Índia – Jovens da Ásia Sul se manifestam: o evento VOICES revela os desafios da migração, do desemprego, da dependência digital e química

14 julho 2023

(ANS – Nova Delhi) – Jovens da Ásia Sul se reuniram por ocasião do evento VOICES, plataforma que amplifica seus apelos sobre as questões sociopessoais urgentes. Ao longo do evento, os participantes compartilharam histórias e percepções pessoais, esclarecendo os desafios enfrentados pelos jovens da região, da migração ao desemprego, do vício digital ao vício em substâncias químicas.

O evento “VOICES: Dar voz aos que não têm voz” é um projeto inovador do Setor de Comunicação Social com sede em Roma, inaugurado em nível regional pela Ásia Sul na quarta-feira, 12 de julho, na Casa Inspetorial de Nova Delhi, como resposta concreta às propostas do Pacto Educativo Global do Papa Francisco, à Sinodalidade e às propostas programáticas do Reitor-Mor, que priorizam a comunicação a serviço dos jovens que se encontram em situação precária.

Durante o evento VOICES, vários jovens relataram suas experiências com o vício em substâncias químicas, destacando a presença generalizada das drogas em várias regiões. Suas histórias revelaram a necessidade de medidas eficazes para lidar com o vício e promover programas de reabilitação.

John Melwin, Professor de música de Hyderabad, relembrou a triste história de um parente viciado em drogas e disse que, com frequência, os jovens usam drogas como válvula de escape. Anoopraj, Coordenador do projeto salesiano DREAM (Drug Rehabilitation Education And Mentoring) no estado de Kerala, calculou que na Índia existem 60 milhões de toxicodependentes com idades entre 10 e 15 anos. Ele citou estudos de caso, esclarecendo que as razões para o uso de drogas são: depressão, transtornos comportamentais de personalidade, problemas físicos, comportamento antissocial e traumas por abuso físico; e que é necessário um grande esforço multidisciplinar para superar estes traumas.

A apresentação em vídeo de Dilip Nandhanan, da Trichy, impressionou profundamente os participantes. Ele compartilhou sua experiência como adicto e os esforços para sair do túnel das drogas, incluindo as recaídas e, por fim, a desintoxicação. Anmol Kajur, estudante de Ciências Políticas, e Aman Yakka, ambos de Jharkhand, ilustraram diversos aspectos relacionados com o uso de drogas, coordenados pelo P. Dickson Eugene, Delegado para a Comunicação Social da Inspetoria de Bangalore, que coordenou o debate. Uma pesquisa das Nações Unidas, revelou que houve um aumento de 70% do vício em drogas na faixa etária abaixo dos 25 anos. Portanto, em resposta a esse problema, os participantes sugeriram uma abordagem abrangente envolvendo educação, campanhas de conscientização e opções de tratamento acessíveis.

O tema do desemprego também surgiu como uma grande preocupação dos jovens e, portanto, foi discutido durante o VOICES. Os jovens compartilharam suas dificuldades em encontrar oportunidades de trabalho adequadas, expressando sua frustração e ansiedade com a escassez de perspectivas de emprego. O moderador da sessão, P. Arvind Khalko, Delegado para a Comunicação Social da Inspetoria de Calcutá, anunciou que 15,39 milhões de pessoas são afetadas pela crise pós-Covid-19.

Viman Fernando, do Sri Lanka, descreveu o cenário de desemprego em seu país, alimentado por um sistema educacional inadequado, falta de habilidades e conhecimento, e crescimento econômico lento. Kishan Kisku, que provém de um ambiente agrícola no estado indiano de Bengala, observou que "a educação insuficiente é a principal causa de desemprego". Adani Chamikho, de Guwahati, listou outros motivos: alto índice populacional, distâncias geográficas e desafios de conectividade digital, escassez de habilidades e instabilidade política, poucas oportunidades de negócios e migração de jovens qualificados.

Ronald Roy, funcionário dos Serviços de Emprego da Inspetoria de Calcutá, descreveu a mentalidade dos jovens que leva ao desemprego, afirmando que, ao se sentirem incapazes de alcançar os objetivos exigidos no local de trabalho, acabam por desanimar e abandonar o trabalho. Com o baixo salário que recebem, muitos migram para "pastos mais verdes". Sem falar que a tecnologia vem substituindo cada vez mais o homem em muitos ambientes. Os jovens palestrantes pediram iniciativas do governo para impulsionar a criação de empregos, melhorar os programas de desenvolvimento de habilidades e preencher a lacuna entre as demandas dos empregadores e formação oferecida.

