Itália – A odisseia dos menores “invisíveis” e a atenção salesiana aos jovens migrantes realmente capaz de salvar vidas

26 março 2024

(ANS – Roma) – Um rio de menores estrangeiros percorre todos os anos a Itália sem que praticamente ninguém se dê conta disso. Eles desembarcam desacompanhados na ilha de Lampedusa, no coração do Mediterrâneo, ou diretamente na costa da Sicília, de onde iniciam a viagem para Norte, em direção ao resto da Itália ou da Europa. E desaparecem. Em 2023, as Comunidades anfitriãs apresentaram 17.535 denúncias de pessoas desaparecidas. Cifras enormes, dramáticas: dos 17.535 só foram encontrados sãos e salvos 5.723; 2 (dois) foram recuperados mortos. Outros 11.810 estão desaparecidos. Ninguém sabe exatamente o que aconteceu com eles. Para procurar compreender, podemos bater à porta de uma das muitas organizações sem fins lucrativos que tentam cuidar deles, como o ‘Centro Dom Bosco’, de Nápoles.

O Centro faz parte da rede «Salesianos pelo Social APS» e é o principal ponto de reunião dos menores estrangeiros desacompanhados que passam pela Campânia: a Casa administra uma comunidade de acolhença imediata; uma de médio prazo; e um projeto que visa promover o social e trabalhar pela inclusão daqueles que chegam à maioridade.

O Diretor, P. Giovanni Vanni SDB, é um ponto de referência para os jovens do norte da África, Bangladesh e Paquistão. Em seis anos, ele viu chegar 799 jovens de 37 países diferentes: o mundo passa por Nápoles, mas são poucos os que parecem dar-se conta. “Muitos vêm da Tunísia, embora nos últimos dois anos a maioria tenha vindo do Egito. Eles seguem um itinerário organizado detalhadamente desde o início: partem de Tobruk, que é o porto líbio mais próximo da fronteira. Enquanto esperam pelo barco, permanecem amontoados num galpão: não sofrem violência, mas não têm liberdade para sair. A idade média caiu: há poucos dias recebi um menino de 14 anos”. Nápoles é como um grande filtro onde se reúne esta jovem humanidade perdida.

“A nossa é a primeira grande cidade que se encontra quando se chega do Sul – reflete o P. Vanni – . Quem desembarca sabe apenas que precisa seguir para o norte, pois o resto depende do boca a boca. E depois de vencer o campeonato, Nápoles se tornou ainda mais famosa, há um efeito magnético. Estes jovens tentam imediatamente juntar dinheiro para a viagem: trabalham ilegalmente, geralmente no campo, depois pegam trem ou ônibus. O problema é que ninguém parece vê-los. Se têm uma passagem, paradoxalmente, tornam-se invisíveis: viajam à noite, raramente alguém se preocupa em perguntar-lhes quem são ou para onde vão”. A estação é o ponto de chegada. Um porto terrestre.

Os menores pisam no cais e, em primeiro lugar, procuram comida. A cantina da Caritas os alimenta e os confia ao P. Vanni, que os acolhe na comunidade ‘La Zattera’. “Antes de virem até nós, porém, ‘se acampam’ por alguns dias na estação, em meio à indiferença geral. Até que, por vezes, algum policial perceba sua presença e nos ligue. Às vezes, são os próprios jovens já residentes que no-los indicam”, continua o salesiano.

Muitos se ficam e, quando atingem a maioridade, entram no projeto de integração. A obra salesiana oferece uma casa e os apoia no início do caminho da vida adulta. “Primeiro nós os ajudamos a colocar seus documentos em ordem: carteira de identidade e residência. Assim, eles podem alugar um apartamento, trabalhar e contar com assistência médica. A escola italiana é outra ferramenta fundamental de integração. E nós somos um pouco como os seus segundos pais, procuramos dar-lhes aquela educação que se baseia no incentivo, mas também no chamado a ordem! O segredo é descobrir suas inclinações e respeitá-las, talvez incluindo-os na formação profissional”.

O risco de alguém seguir o caminho errado é concreto, mas felizmente pouco frequente. “A solução trabalho-moradia ajuda: quem tem caráter sólido não encontra grandes problemas. Mas o dinheiro fácil e a vida quotidiana podem ser uma tentação para aqueles que são mais fracos ou aos quais a família de origem pede dinheiro. E estes podem acabar em círculos criminosos. Mas devo dizer que a porcentagem de ex-alunos na prisão é baixa".

Outros simplesmente desaparecem. “Não podemos segurá-los. Dizem que vão dar um passeio ou comprar cigarro. E você não os vê mais. Depois, talvez eles lhe liguem da... França - para onde vão, por exemplo, aqueles que falam francês - para lhe dizer que estão bem. Mas não podemos ter certeza; portanto, não retiramos a queixa de pessoa desaparecida". O grande buraco negro também se alimenta assim: a Itália os perde de vista e... adeus.

Todavia, não faltam hipóteses mais perturbadoras: “Há alguns anos um polícia mencionou-me um possível tráfico de órgãos – revela o P. Vanni – . Houve relatos de uma van suspeita que oferecia carona para o Norte... Mas depois não ouvi mais nada sobre isso”.

Pesadelos que ficam no fundo de uma situação difícil. “Às vezes alguém me liga da Emília ou da Lombardia. Estão no frio, sem abrigo; e não sabem o que fazer". Há quem ignore, mesmo quando não deveria. “No final de janeiro, um egípcio de 17 anos me ligou: a polícia o deteve e o levou para a Delegacia; a seguir lhe puseram um papel na mão com a escrita: ‘Vossa Senhoria é solicitado a apresentar-se aos Serviços Sociais na segunda-feira’. Mas era sábado: e ele não sabia para onde ir. Comprei uma passagem de trem e o trouxe de volta para Nápoles".

O P. Francesco Preite, Presidente de ‘Salesianos pelo Social APS’, comenta: “Os migrantes que acolhemos são jovens que tiveram menos da vida. Precisamente por isso estão no centro da nossa ação social e educativa que exige o envolvimento de uma comunidade constituída por pessoas, associações, instituições e empresas. Uma comunidade capaz de dar dignidade aos jovens e valorizar todo o potencial presente em cada um deles”.

Marco Birolini

Fonte: Avvenire

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