Em colaboração com a Fundação “Football is More” e seus clubes parceiros, treinadores e jogadores vem sendo preparados, desde 2024, visando criar equipes para pessoas com deficiência de guerra e com pernas amputadas. Tais equipes já participaram do campeonato polonês dedicado a elas com um início promissor. Em pouco tempo, o futebol conseguiu ajudar pessoas com ferimentos graves de guerra a voltarem à vida; a tirar crianças do isolamento, fazendo com que participem de atividades em grupo; a aprender a jogar futebol com muletas; a tomar parte de competições; enfim, a encontrar uma nova coragem para enfrentar a vida.
A Copa Internacional Helvetia em São Galo
No passado mês de agosto de 2024, em São Galo, na Suíça, foi realizado o torneio “International Helvetia Cup - Football for Inclusion”, com a participação de duas equipes do “FK Pokrova de Lviv”, escola de futebol para amputados, dos Salesianos da Ucrânia.
O torneio de futebol para amputados emocionou os espectadores. Muitos deles assistiam pela primeira vez a uma partida para amputados. A ação em campo foi acirrada, mas sempre correta. Após o apito final, os adversários voltaram a ser pessoas que têm experiências semelhantes e desfrutaram da diversão do jogo. Uma das duas equipes chegou a dividir o primeiro lugar e, portanto, a vitória do torneio, junto com o Everton FC, do Liverpool.
Bogdan Melnyk, Treinador do FK Pokrova, afirmou estar orgulhoso dos seus jogadores: “Comecei a treinar o FK Pokrova há um ano. Agora sou mais organizador e gestor. Descobri o futebol para amputados há apenas um ano. O salesiano P. Mykhailo Chaban, Superior da Visitadoria Maria Auxiliadora, da Ucrânia Greco-Católica (UKR), perguntou-me se eu queria criar a equipe... Em primeiro lugar tivemos que encontrar jogadores interessados: a busca não foi fácil".
O treinador continua: “Visitei centros de reabilitação, organizações de voluntariado e hospitais. Falei com muitos candidatos e os motivei a participar. Os destinos individuais dos nossos jogadores estão muito próximos do meu coração e ao mesmo tempo mostram-me quão importante seja esta equipe de futebol para amputados. Depois de um ano, temos 35 jogadores ativos na nossa equipe de futebol, 80% dos quais são soldados com deficiência de guerra, enquanto os outros perderam uma perna devido a doenças ou acidentes. Nosso trabalho oferece ajuda emocional e psicológica, mas também alegria em vários níveis. Minha visão é de que tudo irá crescer. Também sonho em ter equipes tanto adequadas a mulheres quanto a crianças. E que o futebol para amputados traga novo apoio e esperança às pessoas com deficiência em toda a Ucrânia. Estamos devolvendo às pessoas um pedaço daquela vida que elas perderam."
“O esporte pode unir as pessoas quando há traumas”, afirma Markus Burri, Diretor Geral da ONG salesiana suíça “Don Bosco Jugendhilfe Weltweit”, com sede em Beromünster, Suíça. E quando fala de trauma, Burri quer dizer traumas físicos e psicológicos, que estão particularmente enraizados nas vítimas da guerra. “A linguagem do esporte é universal e é utilizada nos projetos de ajuda salesiana em todo o mundo: celebrar as vitórias, aprender com as derrotas, crescer no espírito de equipe... Mas, em qualquer dos casos, estar num movimento positivo”, diz Markus Burri, descrevendo a promoção salesiana de desporto que visa a integração social e a inclusão de pessoas desfavorecidas.
As pessoas convivem com a guerra
Quando a guerra começou, não estava claro se, e como, os Salesianos de Dom Bosco teriam condições de continuar o seu trabalho na Ucrânia; se conseguiriam manter os seus centros juvenis e instituições educativas. Agora, a situação se ‘estabilizou’... O país e a sua população convivem com a guerra e os Salesianos de Dom Bosco continuam a trabalhar, na medida do possível, apesar dos... imensos desafios. Na verdade, devido à situação de emergência, também se deveram acrescentar novos projetos.
A Casa-Lar Pokrova, em Leópolis, por exemplo, acolhe atualmente 70 crianças, a maioria das quais órfãs. Nos últimos anos, trinta novas crianças se juntaram na Casa – também em sua maioria provenientes da zona de guerra no Leste do país, enquanto o mesmo número foi adotado ou deixou o local por atingir a maioridade.
Além disso, em colaboração com o governo, um terreno de propriedade dos Salesianos ganhou um assentamento de contêineres para 1.000 deslocados internos - a maioria mulheres e crianças - denominado Mariápolis. Seus moradores recebem cestas básicas diárias e 70 mulheres que vivem ali frequentam cursos de formação profissional no Centro Dom Bosco, de Leópolis. Às pessoas que vivem em zonas de guerra são distribuídas mais de 1.000 refeições por dia e é realizado um importante trabalho de informação.
A longo prazo, no pós-guerra, o P. Chaban espera se possa construir um grande centro esportivo e de reabilitação integral para as pessoas feridas e traumatizadas pela guerra, concebido para se tornar um lugar de esperança e recuperação; e capaz de oferecer perspectivas de... futuro.