Tudo começou há mais de 160 anos. Alguns anos depois de um grupo de jovens, entusiastas do seu educador, Dom Bosco, se ter empenhado em dar vida a uma “Sociedade”, a “Sociedade de S. Francisco de Sales”, hoje conhecida como os Salesianos de Dom Bosco.
A sua primeira sede estável era na casita propriedade de um tal Senhor Pinardi. Não toda a casa, entendamo-nos, só um barracão baixo apoiado no muro a norte e um patiozinho de terra batida. O mundo não sabia de nada, mas ali estava a nascer uma obra hoje conhecida em todos os países do mundo.
Turim é uma cidade nobre e ordenada, mas aquele local era desgraçado, apesar de o horizonte dos Alpes próximos o enobrecer um pouco. No cimo, por baixo de uma rotunda de ligação, campeava a sinistra silhueta de uma forca que o real governo tinha sempre pronta para exemplar punição dos malfeitores e para inútil advertência dos aspirantes a tal. Aquele local chamava-se Valdocco, segundo uma etimologia que historiadores e estudiosos nunca conseguiram decifrar totalmente. Era húmido e coberto de silvas. As poucas casas em redor eram geralmente de má reputação, moinhos, um cemitério pouco distante. Os bairros elegantes e abastados eram mais em baixo, para lá de uma saída que fazia quase de vedação.
Precisamente aqui chegou aquele jovem padre que não possuía nada de bens materiais, nem sequer um hábito decente. Mas que um dia corria, gritando: «Coragem, meus filhos, temos um Oratório mais estável do que no passado; teremos igreja, sacristia, salas para as aulas, lugar para o recreio. No domingo, no domingo, iremos para o novo Oratório que é além na casa Pinardi».
Domingo era Páscoa 12 de abril de 1846.
Ao entusiasmo dos rapazes, Dom uniu a sua normalidade concreta, a sua fantástica força realizadora, como narra uma testemunha: «… durante a semana tudo se transformou. Chamaram-se operários para escavar e transportar o terreno, pedreiros para derrubar e construir muralhas, carpinteiros para fazer pequenos palcos, e não bastando o seu trabalho, nele lançaram mãos Dom Bosco, o Teólogo Carpano, os rapazes e o antigo proprietário».
Não era bonito nem se encontrava em bom estado aquele barracão! Mas Deus parece ter uma predileção pelas barracas e pelos estábulos.
Ali começou esta obra maravilhosa, pelos mais humildes e simples, seguindo o exemplo da vida do Senhor que nasceu num estábulo, na maior pobreza e só com a proteção dos braços amorosos de sua Mãe, Maria de Nazaré e de José.
Hoje como então
Nestes dias demos vida a um “sonho”, um belíssimo sonho que é muito mais do que uma remodelação de muros e lugares. Um sonho viu a luz. O sonho de fazer da casa do primeiro oratório salesiano de Valdocco, o primeiro lugar onde foram acolhidos os órfãos qua batiam à porta da cozinha de Mãe Margarida, a casa Pinardi onde nasceu a Congregação, um espaço que fala do carisma salesiano. Um lugar cheio de carisma e de vida. Uma casa onde centenas de rapazes e dezenas de salesianos viveram ao lado de Dom Bosco, criando uma família inteira que se tornou uma escola de santidade. Um espaço, um local, um pátio e uma casa onde todos são convidados a vir, a conhecer, a olhar à sua volta, a escutar, a deixar-se interpretar, porque “em Valdocco tudo fala”.
Esta casa que agora é oferecida a todos para ser visitada e conhecida acolheu centenas de rapazes e a vida que ali se desenvolve mudou a sua vida. Tornou-os “honestos cidadãos e bons cristãos”. Esta casa que hoje é oferecida a todo o mundo viu nascer, como que a pequena semente de que fala o Evangelho, a árvore frondosa, verde e saudável que é hoje a Família de Dom Bosco espalhada por todo o mundo.
Esta casa que agora se abre a todo o mundo foi testemunha de como um jovem sacerdote cheio de paixão evangelizadora e educativa entusiasmou um grupo de rapazes a continuar o seu sonho. E estes jovens foram os primeiros salesianos, deram continuidade à Congregação, sucederam a Dom Bosco e fizeram do seu sonho missionário uma realidade na Patagónia, depois em grande parte da América e hoje em 134 nações.
Nesta casa e neste pátio (que era também a horta de mãe Margarida), havia vida e alegria, e também dificuldades e fome, mas respirava-se o Céu. Nestes poucos metros quadrados está viva a recordação de 13 pessoas veneráveis, benditas e santas que cresceram e permitiram ao Espírito semear nelas a semente da “santidade vivida em Valdoco”. O nosso amado Dom Bosco era um mestre na arte de propor aos seus rapazes belíssimos ideais.
Nesta casa e neste pátio há três igrejas, cada qual maior que a outra. Cresceram em rápida sucessão, porque o número dos rapazes crescia continuamente.
Mas aqui, na minúscula Capela Pinardi, na Igreja de S. Francisco de Sales, Mãe Margarida, Domingos Sávio, Miguel Rua, Filipe Rinaldi, Luís Variara, Leonardo Murialdo e muitos outros percorreram um caminho de santidade. Por cima de tudo vigiava a sombra da bela Basílica de Maria Auxiliadora, com a proteção da Mãe do Céu.
Esta casa que hoje apresentamos a todo o mundo para ser visitada, para ser conhecida, é e será muito significativa para todos. Para os turistas que nada sabem do mundo salesiano porque verão (talvez sem compreender muito), como aqui do nada saiu algo de grande.
Para as pessoas que conhecem o carisma salesiano, que o amam, que o sentem no coração porque o tocarão com as suas mãos, e como Deus fez algo de belo para os jovens do mundo.
Desta casa, destas igrejas, deste pátio o perfume de Dom Bosco contiuará a irradiar por todo o mundo.
De todo o mundo virão a Valdocco pessoas para se encontrar com o Senhor, com a Mãe Auxiliadora, com Dom Bosco e Mãe Margarida e muitos outros, porque o espírito de Valdocco está mais vivo do que nunca.
Oferecemos muito mais do que belas paredes.
Oferecemos muito mais do que um museu.
Oferecemos muito mais do que obras de arte.
Oferecemos muito mais do que recordações históricas.
Procuramos oferecer encontros de amizade, visitas agradáveis, experiências de vida e de coração que toquem o coração de quem os busca.
De Valdocco para todo o mundo.