Esses episódios de violência são fenômenos novos?
Não, não creio. No início dos anos 2000, após o violento confronto entre gangues, ocorrido numa tarde de sábado, no coração do shopping "La Défense", em Paris, publiquei um artigo intitulado "A guerra dos botões, versão do ano 2000" (fazendo referência ao livro de Louis Pergaud de 1912, NdT). O fato de gangues de adolescentes tentarem se apoderar de seu território e atacar territórios vizinhos, na verdade já existia na época de Pergaud!
A novidade não são os confrontos, mas a explosão de violência que evolui até à tentativa de homicídio. A novidade é a falta de integração de limites nesses adolescentes, incapazes de controlar sua agressividade. E os adultos não deveriam ser responsabilizados por isso? Quem é que deveria transmitir esses limites senão aqueles que são chamados a exercer uma função educativa?
Talvez devamos também enfatizar o papel das "telas", verdadeiras destruidoras de empatia. Porque o problema com todos esses jogos e vídeos baseados na violência é que não vemos nem o sofrimento da vítima, nem de quem está perto dela.
Por fim, devemos lembrar a importância do grupo: o que importa, para o adolescente, é encontrar seu lugar na gangue, sem nenhuma consideração pela vítima.
Então, em sua opinião, o mais grave é a falta de empatia?
O que caracteriza as imagens insuportáveis do ataque a Yuriy é a total falta de empatia desses jovens em relação à vítima, deitada no chão e cruelmente golpeada.
O Dr. Berger, grande nome da psiquiatria infantil, nos lembra que adolescentes ultraviolentos costumam ser vítimas de abusos familiares, sem que as pessoas ao seu redor reajam.
É paradoxal observar que a nossa sociedade atual simpatiza com o sofrimento das jovens vítimas e exige pesadas condenações para os jovens algozes, quando, obviamente, nem todas as vítimas se tornam algozes; infelizmente um bom número de jovens executores são, na verdade, ex-vítimas.
Quão claro fica, então, o fato de que levar em consideração as palavras das vítimas, desde a infância, possa ser um ponto forte na prevenção da violência entre adolescentes! Recordemos o encontro de Dom Bosco com um garoto buliçoso da periferia de Turim, Miguel Magone, o qual se autoproclamava... general em seu território: Dom Bosco soube discernir o sofrimento da criança abandonada por trás do rosto daquele adolescente provocador. E o acolheu em sua obra, obra que ele fundara em Turim para todos aqueles adolescentes desorientados.