Em um mundo cada vez mais interconectado, a dependência digital também surgiu como um desafio significativo a ser enfrentado pelas gerações mais jovens. Aleister D'Souza SDB, Delegado para a Comunicação Social da Inspetoria de Mumbai, apresentou o tema abrindo espaço para as falas dos jovens, que apontaram para o fluxo interminável de notificações, mensagens e entretenimentos que os atingem constantemente. Sherwin Mark, de Chennai, vinculou o vício digital à depressão. Vancouver Shullai, jovem professor de Shillong, observou por sua vez: "Nós nos apaixonamos por nós mesmos", acrescentando que os jovens de hoje têm muito medo da solidão e a tecnologia lhes dá uma sensação de frescor.

Para eles, tempo livre significa o tempo que passam com o celular nas mãos e não um tempo para se divertir ao ar livre, como ocorria antigamente. Rahul Bora, de Dimapur, destacou o caráter destrutivo da tecnologia nas relações, uma vez que fomenta laços e relacionamentos superficiais. Leander Viegas, de Mumbai, disse que a facilidade de acesso e as recompensas imediatas também causam dependência digital. Estes fatores levam a uma necessidade constante de confirmação, ao medo de serem excluídos (fenômeno conhecido por FOMO – Fears Of Missing Out), à ansiedade gerada pelas comparações, à diminuição do tempo de atenção, distúrbios do sono e outros problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão.

A geração mais jovem, que busca uma sensação de realização e validação por meio de plataformas digitais, precisa, portanto, de um reconhecimento positivo por meio da arte, das brincadeiras, da cultura… Manifestou Shullai.

VOICES, por fim, também prestou atenção à questão dos migrantes. Olibha Kerketta, de Nova Délhi, afirmou que o fascínio da possibilidade de novas oportunidades em outras partes do país ou no exterior geralmente é maior do que a consciência das possíveis desvantagens. Ele também disse que os fatores que levam à migração são vários: desemprego, salários baixos, sistema corrupto, pobreza e falta de segurança social. Sruthi Menon, coordenadora do projeto KISMAT (Kerala Interstate Migrants Alliance for Transformation), iniciativa da Inspetoria Salesiana de Bangalore, representou a enorme população de 3,15 milhões de migrantes internos em Kerala. “Os jovens migrantes enfrentam o desafio de se adaptar a uma nova cultura, idioma e sistema social. As restrições financeiras, a discriminação, as armadilhas e os furtos que muitas vezes enfrentam podem ser muito opressivos”, diz. Ao mesmo tempo, a emigração tornou-se uma opção atraente para os jovens que buscam melhores perspectivas econômicas ou fogem de difíceis condições sociopolíticas, acrescentou.

Deepak Tirkey, jovem que migrou para Chennai, descreveu as más condições de vida que experimentou, morando em quarto pequeno com 8 a 10 outros colegas de trabalho e sem condições adequadas de higiene, com uma carga aumentada de horas de trabalho, observando a discriminação de gênero nos salários, a ausência de estabelecimentos de ensino para os filhos dos trabalhadores migrantes e a recusa de auxílio maternidade. “Embora existam alguns sistemas de apoio para ajudar os jovens migrantes em seu processo de integração, como o projeto KISMAT em Kerala, os problemas ainda são grandes”, disse o P. Ashok Kujur, Delegado para a Comunicação Social da Inspetoria de Nova Délhi, ao concluir a sessão sobre migrantes.

O evento também forneceu uma plataforma para que os participantes pudessem propor possíveis soluções e estratégias para estes desafios. O P. Harris Pakkam, diretor da ANS em Roma e responsável pelo setor de Comunicação Social na região da Ásia Sul, disse: “As vozes que ouvimos nos impressionaram e de alguma forma também ‘perturbaram’. Como responder aos seus apelos?”. Ele categorizou os quatro temas em dois níveis: em nível social, os migrantes e o desemprego e, em nível pessoal, a dependência digital e de substâncias. A fim de desenvolver as estratégias adequadas para acompanhar os jovens em suas situações de vulnerabilidade, foram propostas algumas linhas de ação para serem discutidas e ratificadas durante a reunião dos Delegados para a Comunicação Social.

Na conclusão do evento, o P. Davis Maniparamben, Superior da Inspetoria de Nova Délhi, entregou os certificados aos participantes. Por fim, num momento de Ação de graças a Deus, encerrou-se o dia.

InfoANS

ANS - “Agência iNfo Salesiana” - é um periódico plurissemanal telemático, órgão de comunicação da Congregação Salesiana, inscrito no Registro da Imprensa do Tribunal de Roma, n. 153/2007. 

Este sítio utiliza ‘cookies’ também de terceiros, para melhorar a experiência do usuário e para fins estatísticos. Escorrendo esta página ou clicando em qualquer de seus elementos, aceita o uso dos ‘cookies’. Para saber mais ou negar o consentimento, clique na tecla "Mais informações".