Augusta é uma delas. Se em menina de nove anos devia prostituir-se pelas ruas de Freetown, capital da Serra Leoa, África Ocidental, aos 19, era uma jovem mulher que, de cabeça erguida, se apresentava à Comissão Europeia para a Proteção das Crianças, em Bruxelas (Bélgica), e fez o Governo da Serra Leoa reconhecer oficialmente a existência da exploração infantil e, importante, penalizá-la.
Tudo aconteceu porque, uma noite, Augusta foi com uma amiga para a Van salesiana tomar um café.
De fato, todas as noites, os salesianos estacionam sua van nos arredores de Freetown, numa área onde geralmente se encontram meninos e meninas que se vendem para sobreviver. Esses filhos de Dom Bosco oferecem-lhes algo para comer, perguntam se precisam de assistência médica… E quando precisam proporcionam-lhes também ajuda legal.
Depois de conhecer os salesianos, Augusta decidiu fazer uma mudança radical em sua vida: resolveu deixar a rua, seus amigos, e desistir da única maneira que conhecia de ganhar dinheiro. Iniciou assim um processo de reinserção social: retomou os estudos e começou, com a ajuda de profissionais, a curar as profundas feridas psíquicas e espirituais que lhe tinham marcado a alma.
Essa jovem mulher não tem um perfil de mídia. Não parece uma ‘star’. Nem é uma ‘influencer’ de redes sociais. É uma jovem mulher de sorriso abertamente brilhante: por trás da aparência de uma garota normal, esconde-se uma heroína do nosso tempo. Graças à corajosa decisão de contar sua história e de denunciar a violação de seus direitos, ela tem sido a força motriz de reformas que salvaram milhares de outras crianças abusadas por adultos e vítimas de tráfico sexual. Mais: não é capaz de discursos brilhantes ou de gestos grandiloquentes: fala com simplicidade, mas suas palavras vão ao fundo do coração dos ouvintes.
Augusta esteve em Roma para visitar o Papa. Encontrou-se com o Superior dos salesianos, P. Ángel Fernández Artime, que lhe ofereceu uma estatueta de Dom Bosco. A ele confiou o seu sonho: abrir um pequeno restaurante em Freetown e nele colocar a estatueta de Dom Bosco. É que, já desde 2017, junto com outras garotas que tinham deixado a rua, levava à frente um pequeno negócio (um bufê a domicílio).
Entretanto, as estrelas, como os sonhos, têm vida curta.
Em 6 de junho, por causa do coronavírus, a aids, que em criança a havia marcado pelas ruas da cidade, levou-a aos 23 anos, deixando em todos nós o gosto amargo da derrota e a sensação de uma obra inacabada...
A estrela Augusta caiu. E, de acordo com a tradição, eu também expresso um desejo, que desejo compartilhar: gostaria que nascessem tantas garotas corajosas e autênticas como Augusta, para que elas nos lembrem que é possível quebrar as correntes que aprisionam os mais deserdados da nossa sociedade, a fim de que possamos varrer – para longe! – leis injustas e lutar pela justiça em nossas vidas diárias, com a única garantia de que Deus combate ao nosso lado.
Porque sabemos para onde vão as estrelas cadentes como Augusta: às mãos acolhedoras de Deus!
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