No convite para a reunião, os bispos foram convidados a indicar quais os problemas que consideram mais importantes e urgentes. Quais Vossa Eminência indicou?
Na minha opinião, a questão não-eclesial mais importante sobre a qual devemos trabalhar juntos é o fenômeno da migração. Há algum tempo pensei em organizar um encontro entre os bispos dos países africanos de onde partem os migrantes e os bispos dos países europeus de onde chegam os migrantes. O encontro se realizou faz algumas semanas: infelizmente, só um bispo europeu - da Espanha - participou... O Mediterrâneo não pode continuar a ser uma fronteira de fome, sofrimento, desigualdade, angústia, morte. Mas, atenção: eu defino migração um "fenômeno", não um "problema".
E por que razão?
As migrações não são um problema: são a consequência de... muitos problemas – pobreza, guerras, fome, mudanças climáticas, um sistema econômico que - como diz o Papa Francisco - esmaga povos inteiros – : estes são os problemas que dão origem ao fenômeno da migração. Portanto, eu acho que em Bári, ao examiná-lo, teremos necessariamente de enfrentar as causas, raciocinar juntos, buscar soluções.
Tem alguma proposta que gostaria de apresentar aos seus colegas Bispos?
Sim, teria: e é uma proposta um tanto particular. Na minha opinião já é tempo de dedicar um Sínodo às Migrações, que constituem um fenômeno mundial. De fato, não são só os milhares de migrantes que vêm para a Europa: na África há milhões que se deslocam de um país para um outro do Continente. No Oriente Médio, o Líbano, a Jordânia e a Turquia estão a acolher milhões de refugiados. Na América do Sul o número de migrantes é impressionante. Toda a Igreja Católica deveria, pois, na minha opinião, refletir sobre esta questão. E fazê-lo «cum Petro» e «sub Petro»!
Segundo V. Em.cia, qual a questão intraeclesial mais relevante e urgente a ser abordada na reunião de Bári?
Penso que é a falta de compaixão demonstrada por muitos cristãos em relação aos seus irmãos e irmãs mais frágeis e vulneráveis, inclusive os migrantes. Sinto muito quando, na Espanha, algumas pessoas, depois de ter participado da Concelebração Eucarística, me pedem – em tom ‘venenoso’ – para não mandar mais migrantes do Marrocos...! Eu respondo - explicando - que as pessoas têm o direito de poder-se deslocar, têm o direito de o fazer; e não sou eu que as... mando. Depois me pergunto: «Como é possível ir à Santa Missa e não sentir quase nenhuma compaixão por homens, mulheres e crianças que estão a sofrer...?».
Por Cristiana Uguccioni.
Fonte: Vatican Insider - https://www.lastampa.it