Por Hélène Boissière Mabille
Por que juntar jovens de diferentes crenças?
O projeto do videoclipe “Misericórdia” nasceu da constatação de que há um corte profundo entre aquilo que se diz e aquilo que vejo. De um lado, as opiniões reportadas pela mídia, que falam de tensões inter-religiosas, a impelir ao extremismo; do outro, a minha vida cotidiana, em Argenteuil, dedicada aos jovens numa paróquia e numa escola particular, onde 40% das crianças/adolescentes provêm de famílias muçulmanas; e onde descobri sentido de alteridade, e de unidade na diversidade.
Assim decidi encorajar e fortalecer tudo quanto já existia, fazendo o videoclipe com crianças/adolescentes pertencentes às três religiões monoteístas e com as ‘sem religião’. Trata-se não só de fortalecer a união delas entre si mas também de torná-las “embaixadoras”...
Mas o tema da Misericórdia não é genuinamente cristão?
Certamente não! O paradoxo é que também aqueles que matam em nome de Alá parecem ter-se esquecido de que o termo “Misericordioso” está nas primeiras palavras do Alcorão: “Alá, o misericordiosíssimo”. Misericórdia é também uma palavra chave no judaísmo, do qual provém a sua raiz. Enfim, significa “seio materno”, “matriz”, isto é, amor incondicionado, benevolência, que diz respeito também à luta daqueles que não se reconhecem em nenhuma religião.
Não foi por acaso que o Papa Francisco – que muito bem sabe ler a atualidade – proclamou um Ano Santo da Misericórdia.
Como lhe veio a ideia de fazer um videoclipe?
A minha experiência de musicista me levou naturalmente a buscar um projeto musical, que, por isso, reunisse tanto uma resposta aos atentados quanto fizesse saborear às crianças e às suas famílias o viver e o cantar juntos, o criar um produto que transmitisse ideias, e que fosse a um só tempo, um testemunho... E isto é, mais do que nunca, possível, ao contrário do que se ouve proclamar na TV.
Cada verso foi escrito por um jovem de crença diferente. O Coro repete as palavras “Misericórdia, coração de Pai, coração de Mãe”. Assim o videoclipe dá uma ideia de como a “Misericórdia” ressoa nas convicções de cada um.