por fim, assim como Dom Bosco costumava fazer, são criados momentos e experiências de compartilhamento comunitário ao ar livre, fora da cidade; eles fazem parte do programa. Há até a perspectiva de - no próximo ano - a comunidade participar do Jubileu dos Detentos, em 14 de dezembro de 2025, em Roma. 

InfoANS

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