O grito dos pobres e da terra
No Ângelus de domingo passado, o Papa Francisco disse que "o grito dos pobres, junto com o grito da terra, chegou da Amazônia até nós. Em minha alma ficou-me impressa a força de algumas intervenções de Padres Sinodais. Eles nos trouxeram o grito dos pobres e da terra. Sou também muito grato pela riqueza do trabalho realizado no círculo menor a que eu pertencia. Foi edificante a palavra do Papa Francisco em alguns momentos, porque nos levou a ocupar-nos do essencial.
Uma aproximação dos dois últimos Sínodos
É natural para mim observar os dois Sínodos que vivi: o Sínodo sobre os Jovens e, este ano, o Sínodo sobre a Amazônia. O primeiro era "ordinário"; o segundo, "especial". No primeiro fui Secretário Especial, portanto comprometido desde o início do processo, e protagonista da redação do Documento Final. No segundo era um "simples" Padre Sinodal. No primeiro havia os Jovens ouvintes e sua voz foi forte, viva, propositiva. No segundo estavam os ouvintes indígenas, mulheres, líderes de comunidade, trazendo consigo a concretude da sua experiência de Fé.
Fui pouco a pouco percebendo com crescente intensidade que os problemas de todos são os problemas de cada um: e que cada pequena parte da Igreja é um fragmento que nos remete ao todo.
Os dois pulmões deste Sínodo
Como no corpo temos dois pulmões para respirar, também no Sínodo da Amazônia tivemos dois pulmões: o primeiro se chama 'Evangelii Gaudium', documento que marca a virada missionária que o Papa Francisco está a imprimir a toda a vida da Igreja; trata-se de compreender que a missão é a vida da Igreja, e que a própria Igreja existe para evangelizar. Osegundo pulmão chama-se «Laudato Si'». E sabemos que esse Documento procura nos conscientizar a todos acerca da situação verdadeiramente crítica da nossa mãe terra nestes primeiros decênios do Terceiro Milênio.
Rumo a uma "conversão integral"
Voltei para casa com a convicção de que, antes de pegar no Documento final ‘deste’ Sínodo sobre a Amazônia, devo reler com atenção a «Evangelii Gaudium» e a «Laudato si'». Só assim podemos ter realmente um quadro de referência que nos ajude a tornar praticável uma "conversão integral", isto é, que toca todos os aspectos da nossa humanidade. Todos. Sem exceção.
Por outro lado, o Documento Final do Sínodo parte realmente do conceito de "conversão integral". Só depois o desenvolve nos quatro capítulos seguintes, i. e., em nível pastoral, cultural, ecológico, sinodal.
Gerar processos mais que ocupar espaços
O Sínodo, sabemos, é um "caminhar juntos", não um "decidir juntos". Depois o Papa decide, com plena liberdade, quais deles se devam assumir, e indica como proceder, concluindo o discernimento e relançando-o do ponto de vista operativo.
Saber isso é importante para superar as polêmicas estéreis que enchem as manchetes dos jornais. Para além das propostas e sugestões contidas no Documento Final, é importante reconhecer que este Sínodo ainda não se concluiu. Mas inaugurou processos que devem necessariamente continuar.
A terra prometida está sempre diante de nós, e só caminhando juntos se pode alcançar. Este pensamento fará bem também para a Família Salesiana, chamada a assumir a sinodalidade e o discernimento como estilo concreto de viver e trabalhar juntos nos próximos anos.
A reflexão do P. Sala está, na sua totalidade, disponível na versão italiana do aprofundamento