Uma saudação muito cordial, queridos amigos. Quero partilhar convosco um belo testemunho juvenil, com as palavras de uma rapariga venezuelana.
Quando visitei de novo a Venezuela, em fevereiro deste ano, participei no Encuentro Nacional con jóvenes, um encontro nacional com os jovens venezuelanos, que foi belo e animado. Naquele dia, uma rapariga chamada Eusibeth leu uma mensagem que havia escrito de seu próprio punho e lhe havia saído do fundo coração. Leu-a em voz alta em nome dos jovens venezuelanos, generosos, cheios de esperança e a sofrer com a situação da sua bela terra.
Dizia assim:
«Caríssimo Pe. Ángel, do fundo do coração agradecemos ao Senhor pela sua visita ao nosso País e por haver disposto de tempo para se encontrar connosco, os jovens, que sabemos como lhe são queridos. Estas minhas palavras querem exprimir o sentimento de cada um de nós que vivemos esta proposta de Santidade e que temos um coração salesiano.
Estamos todos representados. Desde os rapazes indígenas que cresceram na liberdade da jungla amazónica, aos irmãos andinos cheios de fraternidade e gentileza, aos jovens da região central que constroem com generosidade a civilização do amor, aos guaros, aos orientais, aos corianos, aos zulianos, e todos nós que temos a alegria e o orgulho de ser venezuelanos.
Estão presentes também connosco hoje todos os jovens que tiveram de deixar a sua terra, transformando um solo estrangeiro em casa, escola, paróquia e pátio.
Se alguma coisa nos carateriza como jovens, além das nossas peculiares personalidades e dos diversos modos de pensar, é que estamos unidos por uma missão: «Ir para o paraíso e levar connosco o maior número de pessoas que pudermos», como dizia o nosso amado pai Dom Bosco.
Não é segredo para ninguém aquilo que diariamente temos de viver: uma realidade em que somos calcados aos pés pelas botas ferradas deste mundo que quer impedir-nos de sonhar o impossível e de apostar nos grandes ideais.
A espiritualidade salesiana permitiu-nos caminhar na esperança, renovando a nossa fé, mesmo quando por vezes tudo parece incerto e irrealizável.
Nós jovens venezuelanos somos corajosos profetas e, apesar do medo de sermos julgados ou agredidos, não permitiremos que a nossa voz seja abafada.
Somos jovens que acordam todas as manhãs, sem nada que comer, para ir à escola ou à universidade, e que perseguem com tenacidade e fadiga a tarefa de conquistar uma uma formação integral, com muitos quilómetros nas pernas, empenhados na educação, porque este é o melhor instrumento de que dispomos para mudar a nossa nação e o mundo.
Somos jovens que, embora obrigados a trabalhar por necessidade, pondo de parte o que amam e sacrificando os seus sonhos, ousam ser uma luz no meio de um povo tão ferido e sedento de Jesus. Somos frágeis também nós e amedrontados com este nosso mundo a cair aos pedaços e sobre o qual gostaríamos de passar uma esponja, mas o olhar amoroso de Deus e a proteção materna de Maria convidam-nos a continuar a pôr a nossa vida ao serviço dos outros, sobretudo dos rapazes e das raparigas mais pobres e indefesos. Ninguém pode voltar para trás, mas todos podem seguir em frente.
Ser jovens salesianos ajuda-nos a responder como discípulos fiéis e corajosos a tudo aquilo que estamos a viver. Somos verdadeiros chamos, “magos”, autênticos, audazes, santos de hoje: de jeans, de ténis e t-shirt, como diz o Papa Francisco.
Caríssimo padre Ángel e todos os membros da nossa família salesiana: a vossa presença dá-nos coragem para fazer a diferença, para continuar a lutar por uma Venezuela justa e santa, apostando tudo no bem dos jovens. Não deixeis de nos acompanhar e de acreditar em nós. Obrigado por estardes aqui!»
Assim termina este afetuoso testemunho juvenil. Escutar Eusibeth diante de 800 jovens num quente serão de Caracas fez-me pensar em como e quanto Dom Bosco acreditava nos seus rapazes, nas suas capacidades, nas suas potencialidades, na bondade que há no coração de cada jovem.
E o que acontecia com Dom Bosco há 160 anos, continua a contecer hoje em toda a parte do mundo. Não é verdade que os jovens de hoje não têm bom coração. Certamente há jovens que se encontram em caminhos de confusão, de escravidão, de morte já em vida… Jovens que precisam mesmo de ser “salvos”.
Mas há muitos outros, milhões e milhões (e os jvovens que encontrei com Eusibeth são a prova disso) que acreditam na vida, na beleza do Amor, na beleza da partilha e na plenitude de significado que Deus lhes dá. Sabem que não somos derrotados quando perdemos, mas quando desistimos.
É possível ainda hoje pensar e falar assim? Eu afirmo que é possível.
Continuem sem medo a fazer o bem, meus bons amigos, e que o nosso Deus os cumule da sua paz.