“Mui condoidamente informo que o Papa Emérito, Bento XVI, morreu hoje, às 9h34, no Mosteiro ‘Mater Ecclesiae’ no Vaticano. Logo que possível dar-se-ão ulteriores informações” – lê-se na nota do Diretor da Sala de Imprensa Vaticana, Mateo Bruni, divulgada nesta manhã.
Havia já alguns dias que as condições de saúde do Pontífice Emérito se tinham agravado, também devido à idade, como referira a Sala de Imprensa, atualizando seu estado de saúde.
O mesmo Papa Francisco partilhara publicamente a notícia sobre a decadência do estado de saúde do Predecessor, no final da última Audiência Geral do ano, em 28 de dezembro, quando outrossim convidara a rezar pelo Papa Emérito, “muito doente”, para que Deus o consolasse e sustivesse “nesse Seu testemunho de amor pela Igreja, até à fim”. E em todos os Continentes se haviam logo multiplicado iniciativas de oração, com mensagens de solidariedade e vizinhança também do mundo não eclesial.
Nascido em 1927, filho de um gendarme, numa família simples e mui católica da Baviera, Alemanha, Joseph Ratzinger foi um dos protagonistas da Igreja do último século. Ordenado sacerdote com seu irmão, Georg, em 1951, se doutorou em Sagrada Teologia dois anos depois; e em 1957 obteve a habilitação para o ensino de Teologia Dogmática. Ensinou em Freising, Bonn, Munique, Tubinga e, por fim, em Ratisbona.
Com ele desaparece o último dos Pontífices envolvidos pessoalmente nos trabalhos do Concílio Vaticano II. De fato, mui jovem e já estimado teólogo, Ratzinger havia acompanhado de perto a Assembleia como perito do Cardeal Frings, de Colônia, e outrossim bem perto da ala de reformas.
Paulo VI em 1977 o nomeia, com apenas 50 anos, Arcebispo de Munique e, poucas semanas depois, o cria Cardeal. João Paulo II confia-lhe, em novembro de ’81 a condução da Congregação para a Doutrina da Fé. É o início de uma união muito intensa entre o Papa polonês e o Teólogo bávaro, destinada a quebrar-se apenas com a morte de Wojtyla, que até o fim recusará as demissões de Ratzinger, para não privar-se dele. A obra mais importante foi certamente a elaboração do novo Catecismo da Igreja Católica, trabalho que durou seis anos, e que veio à luz em 1992.
Depois da morte de Wojtyla, o Conclave do 2005 chama a suceder-lhe em menos de 24 horas uma Pessoa já idosa – tem 78 anos - universalmente estimada e respeitada também por adversários. Da ‘loggia’ da Basílica Vaticana, Bento XVI se apresenta como “um humilde trabalhador na vinha do Senhor”.
Inicialmente reservado, não renúncia às viagens: também o seu será um pontificado itinerante como o do seu Predecessor. Entre os momentos mais tocantes, a visita a Auschwitz em maio de 2006, com o Papa alemão que diz: “Em lugar como este, emudecem as palavras, quedando-se no profundo apenas um clamoroso silêncio – um silêncio que grita pelo rumo de Deus: ‘Por que pudestes tolerar tudo isto?”.
Bento XVI enfrenta viagens difíceis, confronta-se com a secularização galopante de sociedades descristianizadas e com dissensos internos na Igreja. Celebra seu aniversário na Casa Branca, junto com George Bush Jr; e, alguns dias depois, em 20 de abril de 2008, reza em Ground Zero, abraçando os parentes das vítimas do ‘11 de Setembro’.
Como Papa, fala a seguir acerca do “júbilo de ser cristãos”, e dedica a sua primeira Encíclica ao Amor de Deus: «Deus caritas est». “No Início do ser cristão – escreve - não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa”. Acha tempo também para publicar um livro sobre Jesus de Nazaré em três volumes. Entre as decisões que recordar está o ’Motu proprio' que liberaliza o Missal Romano pré-conciliar e a instituição de um ‘Ordinariato’ para permitir o retorno à comunhão com Roma das Comunidades anglicanas.
Os últimos anos estão marcados por nova explosão do escândalo pedofilia, e pelo Vatileaks - fuga de documentos subtraídos da escrivaninha papal e publicados em livro. Bento XVI é determinado e duro no enfrentar o problema “sujeira” dentro da Igreja. Introduz regras severíssimas contra o abuso de menores: pede à Cúria e aos Bispos de mudar de mentalidade. Chega a dizer que a perseguição mais grave contra a Igreja não vem de seus inimigos externos, mas do pecado no Seu interior. Outra importante reforma é a financeira: é o Papa Ratzinger a introduzir no Vaticano as normas de antirreciclagem.
Perante os escândalos e o carreirismo eclesiástico, Bento XVI continua a chamar à conversão, à penitência e à humildade. Durante a última viagem à Alemanha, em setembro de 2011, convida a Igreja a ser menos mundana: “Liberta dos fardos e dos privilégios materiais e políticos, a Igreja poderá dedicar-se melhor e em modo realmente cristão a todo o mundo: pode estar realmente aberta ao mundo…”.
No Consistório ordinário de 11 de fevereiro de 2013 anunciou a renúncia “ao Ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro” com a decorrente ‘sede vacante’ em 28 do mesmo mês.
Fonte: Vatican News