RD Congo – A violência no leste do país continua. Os salesianos seguem prestando serviço aos necessitados

21 fevereiro 2024

(ANS – Goma) – No território de Masisi, a poucas dezenas de quilômetros de Goma, no leste da República Democrática do Congo, os confrontos entre o exército e os rebeldes se intensificaram nos últimos dias, causando um novo e massivo êxodo de da população, causado pelo medo da violência. A situação humanitária é grave e corre o risco de piorar ainda mais. Enquanto os salesianos fazem tudo o que está ao alcance para ajudar os necessitados, agindo em todas as frentes possíveis, chegam do mundo civil apelos cada vez mais fortes a não fechar os olhos para a situação.

Em Sake, os combates se aproximaram, bombas caíram sobre a cidade e o estalar de balas pode ser ouvido. Sake está localizada a 27 quilômetros da cidade de Goma, no território de Masisi. Os líderes tradicionais e os habitantes estão profundamente desolados e contam que há quatro dias mais de 3.000 famílias já abandonaram suas casas e seus empregos. Elas perambulam sem residência fixa, sem água nem comida. Devido às condições higiênicas precárias, a cólera que afeta algumas pessoas representa um risco para todos, embora a presença da equipe de Médicos Sem Fronteiras tenha permitido, até o momento, o controle da situação.

“Ao longo da estrada Sake-Goma, em direção a Mugunga, vemos crianças, jovens e idosos, sentados e cansadas, sem saber para onde ir: são pessoas deslocadas que já haviam se estabelecido em Sake e que, com a proximidade dos confrontos, foram forçadas a deixar o local em direção a Goma. Trata-se, portanto, de um segundo êxodo de deslocados” - testemunha Pascal Bauma, do Escritório de Projetos dos salesianos de Goma.

A nova emergência soma-se a todas as anteriores: não há mais espaço nos campos de refugiados e os deslocados precisam buscar por novas alternativas.

“Ainda não podemos estimar o número de pessoas que se mudaram de Sake para Goma, uma vez que o êxodo ainda está ocorrendo e se trata de um fenômeno de massa. Milhares de famílias foram forçadas a fugir, outras permaneceram em Shasha e Sake por medo de viver como deslocados. Outros, ainda, permaneceram em Mugunga, na esperança de que a situação melhore para poder voltar para as suas casas", diz ainda Bauma.

Esta situação, já difícil e dolorosa, foi agravada pela aproximação dos combates. Felizmente não foi relatada nenhuma perda de vida e este é um mistério da Providência. Mas as bombas parecem perseguir o caminho dos fugitivos.

Em Goma, a situação anormal e as difíceis condições de vida dos deslocados se tornaram a norma, uma realidade permanente. As rotas que costumavam abastecer a cidade com alimentos e outras provisões não estão mais acessíveis: se a situação não mudar, uma grave fome atingirá todos os habitantes de Goma. Já faltam alguns gêneros alimentícios e a população vive uma situação de psicose extrema. A preocupação não se dirige às pessoas deslocadas, mas ao risco de que a cidade caia nas mãos dos rebeldes.

Entre as outras organizações, os Salesianos de Dom Bosco, organizados pela Delegação Salesiana Leste AFC, também estão ao lado dos deslocados, por meio da presença nos vários campos e atuação em vários níveis. No início, eles colaboravam com a paróquia local para apoiar a população do campo de refugiados de Kanyaruchinya, mas a saturação gradual dos campos da região levou os deslocados a criar outros campos de refugiados, entre os quais alguns que se estabeleceram no terreno das obras salesianas Don Bosco-Ngangi, com atualmente mais de 3.500 famílias e o Don Bosco Shasha que, até alguns dias atrás, abrigava 1.000 famílias e agora se esvaziou, com a chegada das milícias rebeldes.

Os salesianos ajudam os deslocados com a distribuição de alimentos e outros itens de primeira necessidade, uma vez que as pessoas deslocadas dependem essencialmente de ajuda humanitária. Em particular, é fundamental a distribuição de alimentos à base de milho, soja e sorgo para as crianças dos deslocados, enquanto esperam por uma possível refeição à noite. Outras crianças se beneficiam, de uma forma ou de outra, de outros tipos de apoio, como brincadeiras, refeições quentes, escolarização, assistência médica...

Os salesianos que atuam em Goma querem melhorar ainda mais o seu serviço visando amortecer a situação de emergência. Seus planos incluem um dispensário externo em Ngangi, a ativação de uma escola adaptada para as crianças deslocadas, que, de outra forma, teriam toda a sua educação comprometida, iniciativas análogas de formação vocacional para crianças mais crescidas, formação de assistentes sociais para os menores não acompanhados e apoio econômico para que as famílias possam iniciar pequenas atividades geradoras de renda.

Entretanto, uma solução a longo prazo para as dificuldades que milhares de famílias vêm enfrentando há anos no leste do Congo, requer uma intervenção decisiva e concreta da Comunidade Internacional. Neste sentido, o trabalho de conscientização que personalidades e esportistas famosos - como os "Leopardos" da Seleção Nacional de Futebol da República Democrática do Congo - realizaram durante a última edição da Copa Africana de Nações, para nos lembrar que, diante da indiferença de tantos no leste do Congo, há aqueles que continuam a matar. "Nenhuma vida é mais importante do que outra" – disse nas redes sociais o zagueiro do Paris Saint-Germain, Presnel Kimpembe, francês de origem congolesa.

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