Vaticano - Carta aberta do P. Juan Bottasso aos Padres Sinodais

09 outubro 2019

(ANS - Cidade do Vaticano) – Uma das figuras de importância intelectual, pastoral e missionária no Sínodo dos Bispos para a Amazônia é o P. Juan Bottasso SDB. Antropólogo de profissão, foi ordenado sacerdote em 1963 e vive na Amazônia, há mais de meio século. Em carta-aberta enviada aos Padres Sinodais reunidos no Vaticano, apresenta duas propostas: que "a Igreja Amazônica se conscientize e se desculpe humildemente"; e que faça "um convite solene a todos os grupos cristãos para que parem de dividir os povos amazônicos".

Carta aberta aos Padres sinodais

A Igreja Católica está presente na Amazônia desde o século XVI. Superando enormes dificuldades para vencer as barreiras que impediam a penetração naquela imensa região, centenas e centenas de homens consagraram toda a sua vida inteira a evangelizar os grupos humanos que a habitavam, e a habitam. A partir da segunda metade do século XIX, um impressionante grupo de mulheres também se consagrou à mesma missão. Não se pode absolutamente duvidar da boa fé que os motivou, nem do imenso valor de seu sacrifício, mas precisamos reconhecer que havia também algo de questionável no centro de suas atividades. Obviamente, seria injusto querer julgar o passado com os critérios do presente, mas também pode-se dizer que o Evangelho falhou em inspirar uma visão mais profética. A atividade missionária tem sido generosa, mas paternalista. Ela se esforçou muito por ensinar, mas não teve paciência de aprender. Mais do que diálogo, houve doutrinação. Os nativos sempre foram considerados menores de idade. Os vários Estados, por não terem funcionários preparados e dispostos a viver permanentemente nas áreas remotas e enormemente inconvenientes, delegaram à Igreja, por meio dos Vicariatos e Prelazias Apostólicas, a missão de integrar os povos da Amazônia à própria nacionalidade. Esse compromisso foi assumido com entusiasmo, mas nem sempre respeitando os valores culturais dos destinatários. Basta examinar a linguagem usada pelas revistas missionárias até algumas décadas atrás. Portanto, como muitos povos indígenas estudaram e podem acessar essas leituras, é constrangedor ver a impressão que isso lhes causa.

Por tudo isso, seria conveniente para a Igreja Amazônica tomasse consciência e pedisse humildemente desculpas

Há todavia outro tema que não se refere ao passado e é totalmente atual.

A população indígena de toda a Amazônia perfaz cerca de dois milhões de pessoas; trata-se, porém, de uma constelação de povos com línguas, histórias e culturas enormemente diferentes. Alguns têm apenas algumas centenas e outros milhares de membros. São assediados pela sociedade que os cerca, privados de seus territórios, ameaçados pelas multinacionais, desorientados por uma globalização que nivela tudo. A esses grupos pobres já são por si enormemente frágeis, cristãos de todas as tendências (católicos, protestantes de várias denominações), os enfraquecem ainda mais, exportando para o meio deles as divisões que nasceram em seus distantes países de origem. Jesus Cristo, que queria ser um vínculo de unidade e comunhão, é pregado de uma maneira que divide.

Este Sínodo deve constituir uma oportunidade para dirigir um convite solene a todos os grupos cristãos que parem de dividir os povos da Amazônia.

Preguemos Jesus como o único Salvador; transmitamos sua mensagem que fala de fraternidade, solidariedade, perdão e não coloquemos no centro de tudo as nossas diferenças teológicas, por mais respeitáveis que sejam. Unamos nossas forças para combater as grandes batalhas que esses irmãos enfrentam e de cujo êxito depende sua sobrevivência: a defesa do meio ambiente, a conservação do território, a valorização de sua cultura. Dessa maneira, eles perceberão não apenas que os seguidores de Jesus Cristo estão ao seu lado, mas também que fazem parte de uma Igreja que não quer nada além do Bem.

P. Juan Bottasso SDB

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