O senhor é responsável por um centro de acolhimento?
Sim, eu sou o diretor do Refúgio Salesiano de Tijuana. Temos um centro comum e pudemos abrir outros abrigos de emergência. Como vocês sabem, este fenômeno da caravana é muito especial: cerca de 500 pessoas já chegaram e queremos oferecer-lhes um serviço digno.
Nos próximos dias, esses 500 migrantes talvez se tornem milhares. Como vocês estão se preparando?
Estamos fazendo tudo o que podemos, começamos a nos preparar desde o momento em que essas pessoas entraram no México. Mas, nessas situações, é difícil prever tudo porque, ao contrário das outras cidades, nas quais eles estavam em trânsito, aqui o percurso da caravana para os Estados Unidos não pode avançar antes de três meses, segundo as últimas leis norte-americanas.
De quantos dias é a autonomia de vocês?
Não posso dizer com precisão, mas as instituições e a Igreja lançaram um apelo à solidariedade. Aqui oferecemos, todos os dias, mais de 800 cafés da manhã a pessoas em situações de rua e a migrantes. Neste caso, no entanto, deveríamos oferecer as três refeições diárias. Algum tempo atrás, tivemos uma situação semelhante com a chegada maciça de haitianos e, graças a Deus, não faltou alimento.
Quantos haitianos ainda estão em Tijuana?
Cerca de 3.000 pessoas ainda permaneceram, estão regularizando suas situações e se integraram bem na cidade.
Como vocês conseguirão servir as pessoas que já atendem diariamente e esse novo grupo que está chegando?
Hoje de manhã já oferecemos cerca de 1200 cafés da manhã e estamos nos preparando para continuar nesse ritmo. Já temos cerca de 200 voluntários, temos suprimentos para cerca de quatro semanas e solicitamos auxílio de instituições para podermos continuar com nossos serviços. Estamos pedindo qualquer tipo de ajuda do governo, mas eles nunca fizeram isso antes e acho não o farão agora.
Quais são os cenários possíveis para esse fenômeno?
Cada fenômeno é muito variado... As embaixadas da Guatemala e de Honduras ofereceram a possibilidade de conceder certidões de nascimento e documentos oficiais que permitiriam que os migrantes trabalhassem; a cidade e as empresas poderiam ajudar de alguma maneira, como já foi feito com os haitianos.
Alguns dizem que os migrantes tiveram problemas com a polícia.
Há de tudo, não gosto de generalizar dizendo que trata-se de uma caravana de malfeitores. Os migrantes são pessoas em situação especial, talvez estejam passando crises e não entendemos as suas reações. Há pessoas que, quando chegaram à fronteira, quiseram escalar o muro e houve situações de tensão.
O que você acha do fato de que, desde que esta caravana chegou ao México, encontrou muitas mensagens de desprezo?
Sim, esta situação de desprezo é dolorosa, porque acima de tudo de tudo são pessoas, e sabemos que o nosso é um país de emigrantes. Tijuana é uma cidade que sempre acolheu pessoas; Espero que não mude nesse caso.