Certo dia o fornecimento de energia foi suspenso, algumas garotinhas estão cantando no oratório; o estéreo apaga de repente, mas continuam a cantar como se não houvesse nada. Parecia uma brincadeira. É preciso cantar mesmo sem música, pensava.
Cerca de 250 crianças vêm para as atividades de férias, e uns trinta animadores; todos cristãos. Muitos vêm das zonas de guerra: Ohms, Alepo, Damasco. Ouves repetir com frequência: “A minha casa não existe mais, caiu uma bomba em cima. Por sorte, já tínhamos saído”.
Nestes anos de guerra, em Alepo, repete-se muito que “pelo que vi, que vivi, se não tivesse muita confiança em Deus, eu me teria suicidado”.
A Fé é fundamental. Pergunto-me frequentemente o que posso fazer aqui, com quatro palavras de árabe que conheço e poucas capacidades. Fé, devo ter Fé, repito para mim mesma. Se Deus quis que estivesse aqui, certamente há um motivo... Devo aprender da Fé e da Esperança das pessoas que encontro! Quando tenho mais necessidade disso, chega um “obrigado pela tua presença”, que me faz sentir retribuída.
“Pareces uma de nós!”, dizem-me. A cor escura e os cabelos negros e movimentados ajudam-me a criar empatia com as pessoas. Divirto-me a dizer “Ana surija halla!”, “Sou síria, agora!”.
Para alguns jovens, para os quais se preparara a experiência de um mês no oratório salesiano de Madri, foi recusado o visto para a Espanha. São muito melhores do que eu em não demonstrar desilusão: “malesh”, tudo bem! “Por que tu podes vir aqui e nós não podemos ir à Europa?”. Eu também sempre me pergunto...
Aqui vive um Salesiano italiano, P. Luciano, há quase 50 anos no Oriente Médio; e há também um Salesiano tirocinante, Mhran, sírio, mas que fala italiano perfeitamente; e nos entendemos também com Jhonny e Georgette, Salesianos Cooperadores. O resto é feito com um pouco de inglês, alguma frase minha estropiada de árabe e a beleza de falar com os olhos, com os gestos e com o coração.
Não é preciso falar a mesma língua para entender-se.