Brasil – Covid-19 chega à Amazônia, mas os índios se defendem

19 junho 2020

(ANS - Manaus) - Existem áreas do mundo que são objetivamente marginais quanto aos grandes fluxos econômicos e demográficos, mas que também entram no turbilhão dos eventos globais. Isso aconteceu para a Amazônia durante a pandemia do Covid-19: emergem assim os sutis, mas determinantes canais de interconexão, aqueles destacados na Encíclica «Laudato Si'», de 2015, e no Sínodo Pan-amazônico de 2019.

Se houve um terror que unia os observadores desde o início do contágio, esse foi o da chegada do vírus às áreas do planeta menos protegidas do ponto de vista da saúde. Um olhar particularmente preocupado foi o dirigido às minorias étnicas, já sujeitas às pressões de interesses na exploração dos recursos naturais dos seus territórios, e dos que habitam em contextos carentes de locais de tratamento, de disponibilidade de terapias complexas, capacidade suficiente para resistir à falta de produção e de transporte de bens de alimentação.

No Brasil também se temeu que as forças financeiras e políticas dominantes tomassem a pandemia como uma oportunidade para uma "solução final" para a questão dos Índios.

Enquanto o Covid-19 e a forma errada de combatê-lo transformaram, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro ou Manaus, a pandemia em hecatombe, as cidades e vilarejos à margem da selva ao contrário estão conseguindo conter o fenômeno. Testemunha-o o P. Roberto Cappelletti, salesiano, missionário em Iauareté, Estado do Amazonas, Brasil.

O primeiro fato reconfortante é que os índios conseguiram diminuir a difusão do vírus através de duas medidas: o afastamento dos focos, nas cidades, e a busca de cuidados em sua tradição ‘médica’. Mas é preciso entender como o vírus tenha chegado àquele pedaço de mundo: é que para lá chegar são necessários dias de navegação através dos rios. Um primeiro veículo foram os traficantes e aventureiros, que ali chegaram para fazer negócios e sondar da possibilidade de explorar riquezas no subsolo. Outro veículo foram as equipes de socorro enviadas pelo governo central, não sujeitas aos devidos exames de saúde. Algumas pessoas pensam que essa "leviandade" tenha sido de alguma forma favorecida pela atitude política para com aquelas populações resistentes à colonização.

Se, numa leitura superficial, o Sínodo pan-amazônico de outubro de 2019 no Vaticano não desencadeou fortes mecanismos para defender as populações e a biodiversidade contida na floresta, o desejo de resistir à pandemia foi adequadamente cultivado pela grande celebração no Vaticano. A encíclica «Laudato Si'» também desempenhou seu papel: além do apoio à questão amazônica, indicou o caminho para valorizar a diversidade cultural e a preciosidade dos povos que constituem uma parte imprescindível de uma única Humanidade.

A "lição" anunciada pelo Covid-19 deverá ser logo posta em prática a fim de evitar novas e mais letais catástrofes.

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