República Democrática do Congo – “O povo congolês é por natureza um povo de esperança”
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08 julho 2024

(ANS – Goma) – A violência aumenta na região oriental da República Democrática do Congo, fazendo numerosas vítimas entre os civis. De acordo com os Salesianos da Inspetoria Maria SS. Assunta, da Inspetoria do Kivu Norte, na África Central, dois tipos de conflitos agravam a já precária situação humanitária.

O primeiro ocorre em torno de Goma: nos últimos dois anos, mais de 1,5 milhões de pessoas foram forçadas a fugir das suas casas devido a confrontos entre grupos rebeldes, também apoiados no estrangeiro, e o exército regular congolês e as forças auxiliares a ele associadas.

Os combates intensificaram-se desde o início de 2024. “Esta crise é caracterizada pela abundância de pessoas armadas no conflito, fugas em massa e um número crescente de pessoas que necessitam de ajuda humanitária” – diz uma nota da Organização Internacional para as Migrações (OIM), das Nações Unidas, emitida no final de fevereiro. Este é mais um desastre humanitário numa região já devastada por 30 anos de conflito. As centenas de milhares de civis que abandonaram as suas terras e aldeias vivem agora em campos improvisados ​​perto de Goma, em condições de... extrema pobreza.

Ao mesmo tempo, outro conflito, mais oculto, ocorre em torno de Beni, 350 km a norte de Goma, região que se limita com o Uganda. Ali, na primeira quinzena de junho, 150 civis foram mortos por grupos armados de fundamentalistas, que se esconderam na imensa floresta equatorial da região - durante vários anos - , antes de saírem e massacrarem os aldeões.

Seu método é conhecido: ou as pessoas se convertem à sua religião ou têm a garganta cortada. Como disse o Papa depois do Ângelus de 16 de junho, “entre as vítimas, muitos são cristãos mortos por ‘ódio à Fé’ : são mártires. Seu sacrifício é uma semente que germina e dá fruto; e nos ensina a testemunhar o Evangelho com coragem e coerência”.

Esses mártires recordam as vítimas de 60 anos atrás quando, no dia 18 de agosto de 2024, em Uvira, na província de Kivu do Sul, durante a Missa presidida pelo Cardeal Fridolin Ambongo, Arcebispo de Kinshasa e Enviado especial do Papa Francisco, três missionários xaverianos, de Parma, e um sacerdote congolês foram mortos pelos rebeldes Simba "em ódio à Fé" em Baraka e Fizi, no Kivu do Sul, em 28 de novembro de 1964.

Três dias antes de seu martírio também a Irmã Anuarite, religiosa congolesa fora morta em Isiro (Haut-Uele), em 1° de dezembro de 1964. Ela foi proclamada Beata pelo Papa São João Paulo II, em 1985. Em 1964, durante os motins que se seguiram à independência do Congo (1960), foram mortos muitos outros sacerdotes e religiosos, tanto missionários quanto congoleses: só na semana entre 24 de novembro e 1° de dezembro, 99 homens e mulheres da Igreja, incluindo um bispo, foram martirizados, sem contar as numerosas vítimas civis.

O Cardeal Ambongo, entrevistado recentemente por ‘Vatican News’, perguntou-se por que há tantas vítimas naquela região. “Todos somos testemunhas – disse – do que está a acontecer no Leste, e é verdadeiramente incompreensível ver o aumento dos assassinatos; sobretudo o deslocamento de pessoas retiradas de suas aldeias. Nós nos perguntamos: por quê? Fazemos a mesma pergunta pelos que foram mortos por sua Fé, no Kivu Norte, em particular nos territórios de Beni, Butembo, descendo em direção a Goma, passando por Masisi, Rutshuru e Nyiragongo, onde a... matança continua. Nós realmente nos perguntamos: como isso pode acontecer hoje? E isso ocorre em meio a uma espécie de indiferença geral por parte da comunidade internacional”.

“Ninguém se comove com o massacre do povo congolês – diz ainda o Cardeal -. A consciência da Comunidade Internacional parece ser indiferente ao deslocamento maciço da população congolesa, dentro e fora do país. Isso realmente levanta questões. O que é que nós, o povo congolês, fizemos, para merecer este tratamento?”.

“Deveríamos, então, apenas nos desesperar? Não”, continua o Cardeal Ambongo. “O povo congolês, por natureza, é um povo de esperança... É um povo que se agarra à vida, um povo que acredita no seu futuro e, apesar da escuridão do momento, está convencido de que o seu futuro será melhor. E pessoalmente, como Pastor, em nome da Esperança cristã, continuo a encorajar o nosso povo a não ceder à tentação do desânimo. Porque ao cedermos à tentação do desânimo, ofereceremos o nosso país ao inimigo, como um bolo numa bandeja de prata”.

“Se tenho uma mensagem para o meu povo – conclui o Cardeal – é que nunca entre em pânico, para não ceder ao jogo do inimigo. A Esperança cristã existe para nos apoiar em nossa luta”.

InfoANS

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