‘Fratelli Tutti’ (Todos Irmãos) não representa um elemento singular no magistério do pontífice argentino, mas o fruto maduro de uma longa caminhada. "As questões relacionadas com a fraternidade e a amizade social sempre estiveram entre as minhas preocupações ... quis reunir muitas dessas intervenções, situando-as num contexto mais amplo de reflexão”, diz o Papa no prefácio.
Neste caso, um texto fundamental para a compreensão da nova encíclica e seu alcance é o "Documento sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência comum", assinado pelo Santo Padre em Abu Dhabi, junto com o Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb, em 2019, naquele que ele mesmo define como "Não um mero ato diplomático, mas uma reflexão feita em diálogo e um compromisso conjunto.
Num mundo marcado por tantos problemas e contradições - sonhos desfeitos em pedaços e projetos abandonados, cultura do descarte, falta de respeito pelos Direitos do Homem, comunicação ilusória... - juntou-se o flagelo da pandemia, que evidenciou “a incapacidade de agir em conjunto".
Mas o olhar do Papa não se detém apenas em tons escuros. A saída existe e passa pelo caminho da compaixão e da misericórdia. Passa pelo exemplo do Bom Samaritano, que “tinha certamente os seus planos para aproveitar aquele dia... Mas que, à vista do ferido e, sem o conhecer, conseguiu deixar tudo de lado, considerando-o digno de lhe dedicar seu tempo”.
Assim como o protagonista da parábola, um samaritano, não se importou com as diferenças entre ele e a vítima, um judeu, o Papa hoje convida cada um a ampliar os próprios horizontes, «dando à nossa capacidade de amar uma dimensão universal».
O convite do Papa é, portanto, que cada um faça a sua parte: «Não devemos esperar tudo daqueles que nos governam, seria infantil»; para construir um mundo aberto e marcado pela fraternidade é necessário "começar desde baixo e caso por caso, lutar pelo mais concreto e local", ciente de que "há um reconhecimento basilar e essencial: dar-se conta de quanto vale um ser humano, de quanto vale uma pessoa, sempre e em qualquer circunstância”.
A encíclica papal «Fratelli Tutti» se apresenta como um roteiro para o diálogo entre os povos e a misericórdia entre os indivíduos, para construir uma cultura de fraternidade universal entre os homens.
O texto completo da encíclica está disponível em várias línguas no site do Vaticano.