Pelo P. Bruno Ferrero SDB.
Como conheceu os Salesianos?
Foi algo singular. No ano da canonização de Dom Bosco, em 1934, girava pelas nossas vilas muito material de propaganda salesiana. Havia, em especial, um cartão com a figura em branco e preto de Dom Bosco. Era preciso fixar um ponto por alguns segundos, depois, quando se fechavam os olhos, via-se a figura de Dom Bosco sorridente em cores. Foi aquilo que me despertou a curiosidade e a atração. Ver Dom Bosco tão sorridente fascinou-me. Falei depois com o vigário paroquial e ele combinou tudo. Fui ao Colle Don Bosco, que então se chamava Casa Paterna, em 1935, e lá fiquei para o aspirantado. Em 1940 fui para o Noviciado. Depois da Primeira Profissão mandaram-me à Crocetta para dar uma mão às Irmãs. Depois retornei ao Colle e ali fiquei até 1958. Era encarregado das árvores frutíferas e das abelhas. Nos últimos dias de 1958, chamaram-me a Turim e o Ecônomo Geral, P. Fedele Giraudi, disse-me: “Pensamos que possas ser o motorista do Reitor-Mor”. Aconselhei-me com o Diretor do Colle e no dia 29 de janeiro precisei fazer as malas e ir a Turim.
Era o mais jovem de Valdocco. Quando me viu, o Reitor-Mor, P. Ziggiotti, me disse: “Pobre Filho, acabaste na cova dos leões! Contudo, não tenhas medo. Para qualquer dificuldade, vem a mim e resolvemos tudo”.
Ficaria ali até 26 de maio de 1971 quando vim para cá, Roma-Pisana. Sempre o mesmo encargo: motorista do Reitor-Mor e, depois, encarregado do Ofício Postal interno. E ainda estou aqui.
Entre os muitos Salesianos que conheceu, quem mais o impressionou?
Certamente o Sr. Luigi Fortini, falecido há alguns anos em Valdocco, aos 99 anos. Quando cheguei ao colégio vi um senhor com o rosário na mão. Impressionou-me: não estava habituado a ver um homem com o rosário na mão. Um Salesiano Coadjutor exemplar.
Quantos Reitores-Mores conheceu de perto?
O P. Pedro Ricaldone vinha quase todas as semanas ao Colle. Acompanhava pessoalmente os trabalhos para o início da Escola Gráfica e o local onde surgiria o Templo de Dom Bosco. Lá, naquele tempo, havia uma colina com o sítio onde Dom Bosco nascera. Pude dormir por muitos anos justamente nos ambientes onde nascera Dom Bosco, antes que a casa fosse demolida. Depois, o P. Renato Ziggiotti: fui seu motorista ao longo de todo o seu reitorado; depois o P. Luís Ricceri, o P. Egídio Viganó e o P. Juan E. Vecchi. Já o P. Pascual Chávez tinha o seu secretário como motorista; assim, comecei a ocupar-me o tempo todo do Correio interno, com o saudoso Sr. Egidio Brojanigo, falecido, faz dois anos, com 102 anos O trabalho maior era o das expedições, realmente trabalhosas.
Como motorista dos Reitores-Mores, viajei muito. Sempre com a máxima discrição.
Escutou muito!
Até demais! Durante as longas viagens, em automóvel naturalmente, ocupava-se o tempo conversando. Projetava-se, e resolviam-se problemas. Ouvia, mas jamais me furtei ao segredo... profissional.
O que recorda do misterioso Cão que viu ao lado da Urna de Dom Bosco?
Pude ver, acariciar aquele misterioso cão. Era o dia 5 ou 6 de maio de 1959, depois da inauguração do grande templo, de Cinecittà, em Roma. Estávamos voltando de Roma com a Urna de Dom Bosco, que fora venerada também pelo Papa João XXIII. Partimos no fim da tarde. Devíamos estar em La Spezia pelas 4 da manhã, mas paramos em Livorno e chegamos às 7. O irmão sacristão, Sr. Bodrato, tinha aberto as portas da igreja às 4h30 e vira o cão encolhido diante da porta e dera-lhe um chute para mandá-lo embora. Sem reagir, o cão retirara-se um pouco.
Quando chegamos, levamos a urna à igreja e a apoiamos sobre uma mesa, o cão seguiu-nos e encolheu-se debaixo da urna. Quando o povo começou a chegar e começaram as celebrações, o diretor ficou preocupado e disse aos guardas: “Mandem embora esse animal!”. Mas não conseguiram. O cão arreganhava os dentes e parecia enraivecido. Ficou ali até o meio-dia. Àquela hora, fecharam a igreja. O cão saiu e começou a girar entre os meninos no pátio. Os meninos, naturalmente, estavam alegres por tê-lo ali: acariciavam-no, puxavam-lhe o rabo... Uni-me a eles.
Durante o almoço entrou na sala onde estávamos almoçando com toda a comunidade e, pouco antes da oração final, abriu novamente a porta sozinho e saiu.
Pelas 14, voltamos à igreja para partir. O cão estava de novo encolhido sob a urna! Como fizera para entrar? A igreja estava com as portas fechadas, como é fácil imaginar.
Carregamos a pesadíssima urna no furgão e o cão ainda estava ali. Deixei no arquivo uma fotografia que documenta aquele momento. Partimos. O Padre Giraudi, que estava no carro comigo, dizia-me de tanto em tanto: “Veja se o cão está aí”. Estava. Sempre atrás do furgão, também ao longo da cidade. Ainda o vi até a terceira curva da subida. Depois, desapareceu.
O que gostaria de dizer, hoje, aos jovens Salesianos e aos muitos amigos de Dom Bosco?
Que sejam generosos. Que sempre digam “sim”, qualquer coisa aconteça. Na vida, há sempre Alguém que nos assiste. Há sempre Alguém que nos guia. Devemos ter confiança. Estou feliz com a minha vida, porque sempre procurei dizer “sim”. E ser útil a todos, mesmo quando me custava. Antes, como motorista e, depois, como encarregado do correio. Dia e noite à disposição de todos, sempre pronto para qualquer serviço.
E que encontrem em seu caminho muitos Salesianos como o Sr. Fortini.
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