RMG – Redescobrindo os Filhos de Dom Bosco que se tornaram cardeais: Štěpán Trochta (1905-1974)

15 setembro 2023

(ANS – Roma) – O quarto salesiano a ser criado cardeal, Štěpán Trochta, foi uma figura completamente peculiar. Emblema do sofrimento passado pela Europa centro-oriental ao longo do século XX, perseguida primeiro pelo nazismo e depois pelo comunismo, foi o único cardeal salesiano a ser nomeado ‘in pectore’, dado que no momento da sua primeira eleição, alguns motivos levaram o Papa Paulo VI a não tornar pública a sua opção.

Štěpán Trochta nasceu em Francova Lhota, na Morávia Oriental, no dia 26 de março de 1905. Era o mais velho dos três filhos de František e Anna Trochta, humildes agricultores, de Fé simples e sincera. Aos 8 anos, perdeu o pai e pouco depois sentiu nascer em si a vocação sacerdotal, que o levou a ingressar no Seminário menor da sua Diocese. Sua mãe, que trabalhava sozinha para sustentar os filhos, foi acometida por tuberculose, levando Štěpán a deixar o seminário para cuidar dela e dos irmãos mais novos. Nesse período, leu um artigo sobre a vida e a obra de Dom Bosco, confiou tudo a Maria Auxiliadora e, uma vez curada a mãe, optou por tornar-se salesiano.

No outono de 1923, com apenas 18 anos, foi a Turim numa espécie de aventura solitária. Ali, completou os estudos filosóficos, seguidos dos teológicos, realizados em Roma. Em 1932 foi ordenado sacerdote. Retornou imediatamente à sua terra natal e tornou-se um dos fundadores da Obra salesiana nessa terra: ensinou filosofia, pedagogia e religião em Frystak; fundou uma obra social na cidade industrial de Ostrava e abriu uma “casa dos jovens”, em Praga. Além disso, prestou assistência espiritual aos escoteiros católicos.

Orador muito procurado, especialista em problemas juvenis e questões sociais, tornou-se uma figura de destaque na vida católica de seu país. Após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, seu nome acabou na lista das 100 pessoas mais influentes de Praga que deviam ser eliminadas para evitar uma possível oposição, sendo deportado para o campo de concentração de Terezin, depois para Dachau e, por fim, para Mauthausen. Nos registros nazistas, seu nome foi marcado com “RU”, que significava “retorno indesejado”, levando-o a fazer os trabalhos mais pesados, atribuídos aos grupos destinados a serem eliminados. Em Mauthausen, ao vê-lo exausto, um nazista atirou nele à queima-roupa "para libertá-lo de uma longa agonia". Mas o P. Trochta não morreu. Recobrou a consciência quando se encontrava numa carroça de cadáveres prestes a ser enviada para o crematório. Conseguiu escapar e acabou sendo salvo por um médico do campo.

No final da guerra, sua terra natal estava em ruínas e foi invadida pelo Exército Vermelho. Em 29 de setembro de 1947, Pio XII nomeou-o Bispo de Litoměřice, a diocese mais devastada da Boêmia. O seminário estava destruído e 70% das paróquias estavam sem sacerdotes. Dom Trochta pôs mãos à obra, no estilo do lema escolhido na sua consagração episcopal: Actio, Sacrificium, Caritas (Ação, Sacrifício, Amor).

No entanto, o regime comunista checoslovaco impediu-o de exercer atividades episcopais e, durante três anos, foi mantido em prisão domiciliar na sua sede, até que, em 1953, foi preso sob acusação de espionagem e "atividades contra o Estado" e condenado a 20 anos de prisão.

Em 1960 recebeu o indulto, mas foi obrigado a fazer atividades manuais: trabalhou como pedreiro e encarregado da manutenção de elevadores e sistemas sanitários. Mesmo neste estado, não esqueceu a sua missão de Bispo e fez tudo o que pôde pelos seus Sacerdotes e pela Diocese.

Em 2 de agosto de 1968, após 18 anos de ausência, conseguiu retomar o governo da sua diocese e, no dia 1º de setembro de 1968 - numa Checoslováquia que acabava de ver a Primavera de Praga reprimida de forma sangrenta - subiu ao púlpito da sua Catedral para dizer: “A muitos de Vocês – disse – estou vendo pela primeira vez, embora seja seu Bispo há 21 anos. Tive anos terríveis. Conheci as profundezas da maldade humana. Mas Jesus Cristo é o nosso Redentor: hoje e para sempre”.

Em 1969, o Papa Paulo VI nomeou-o Cardeal, mas manteve a sua nomeação escondida "in pectore". Somente no dia 5 de março de 1973 pôde publicar sua elevação à púrpura, que Dom Trochta finalmente recebeu no dia 12 de abril seguinte. Não chegou a viver um ano como Cardeal. Consumido pelas muitas cruzes carregadas e oferecidas com paciência e amor, faleceu no dia 6 de abril de 1974.

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