Podemos cair no extremo e pensar que a amizade existe apenas no encontro pessoal, o que significaria desprezar as tecnologias e as oportunidades de comunicação que elas trazem; ou, ao contrário, acreditar que as telas podem alcançar e ultrapassar os laços com o outro. Há pois que encontrar um compromisso com a rede sem ser atropelado por ela.
A tecnologia e as redes sociais revolucionaram a maneira de como nos comunicamos e estão transformando a cultura. Então pergunta-se: o jeito de como entendemos a amizade, também está mudando?
As redes representam maneiras de se conectar e, vista por este ângulo, a amizade, essencialmente, não mudou: mudou apenas a dinâmica.
Entretanto, o encontro pessoal é insubstituível.
Quando falamos de amizade, entendemos uma relação de afeto, cumplicidade, respeito, confiança mútua. Quando as distâncias não permitem o encontro, as redes sociais podem aproximar. Antigamente existiam as cartas; hoje temos o WhatsApp. Talvez a quantidade de contatos virtuais que fazemos diariamente reduza o espaço para o diálogo face a face. Talvez, quando nos concentremos na quantidade, percamos na qualidade. No entanto, o problema não são as redes em si, mas o uso que fazemos delas. De tanto olhar para as telas, podemos começar a ter dificuldades em olhar nos olhos, fator essencial para uma amizade.
No Evangelho de João (15,13) encontramos a famosa frase "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos". Oferecer a própria vida, dar-se a si mesmo, doar o próprio tempo, compartilhar a vida cotidiana, onde encontramos algo mais que uma simples lista de alegrias, tristezas, triunfos e derrotas, encontrar-se com o outro, em sua singularidade e complexidade: quando nos abrimos e compartilhamos com os outros, é então que estamos cultivando a amizade.
A amizade é um dom precioso do qual nem Jesus quis se privar: "Vós sereis meus amigos" (Jo 15,14). Dom Bosco afirmava o valor dos laços sadios entre seus meninos, que se consideravam irmãos do mesmo Pai.
A questão é: como sermos amigos na era das redes?
Nas redes participamos de conversas públicas, damos "like" em alguns ‘posts’, enquanto julgamos outros negativamente. Nossas opiniões aparecem publicamente abertas. Esta pode ser uma fonte de conflito e gerar problemas com amigos da vida real. Podem ocorrer incompreensões, mal-entendidos...
É preciso perguntar-se: em que se apoia a nossa amizade? Estamos abertos para as diferenças?
Há pessoas que, mesmo sozinhas, se sentem acompanhadas por seus amigos virtuais. Este tipo de vínculo tem uma entidade própria. Mas há que cuidar por que o mundo virtual não nos leve a viver uma vida... virtual.