República Tcheca – "É importante divulgar a questão do abuso: não vê-la como um tabu nem ter medo de enfrentá-la"

(ANS - Brno) – Continua a reflexão do P. Vojta Sivek, Vigário e Delegado para a Pastoral Juvenil da Inspetoria da República Tcheca (CEP), sobre a delicada questão dos abusos sexuais nas realidades eclesiásticas. O foco desta segunda e última parte da entrevista está em como a Igreja, segundo ele, deve abordar este terrível mal, quando ele aparece.

O senhor acredita que o ambiente da Igreja possa ser, de alguma forma, mais sujeito a abusos sexuais do que outros?

O abuso sexual prospera onde as pessoas têm um poder do qual não precisam prestar contas; onde há pouco espaço para admitir falhas e erros; onde é difícil trabalhar com os outros e em equipe. Onde quer que a Igreja tenha essas características, ela também está mais propensa ao abuso sexual. É preciso perceber que a Igreja não é um todo homogêneo; existem diferentes ambientes, diversas culturas e subculturas. Em algumas realidades a situação é pior, em outras, melhor. Acho importante buscar maneiras de continuar a desenvolver um ambiente e uma cultura de relacionamento e comunicação dentro da Igreja.

Como a Igreja pode ser exemplo e mostrar caminhos para prevenir, enfrentar e remediar os abusos?

Como mencionei antes, as medidas necessárias na Igreja não são diferentes das medidas necessárias em outros ambientes. Assim como acontece em outras áreas da sociedade, o que ajuda é a transparência, o trabalho em equipe, a abertura para ser visto no trabalho e deixar-se acompanhar por outros no crescimento – seja como orientador, seja como guia espiritual ou superior. É importante enfrentar o assunto do abuso sem olhar para ele como um tabu e não ter medo de o abordar diretamente.

Eu entendo que isto possa ser muito difícil, uma vez que se trata de um assunto que envolve muita dor e vergonha. Mas acredito também que a Igreja pode oferecer uma grande contribuição: o perdão, a reconciliação e a cura que Cristo originou. Este é um enorme dom que a Igreja pode proporcionar e o motivo pelo qual Jesus a fundou.

No entanto, se alguém deseja vivenciar a misericórdia de Deus e oferecê-la às pessoas ao seu redor, deve, em primeiro lugar, admitir, sem reservas ou desculpas, que cometeu erros, que é pecador. Só então é possível experimentar a bondade de Deus. Admitir a própria fragilidade e aceitar que se é pecador ou pecadora, sem apelar às desculpas, é o que chamamos humildade. Acredito que precisamos de mais humildade para podermos ser um exemplo na Igreja.

Como a Igreja pode se tornar mais humilde?

Devemos ter a coragem de reconhecer o pecado e não ter medo de admitir que pecados como o abuso sexual também podem ocorrer na Igreja. O próprio Jesus nos incentiva a não ter medo disso, quando diz que não veio para chamar os justos, mas os pecadores. Além disso, a humildade gera uma compreensão da situação e do sofrimento das vítimas. Queremos humildemente pedir desculpas para que isto possa ajudar tanto as vítimas quanto a nós; desta maneira, cria-se um espaço para a reconciliação, para a ação misericordiosa de Deus. Isto também se aplica a mim. Quanto mais poder tenho, mais preciso de humildade, porque à medida em que o poder cresce, também aumenta a tentação de evitar olhar para o meu ‘ser-pecador’ e, talvez, de me esconder atrás da nobreza de meu ofício. Às vezes, na Igreja, esmagamos a humildade lisonjeando as autoridades; às vezes o fazemos muito bem: é o que o Papa Francisco chama de clericalismo.

Jan Kvapil

Outras fontes úteis

Entrevista original (em tcheco)

Seção digital - Prevenir para proteger menores (Inspetoria CEP)

Salvaguarda de crianças, jovens e adultos em risco (Inspetoria da Grã-Bretanha - GBR)

Proteção de menores (Inspetoria da Espanha-São Tiago Maior - SSM)

Criação de ambientes seguros (Inspetoria dos Estados Unidos e Canadá - SUE)

Proteção de Menores (Inspetoria Austrália-Pacífico- AUL)

Revisão de Práticas para a Proteção de Crianças (Inspetoria da Irlanda - IRL)

InfoANS

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