O que o senhor sentiu no dia em que foi eleito como Reitor-Mor?
Senti que era algo maior do que eu, que não tinha que ser eu, que muitos outros salesianos presentes no Capítulo Geral 27º poderiam prestar este serviço com muito mais competência. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer, não esperava por isso. No entanto, assim que ficou mais do que evidente que a eleição dos meus irmãos salesianos pousava sobre mim, naquele dia 25 de março de 2014, num momento de oração simples, verdadeira e confiante, me "entreguei" a tudo que poderia ser. E, posso assegurar, fui inundado por uma grande Paz, que me acompanha até hoje. Devo confessar que ainda hoje continuo a perguntar ao Senhor, em minha oração pessoal porque, através da mediação dos meus irmãos salesianos no Capítulo, seu «olhar» pousou sobre mim. E deixo aí. No silêncio confiante.
Onde o senhor acredita que está o futuro da Igreja?
Na minha humilde opinião, devo dizer que o futuro da Igreja está em Deus, em viver autenticamente o Evangelho de Jesus Cristo. É uma Igreja dos pobres e para os pobres. O futuro da Igreja está longe de todas as tentações do poder. O futuro da Igreja passa pelo anonimato de tantos leigos, consagrados e sacerdotes que seguem dando suas vidas com simplicidade, todos os dias. Sem dúvida, o futuro da Igreja está em continuar a respeitar plenamente a dignidade da mulher. Enfim, são coisas que já sabemos, mesmo que às vezes, não raramente, incomodam muitos dos ouvidos que as escutam. Não posso deixar de dizer e reconhecer que o Papa Francisco nada mais faz do que nos convidar a viver o Evangelho com a consistência própria dos crentes tocados pela conversão a Jesus Cristo. E quanto muitas vezes é incômodo, porque é simplesmente um Pastor segundo o olhar de Deus.
Qual deve ser o papel dos jovens na evangelização?
Direi isso apelando a Dom Bosco, aquele que fundou uma Congregação com os mesmos jovens que ajudava a criar. Quando chegou a hora, ele propôs que todos fizessem a mesma coisa juntos, para "sua própria salvação e o bem de seus companheiros". Em suma, ele propôs que eles fossem verdadeiros evangelizadores e apóstolos para outros jovens. Pessoalmente, acredito muito na força dos jovens em todas as coisas. E gostaria que tivéssemos mais confiança no que eles podem fazer em nome de Jesus.
O que o senhor acha da evangelização por meio das Congregações salesianas?
É uma realidade preciosa, especialmente no sul da Espanha salesiana, mas também em outros lugares. Pelo que sei, constituem uma excelente contribuição do carisma salesiano para a evangelização no campo da religiosidade popular, que foi um verdadeiro antídoto para o crescente secularismo. É um espaço de compromisso eclesial onde os leigos têm um grande papel a desempenhar. Aprecio muito o progresso que estão fazendo na formação dos grupos juvenis com grande vitalidade e também na atenção aos mais pobres. Encorajo os meus irmãos salesianos a continuarem a acompanhar com zelo pastoral a formação e a espiritualidade destas Congregações e a aprofundar a sua identidade salesiana.
O senhor acha que a Congregação está em perigo devido ao declínio das vocações?
Honestamente, NÃO.
É verdade que falo e devo falar apenas da realidade que conheço; dos 14.500 salesianos de Dom Bosco presentes em 134 países, pertencentes a 90 Inspetorias e Visitadorias. Nossa Congregação Salesiana é abençoada todos os anos com cerca de 450 noviços em todo o mundo. É um grande dom. Ao mesmo tempo, devo dizer que a realidade vocacional na Europa é muito pobre também para nós. Todavia, a vida da Congregação não se mede por números, mas pela fidelidade dos salesianos de Dom Bosco ao carisma recebido de nosso fundador, São João Bosco. Enquanto a Congregação for fiel a este carisma, com predileção pelos meninos e meninas mais pobres e necessitados, pelos últimos, pelos humildes, e isso em nome de Jesus, a Congregação não corre algum risco. A organização, a cor da pele, as áreas geográficas podem mudar... Mas o carisma estará assegurado. Em outras palavras, o futuro da Congregação e a fidelidade ao carisma andam de mãos dadas.
Como deve ser o salesiano de hoje?
Devo dizer que este foi o tema do Capítulo Geral 28º realizado em Turim-Valdocco nos meses de fevereiro e março. E a resposta é: um salesiano que seja um homem de fé, feliz com a sua vida e com a sua vocação, capaz de escutar, de dialogar e de ir ao encontro aos jovens de hoje. Um salesiano que construa pontes, que saiba acompanhar os processos de crescimento dos jovens. Um educador na fé, que disponibilize, na liberdade, o que nos preenche de sentido. Enfim, pessoas que queiram oferecer e compartilhar o que são e o que nos constitui como consagrados e crentes.
Como Reitor-Mor, o que o senhor espera da Congregação nos próximos anos?
Espero que sejamos tudo o que acabo de dizer e que, no final dos próximos seis anos, se Deus me der saúde, eu possa dizer a Dom Bosco algo assim: “Querido Dom Bosco, esta é a Congregação que te apresento após doze anos. Fizemos o melhor que sabíamos e pudemos fazer, em nome de JESUS e em benefício dos jovens. Eu espero que você possa se reconhecer nele. Se sim, terá valido a pena”.
Para concluir, que mensagem deseja enviar à Família Salesiana na Espanha?
Com grande prazer, quero transmitir uma mensagem dupla. Uma parte dirigida às muitas pessoas que me lerão e que não têm nada a ver com a Família Salesiana na Espanha ou na Andaluzia, mas que olham para a figura de Dom Bosco com simpatia ou pelo menos com curiosidade: digo-lhes que continuem a acreditar que existem pessoas boas no mundo, muitas pessoas boas, como certamente também elas o são, e como nós salesianos de Dom Bosco procuramos ser, apesar de todas as nossas limitações; e as convido a se juntarem às muitas pessoas que transmitem esperança, e não negatividade. Porque o mundo se torna mais habitável com pessoas assim.
E, à Família Salesiana da Espanha e da Andaluzia, digo que me sinto muito orgulhoso pela família religiosa que somos: simples, mas com frescor; amiga do povo e desejosa de fazer o bem. Uma família de Dom Bosco que acredita nos jovens e, vos peço, continuem a acreditar nestes mesmos jovens, aqueles em carne e osso que vocês veem todos os dias. Digo para transmitir às pessoas que há motivos de esperança e que juntos, unindo-nos, podemos continuar a fazer algo de bom. Digo que Dom Bosco nos sonhou e nos fundou, não para nos concentrarmos em nós mesmos, mas para que sejamos uma família de portas abertas, para que as pessoas possam dizer que lá, onde estão aqueles "de Dom Bosco", há pessoas boas que, se não podem te ajudar em todos os momentos e em tudo, pelo menos te recebem, te escutam e te acompanham.
E eu diria a eles que nossa força está em sermos uma família, em sermos para os outros e em sermos quem somos em nome do Senhor. E, por fim, acrescentaria: que continuemos a acreditar, assim como Dom Bosco, que "tudo foi feito por Ela", a Mãe, que continua a fazer tudo até hoje.
Um abraço a todos os leitores, junto com meus votos de um bom e santo Natal.
Fonte: El Correo de Andalucía