Marrocos - Migrantes, dom Cristóbal López Romero, SDB: "Indignados e tristes com a atitude da Europa"

(ANS - Tânger) - Migrações, beatificação dos mártires da Argélia, o papel da Igreja e prevenção de abusos: dom Cristóbal López Romero, SDB, arcebispo de Rabat, apresenta os temas sobre os quais a assembléia de bispos da Região Norte Africana debateu.

O que foi discutido sobre as migrações?

Nós, bispos da África do Norte, queremos chamar a atenção para o sofrimento dos migrantes: o caminho para a Europa é marcado por aflições, abusos, violência de todos os tipos. É um calvário para milhares de pessoas. Denunciamos a falta de respeito aos direitos humanos dessa imensa humanidade amparada na esperança de um futuro melhor e prostrada pelo sofrimento.

Como a assistência aos migrantes é estruturada em seus países?

A Igreja cuida dos migrantes por meio de inúmeras iniciativas. No Marrocos, disponibilizamos 1,5 milhões de euros e lançamos o programa plurianual "Kantara" (Ponte) para auxiliar milhares de migrantes com a ajuda de médicos, psicólogos, educadores, professores, mediadores culturais. Por meio desta iniciativa podemos garantir assistência médica e psicológica, escolaridade para menores, formação profissional e inserção no mundo do trabalho.

Como vocês avaliam a atitude da Europa?

Com indignação e tristeza, porque as escolhas dos governos revelam uma atitude de egoísmo e porque muitos fiéis não conseguem enxergar a face de Cristo nesses irmãos sofredores.

Quais são os planos para a Igreja no norte da África?

Não queremos ser comunidades isoladas ou que apenas cuidam dos poucos católicos (todos estrangeiros) locais: queremos ser uma Igreja plenamente incorporada no território, capaz de promover o diálogo com os muçulmanos e a evolução das sociedades na direção de um pluralismo religioso e liberdade de consciência. Para isso, precisamos melhorar a formação de sacerdotes e agentes pastorais.

Como será a beatificação dos 19 mártires da Argélia no próximo 8 de dezembro?

Esta beatificação não representa uma celebração contra os muçulmanos, mas, de certa forma posiciona-se  junto aos afetados pelo terrorismo. Devemos lembrar que além dos 19 mártires cristãos, também foram mortos cem imames que não abençoaram a violência dos fundamentalistas. O confronto não é entre muçulmanos e cristãos, mas entre paz e violência.

A carta do papa sobre abuso provocou a tomada de alguma iniciativa especial?

Sim, decidimos criar, em cada diocese ou pelo menos em cada país, uma comissão preparada seja para ouvir as vítimas que poderiam surgir, como para investigar casos de denúncia. Esta nova iniciativa vem juntar-se ao compromisso já assumido de criar ambientes seguros para menores.

InfoANS

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