Com ambos esses remédios, Dom Bosco pôs imediatamente mãos à obra e, “para não tentar o Senhor, utilizou todos os meios de precaução possíveis, como sugeriam a a prudência e a arte” (MB V, 80): nos dormitórios as camas foram afastadas umas das outras, os quartos foram lavados a fundo, a comida foi melhorada (cf. MB V, 80), “antes de ir para a obra de caridade, cada um recebia um frasco de vinagre, ou uma dose de cânfora e afins; ao regressar a casa, lavava-se e perfumava-se para se desinfectar” (MB V,88). Todos os meios de precaução possíveis!
A atenção educativa e o acompanhamento da realidade e das pessoas sugerem-nos uma resposta pedagógica e pastoral, como a de Dom Bosco, para os novos tempos que nos esperam. Depois do terremoto, é preciso recomeçar e reconstruir.
“Sobriedade, temperança, paz de espírito e coragem”. Corremos demasiado depressa. Os novos tempos vão exigir recuperar o essencial: a sobriedade do material e a sumptuosidade das relações profundas; a temperança muita vezes esquecida e a atenção permanente ao outro; a paz de espírito que tudo suporta, tudo crê, tudo vence, na coragem de ir mais longe, de viver melhor o dom do outro e para os outros;
“Confiança na graça de Deus”. Reaprendendo os caminhos que nos levam ao encontro com Deus, com fé e confiança. Como filhos muito amados. No compromisso da caridade que se faz graça de fazer o bem, bem feito. Na beleza de criar o bem, amar amando, viver com o Senhor nos itinerários de fé das nossas vidas. Partindo de onde estamos no nosso sentir, para nos abandonarmos no Amor de Deus que se faz presente em tantos gestos, em tantas ações novas, em tantas “boas notícias” de Evangelho feito vida hoje.
“Escutar e escutar-nos”. Regressar a essa atitude positiva de querer estar juntos, de querer encontrar-nos de novo. A falta maior que tivemos neste tempo foi “do outro”. Na distância tornamo-nos carentes do que nos faz mais sociais: a escuta, o sorriso, o abraço, a presença: tudo na forma incondicional de “ser para”, de “existir com”. Uma escuta que se faz vitória na tristeza, na angústia, no confinamento a um espaço exíguo que desmoraliza e cansa.
“Agir com prudência e esperança”. Inovando, fazendo novas as nossas práticas pastorais, revolucionando tempos e espaços, assumindo novos “estilos e novas estratégias”, indo aonde é possível chegar para “salvar” quem espera a nossa ação, a nossa presença, o nosso otimismo e confiança. Dom Bosco não ficou parado: pôs os seus jovens (prudentemente!) em ação junto dos afetados pela cólera, desinfetou espaços e melhorou processos. Não deixou de responder, agindo com confiança, porque era urgente responder.
As coisas não vão ser como antes. Ainda bem. Precisamos reconstruir e renascer com mais humanismo, solidariedade e consciência de responsabilidade para, diante dos sinais dos tempos, sermos homens e mulheres novos, esperando sempre pelo melhor de cada dia que, em cada rosto, em cada jovem, se faz desafio de esperança e possibilidade de eternidade, porque encontro com Deus, porque encontro com o homem, porque também nós queremos ser hoje, profundamente homens e profundamente de Deus.
