De onde vem, Théophile?
De Camarões. Em março faço 20 anos. Decidi vir embora na esperança de uma vida melhor e de poder ajudar minha mãe, que está sozinha com meus irmãos, porque não tínhamos nada. E eu estava em perigo de vida.
E como foi a viagem?
Muito dura, realmente. Atravessei a Nigéria, o Níger, a Argélia, o Marrocos, a Espanha. Enfim cheguei à França: levei quatro anos! No Níger fiquei barrado durante dois meses. Revejo as cenas do comércio de migrantes: uma jovem camaronesa a que se lhe impusera um preço que não podia pagar e que por isso foi obrigada a casar com um traficante... Também a passagem em Tamanrasset, Argélia, foi muito difícil. No Marrocos, passei um ano e meio no mato. Algumas amigas foram violentadas. Outros amigos, mortos… Tentei várias vezes passar a fronteira com Ceuta e Melila, dois enclaves espanhóis em território marroquino: nenhum sucesso. Por fim, deu: fui acolhido pela Cruz Vermelha num campo de refugiados. Em seguida fui levado à Espanha, recolhido por uma Ongue. Por fim, cheguei de ônibus a Lião.
Como foi recebido na França?
Fui assumido sob custódia e designado a um asilo. Ali fui acompanhado por um Assistente Social. Perguntei-lhe como poderia ser útil? Atualmente estou frequentando um Ccntro de formação, aspirando a um Diploma profissional.
Dedica-se também a outras atividades?
Inscrevi-me em diferentes grupos: acompanhei crismandos; ajudo também desabrigados: tento achar soluções para que possam ser... abrigados. No momento faço parte de um grupo que se ocupa de jovens estrangeiros. Quanto a mim, não os vejo como ameaça: è preciso dar uma chance. Antes que de documentos, havemos de nos ocupar de uma... Pessoa, de um Ser Humano.
Já lhe aconteceu de fazer-se algumas perguntas...?
As perguntas que me faço são: «O que estou a fazer para mim e para os outros?». Eu quero ser útil, porque cedo ou tarde irei morrer... E penso: «Nessa hora que gostaria de ter feito? Que gostaria de ter feito para o mundo?».
Fonte: Don Bosco Aujourd’hui