Quais são as tuas ideias-chave para os próximos seis anos?
Podem imaginar que ainda precisamos aprofundar o que queremos projetar para os próximos seis anos, mas posso lhes dizer que nossos esforços serão nesta direção:
→ Devemos continuar a crescer na identidade carismática, ou seja, o que significa hoje, no século XXI, ser Salesianos de Dom Bosco como ele queria que fôssemos, e estar conscientes da prioridade que temos em nossa vocação de evangelizadores dos jovens, educadores deles junto com suas famílias, e testemunhas do amor de Deus por eles.
→ Somos chamados agora, mais do que nunca, a viver afetiva e efetivamente entre os jovens. Ou seja, retornar sempre mais a Dom Bosco. A isso eu chamo de “sacramento salesiano” da presença.
→ A formação do salesiano e do jovem salesiano de que o mundo e a Igreja precisam hoje, onde quer que estejamos, é uma prioridade para nós. Não serve a ninguém um genericismo que mate a parte mais essencial do nosso carisma.
→ Sonho que, quando ouvir a palavra Salesiano proferida hoje no mundo e em nossas sociedades, o povo as muitas pessoas de bem entenderão que se fala dos filhos de Dom Bosco que existem e vivem para os jovens, que os amam ‘loucamente’, como Deus ama seus filhos e filhas, e que fazem escolhas ousadas e radicais por eles.
→ Esta é a hora da generosidade em nossa Congregação entendida como disponibilidade de todos os Salesianos do mundo, os 14.500 que somos, devendo ajudar-se em qualquer parte do mundo, em qualquer país e nação. Não somos Salesianos para uma terra ou região. Somos Salesianos de Dom Bosco, e a missão e os jovens e as jovens que não têm oportunidades, os descartados, os mais frágeis podem estar a nos esperar e precisando de nós nos mais diversos lugares. Precisamos alcançá-los e, para isso, chamaremos os salesianos de um país e de outro para continuar a ampliar os horizontes e as novas fronteiras da missão salesiana.
→ Enfim, pretendemos continuar a crescer no que hoje já é uma grande força e um verdadeiro dom. Trata-se da realidade da Família Salesiana no mundo e a missão educativa e evangelizadora que compartilhamos com centenas de milhares de leigos nos países aos quais já me referi. Isto continua a ser uma força e um desafio ao mesmo tempo.
Não sei se tiveste a oportunidade de falar com o Papa após a tua reeleição. Que te disse?
Não. Não falei como Santo Padre depois da minha eleição, mas falei com ele na sexta-feira anterior. Primeiramente, enviou-me uma mensagem para todos os capitulares e, depois, falamos por telefone quando ele mesmo me chamou. Podem imaginar o que significou para um Capítulo-Geral como o nosso que o Santo Padre nos chamasse para dizer-nos que estava nos enviando algo importante para ele e para nós. Uma mensagem que não tem nada de protocolar e contém um programa inteiro para nós. Uma mensagem magnífica que já estamos expressando nas linhas de governo dos próximos anos. Sem dúvida, temos um Papa que ama a todos na Igreja, e ama todo homem e mulher de boa vontade. E também nós, como Congregação e Família Salesiana, nos sentimos muito queridos pelo Santo Padre. Para mim é mais do que evidente que vivemos um tempo de Graça na Igreja em meio a tanta dor e tanta fragilidade da própria Igreja.
Antes do coronavírus: falava-se muito sobre a prevenção dos abusos e a mulher. Como os Salesianos enfrentam as duas situações? Que medidas os Salesianos implementaram nos dois campos?
É certamente uma das páginas mais tristes da história da Igreja. E é a maior tragédia e o maior dano que um Salesiano pode causar, pois prometemos, como Dom Bosco, que nossa vida seria para os jovens.
Posso assegurar-lhe que, durante muitos anos (posso falar com vocês por minha experiência como inspetor desde 2000), estamos consolidando e construindo um código ético em todas as partes do mundo em que nos encontramos.
E acrescento mais uma nuance: por muito tempo, e muito mais forte na sensibilidade deste Capítulo Geral, falamos, em sintonia com o Sínodo dos Bispos sobre os jovens e em comunhão com a exortação apostólica do Papa sobre esse assunto, sobre todos os tipos de abuso. Eu pedi a nossa Congregação a opção radical, preferencial, pessoal, institucional e estrutural em favor dos rapazes e moças mais necessitados, pobres e excluídos. E também a opção prioritária e radical na defesa dos rapazes e moças, jovens vítimas de qualquer abuso, também o abuso sexual, mas não só: o abuso de violência, de falta de justiça, abuso de poder... Tão e tão terrível que denigre e destrói.
Mas permitam-me apenas mais um ponto crítico sobre esse tópico tão doloroso. Formulo-o numa pergunta: “Quando teremos, como sociedade, a honradez e a honestidade de dizer que temos um sério problema social no que se refere aos abusos sexuais de menores que não se enfrenta? Quando diremos socialmente e reconheceremos que a grande maioria dessas situações ocorre em ambientes familiares, com os pais ou com outros membros da família? Quando teremos coragem social para estender a denúncia a quantas instituições e grupos estão envolvidos?
Sinceramente, acredito ser um problema que não é tratado socialmente até as últimas consequências.
Por fim, em relação às mulheres, direi duas coisas: a primeira é que Dom Bosco sempre teve no Oratório Valdocco a figura da mãe, da mãe para seus filhos. A primeira foi sua mãe, mãe Margarita, sucedida por outras mães de Salesianos (por exemplo, do Beato Miguel Rua, se primeiro sucessor) e até mesmo a mãe do Bispo Dom Gastaldi.
A segunda é a seguinte: por muitos anos o Magistério da Congregação Salesiana, através dos Capítulos Gerais, solicitou que as mulheres tivessem uma responsabilidade educativa nas presenças salesianas. Houve uma reflexão abundante, que destacou claramente o valor e a importância da presença das mulheres nos trabalhos educativos salesianos.