Eventos esses que deixam imersos numa profunda dor e repulsa, enquanto uma sensação de impotência nos envolve a todos, transformando-nos em testemunhas silenciosas. Os canais mediáticos nos reportam a crônica violenta das numerosas vítimas, o sofrimento dos feridos, a dor dos parentes e amigos, numa como cópia já escrita que se vem repetindo e que descreve um ‘modus operandi’ já conhecido, dos terroristas.
Eventos que nos deixam uma sensação de desânimo e exaustão. Nos levam a sentir tanto a realidade cada vez mais escura e desfocadamente quanto um sentimento de tristeza que, na maioria das vezes, não nos deixa focalizar outros aspectos, colaterais aos ataques terroristas.
A mesma chacina de Manchester pode ser um exemplo tangível: nela a dor e o choque das centenas de pessoas mobilizadas durante o ataque se transformou numa cadeia de solidariedade que permitiu os primeiros socorros e o auxílio aos muitíssimos feridos: taxistas que atravessando a zona atingida prestaram socorro com suas viaturas, paramédicos fora do expediente que uma vez ouvida a notícia se mobilizaram para ir aos hospitais, as tantas pessoas que receberam em suas casas os muitos feridos que buscavam conforto e auxílio: todos gestos humanitários enfim, que racontam uma outra história – uma história de profunda solidariedade.
É certo que temos em nossas mãos o poder de causar dor e mortes inocentes, em nome das nossas ideologias; mas também o poder de socorrer e aliviar o sofrimento dos outros, assumir a angústia e a dor de quem nos pede um auxílio. É por isso alentador ver que nesses momentos de desespero o comportamento humano mostra reações positivas. Paradoxais.
Não acham que seja também importante saber ver outrossim as várias outras facetas de um mesmo acontecimento?
É verdade que nos sulcos de horror e da dor das vítimas do terrorismo, essa noite de Manchester jamais poderá ser cancelada... Entretanto não foram menos verdadeiros os inúmeros gestos de solidariedade e vizinhança da comunidade muçulmana presente na imediata proximidade.
Pouco relevo se dá à opinião dos muçulmanos sobre esses ataques. No blogue de um médico sírio, Ali Mesnawi, encontro um testemunho: “Vivemos (nós, muçulmanos) estas trágicas notícias com uma dupla angústia, ou seja, a de assistir a um ato de violência cruel e injustificado, e também com o medo que tal ato seja obra de um muçulmano. Porque, neste caso, o indivíduo seria alçado automaticamente a representante de toda a comunidade muçulmana, em qualquer lugar se encontre, pensando que esse ato encontre o consenso e o apoio de toda a comunidade”.
Todas as vezes que um fato como esse sacode a consciência da nossa sociedade, deixa entrever níveis de uma barbárie e de um ódio tais – presentes no mundo – que dificilmente se pode imaginar. Onde a “realidade supera a ficção” pode-se afirmar que já não existam palavras de consolação ou frases feitas, porque os eventos superam também a esses.
Mas também em meio à escuridão e à perversão se podem descobrir gestos de vida nova, de humanidade, promotores de esperança, que nos impelem a olhar para a justa perspectiva – que certamente não é fornecida por apenas critérios humanos, mais bem pela confiança na Pessoa Humano e... em Deus.