"Por isso, nesta Quaresma de 2020 – diz o Papa – quero estender a todos os cristãos o mesmo que escrevi aos jovens na Exortação apostólica ‘Christus vivit’: «Fixe os braços abertos de Cristo crucificado, deixe-se salvar sempre de novo. E quando se aproximar para confessar os seus pecados, creia firmemente na sua misericórdia que o liberta de toda a culpa. Contemple o seu sangue derramado pelo grande amor que lhe tem e deixe-se purificar por ele. Assim, poderá renascer sempre de novo»" (n. 123).
Voltando à resposta do idoso, podemos nos perguntar: perdoar ‘o quê’? Perdoar ‘a quem’? E ‘por qual motivo’? "Tive acesso – disse a entrevistadora – às fotos de família daquele idoso. Marcou-me a foto de uma menina: e ele contou-me que ela já havia morrido. Ele era um idoso que havia perdido toda a sua família durante o Holocausto. Havia ficado sozinho no mundo".
Quem lê esta história pode se perguntar: "Um homem consegue perdoar?" A resposta, mesmo que pareça ilógica, é que aquele homem "foi capaz de perdoar". Não apenas foi capaz: afirmou que o perdão seria o valor mais importante. É graças à vitória do perdão que a vida continua. É o que o Papa Francisco pede novamente hoje: "deixar-se perdoar", "deixar-se reconciliar com Deus".
Para este período de Quaresma, o Papa pede duas coisas concretas:
A urgência da conversão. O Papa Francisco enfatiza a importância da oração na Quaresma. «É salutar uma contemplação mais profunda do Mistério pascal, em virtude do qual nos foi concedida a misericórdia de Deus. Com efeito, a experiência da misericórdia só é possível «face a face» com o Senhor crucificado e ressuscitado, «que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim» (Gl 2, 20). Um diálogo coração a coração, de amigo a amigo. Por isso mesmo, é tão importante a oração no tempo quaresmal. Antes de ser um dever, esta expressa a necessidade de corresponder ao amor de Deus, que sempre nos precede e sustenta. De facto, o cristão reza ciente da sua indignidade de ser amado. A oração poderá assumir formas diferentes, mas o que conta verdadeiramente aos olhos de Deus é que ela escave dentro de nós, chegando a romper a dureza do nosso coração, para o converter cada vez mais a Ele e à sua vontade».
A necessidade de dialogar com Deus. Para o Papa, essa nova oportunidade de conversão deveria despertar "um sentimento de gratidão e nos tirar do torpor", porque, apesar da presença do mal em nossa realidade, "esse espaço oferecido à mudança de rumo expressa a tenaz vontade de Deus de não interromper o diálogo da salvação conosco".
É possível que aquele idoso tenha perdoado a tragédia que viveu, mas ainda lhe faltava um passo: abrir espaço para o perdão de Deus. "Deixar-se reconciliar com Deus" é o objetivo de todo cristão.