Meus queridos amigos, na Páscoa de 1846 Dom Bosco inaugurava a pobre capela Pinardi, que era pouco mais do que uma barraca. Na Páscoa de 2018, os salesianos de Dom Bosco celebram debaixo de uma grande tenda no campo de refugiados de Palabek no Uganda. Neste campo, milhares e milhares de refugiados sudaneses, quase dois terços dos quais crianças, vivem em condições deploráveis devido a uma vergonhosa falha da comunidade internacional para financiar os esforços dos refugiados no Uganda, um país que contiunou a acolher os desesperados em fuga da morte e da fome, não obstante os limitados recursos. Os países mais ricos do mundo esqueceram-se tranquilamente dos sudaneses, Dom Bosco, não. E a grande árvore da Família Salesiana estendeu os seus ramos também em Palabek.
Ao todo há no norte do Uganda 1.200.000 refugiados, na sua maior parte sudaneses do sul. Com milhares de novas chegadas diariamente, o Uganda enfrenta uma das maiores crises de refugiados do mundo. No mês de março de 2016 os primeiros refugiados começaram a chegar ao campo de Palabek, a 77 km de Gulu, a maior cidade do norte do Uganda, e a 340 km da capital, Kampala.
Conhecendo a situação, o provincial da Província Salesiana da África-Grandes Lagos visitou o campo e falou-me dele. Pedi a um membro do Dicastério das Missões que fosse ver a possibilidade de ali iniciar uma presença salesiana. Pois se havia crianças, adolescentes e jovens refugiados, aquele devia ser o nosso lugar como filhos de Dom Bosco. Ele tê-lo-ia feito.
Atualmente há cerca de 36.000 refugiados no campo de Palabek. 86% deles são mulheres, crianças e grande número de adolescentes.
Há muito poucos idosos. Uma vez mais quero sublinhar que são as mulheres, a maior parte delas mães, que suportam o peso de esforços e sacrifícios inumanos. São elas que “salvam” a vida real de cada dia dos seus filhos.
Como Joyce. Com apenas 37 anos, já viu tudo. Assistiu ao abismo da crueldade humana e sobreviveu para narrar a história. Em setembro de 2016, os soldados tomaram de assalto a sua casa em Kajo Keji, no Sudão Sul, onde vivia com seu marido e com seus filhos. Amarram os braços do seu marido atrás das costas e apunhalaram-no até à morte.
Mãe sozinha com nove filhos a alimentar, Joyce decidiu fugir, para escapar à violência na sua terra natal. Assim se juntou às centenas de milhares de sudaneses que fugiam para o Uganda.
Graças ao heroísmo destas mulheres e mães, sentimo-nos felizes e honrados por cuidar dos seus filhos.
Filhos de Dom Bosco, começámos a olhar em frente. Para o futuro serão necessárias escolas maternas, escolas primárias, centros de formação profissional, oratórios e centros juvenis salesianos: Veremos que medidas poderemos tomar, juntar-nos-emos a outras pessoas e instituições, mas não desitiremos.
No dia 31 de janeiro os Salesianos montaram a sua tenda no campo de Palabek. A alma da comunidade é o padre Arasu e com ele outros três salesianos, todos missionários, provenientes da Venezuela e da Índia. Mais três jovens sdb africanos estão a preparar-se para fazer parte desta nova presença em setembro.
Alguém perguntará se “aterrámos” com alguma mega-construção. Não. Começámos a viver simplesmente com eles, partilhando a sua vida, caminhando e afadigando-nos com eles para buscar o modo de melhorar a situação. Empenhando-nos de modo especial na educação e na preparação de numerosas crianças e adolescentes, acompanhando-os também no seu caminho de fé. Em grande maioria são cristãos.
Estamos já a começar a buscar o suporte material para animar liturgicamente as diversas comunidades que se formarem, porque não esquecemos que 36.000 pessoas equivalem a centenas de aldeias e pequenas cidade em muitas partes do mundo.
E Palabek é uma autêntica cidade móvel, de tendas e barracões. Os católicos fizeram um grande gesto de solidariedade doando seis grandes talhões de terra para a construção de capelas e obras educativas para crianças e jovens. Também a pequena casa em que vivem o padre Arasu e os outros missionários foi construída pelos refugiados do campo. No que se refere ao alimento, o salesiano padre Lasarte diz: «Não são os Salesianos que distribuem alimento, mas os refugiados que sustentam os salesianos e oferecem o alimento aos novos amigos e pastores».
Com todo o nosso entusiasmo, prepararemos os catequistas para a nimação e o acompanhamento destas diversas comunidades cristãs; buscaremos e prepararemos os jovens que possam animar vários oratórios dado que, felizmente, a vida continua e deve ser cheia de alegria, esperança e motivos para viver cada dia.
Devemos pensar em formar e habilitar os professores para as escolas e os instrutores para a formação profissional. Felizmente, não estamos sós e há já alguns leigos no campo de refugiados que estão a trabalhar com este objetivo. Temos consciência de que juntos, pouco a pouco, podemos fazer muito para dar dignidade à vida de tantos milhares de desalojados. Temos consciência de que não estamos sós e centenas de pessoas de todo o mundo nos ajudarão e “cooperarão” connosco.
Dom Bosco veio a Palabek no Uganda com os pés e as mãos dos seus Salesianos, e anuncia aos pobres crucificados pela violência e pela brutalidade deste mundo que são chamados à certeza da Ressurreição, que são amados por Deus e não abandonados, e que se pode construir uma civilização de fraternidade humana e de justiça.
O sorriso que queremos acender e Palabek não desapareça nunca.
Boa Páscoa e Boa Ressurreição.