Dom Bosco mantinha um diálogo particular com Deus, que lhe falava por meio de... sonhos. Não se tratava de comunicações diretas, mas sempre alegóricas, um pouco como nos Evangelhos, onde Jesus falava frequentemente por parábolas. Aqui observamos uma característica muito importante do santo: a disposição de se deixar guiar por um pai espiritual. De fato, ele sempre perguntava e se questionava com quem ele considerava ser seu guia na época, sobre a interpretação desses sonhos e o que Deus queria dele.
Sobre o valor de seus sonhos, o próprio Dom Bosco inicialmente duvidou. "Muitas vezes eu os atribuía a truques da imaginação. Ao contar aqueles sonhos, anunciar mortes iminentes, prever o futuro, várias vezes fiquei na incerteza, não confiando que tivesse entendido e com medo de contar mentiras. Várias as vezes que confessei ao P. Cafasso sobre esta conversa, na minha opinião, arriscada".
O P. Eugênio Céria, biógrafo de Dom Bosco, que compilou os últimos nove volumes das Memórias Biográficas, classifica os sonhos de Dom Bosco em três grupos:
- sonhos que nada mais são do que meros sonhos noturnos;
- sonhos que não eram sonhos, mas verdadeiras visões ocorridas em plena luz do dia;
- sonhos que ocorreram à noite e revelaram fatos obscuros ou futuros.
Entretanto, é difícil distinguir entre as três categorias. Por exemplo, Dom Bosco certa vez sonhou que estava na Basílica de São Pedro, em Roma, dentro do grande nicho que se abre sob a cornija à direita da nave, perpendicular à estátua de bronze de São Pedro e ao medalhão em mosaico de Pio IX. Ele não consegue entender como chegou lá em cima. Quer descer. Chama, grita, mas ninguém responde. Por fim, tomado pela angústia, acorda. Um sonho de má digestão, pode-se dizer. Mas quem olha para aquele nicho na Basílica de São Pedro hoje vê a enorme estátua de Dom Bosco feita pelo escultor Canonica. Então, percebe-se que a má digestão não teve nada a ver com aquele sonho.
Inúmeros foram os sonhos relatados por Dom Bosco: a primeira coleção completa, extraída das Memórias Biográficas, é a de Rodolfo Fierro Torres, que transcreve e traduz 153 deles, entre longos e curtos. Fausto Jiménez, que revisa e integra essa coleção, retorna uma lista cronológica de 159 sonhos, oferecendo também referências bibliográficas.
Entre todos os sonhos, alguns são certamente mais significativos e relevantes do que outros: se 2024 é dedicado, por toda a Família Salesiana, a aprofundar o ‘Sonho dos Nove Anos’, é precisamente por causa de seu enorme valor carismático. Outras classificações, feitas por vários autores, procuraram agrupá-los por finalidade: o P. João Batista Lemoyne, outro – o primeiro – conhecido biógrafo de Dom Bosco, dividiu-os em quatro grupos: "o primeiro engloba aqueles que lhe indicavam as obras a serem feitas e o modo de fazê-las; o segundo aqueles que lhe revelavam o estado das consciências, as vocações, as mortes iminentes; a terceira categoria engloba os sonhos didáticos; por fim, vêm aqueles que lhe expunham os acontecimentos futuros da Igreja e das nações".
Uma divisão que, como todas as classificações, escreve Scotti, "se aplica sempre, mais ou menos adequadamente, à realidade. Quantos os sonhos que são, de fato, tanto didáticos quanto proféticos!".
Conscientes dessa vastidão do campo onírico e visionário de Dom Bosco; da dificuldade de separar os sonhos dos elementos acrescentados pela tradição ou pelo próprio Dom Bosco para fins pastorais, e da limitação do espaço destes poucos dias que nos separam da Festa, nos próximos dias ANS procurará, em todos os casos, apresentar 9 (nove) sonhos de Dom Bosco, alguns mais famosos, outros menos, e tentar apresentar, por meio deles, três tipos de sonhos de Dom Bosco
- aqueles com valor didático-pedagógico para os jovens;
- aqueles chamados "missionários";
- aqueles que possuem significado profético para a Congregação e para toda a Igreja.
Esta, igualmente, será uma forma de continuar a levar adiante a missão de Dom Bosco e seu... sonho, para os jovens de todo o Mundo.