Áustria – Relatório da Agência dos Direitos Fundamentais da UE sobre a condição dos refugiados ucranianos um ano depois do início da guerra

09 março 2023

(ANS – Viena) – A Agência dos Direitos Fundamentais (FRA, em inglês) da União Europeia publicou o relatório completo de uma pesquisa sobre as experiências e a situação dos refugiados ucranianos que encontraram refúgio na Europa. A pesquisa coletou vozes e histórias de cerca de 14.685 pessoas examinando diversos aspectos: a viagem da Ucrânia à chegada ao exterior, aspectos legais da acolhida nos países de recepção, acomodação, educação, emprego, acesso a serviços sociais, saúde, experiências traumáticas. A rápida ativação, pela primeira vez na história, da "Diretiva de Proteção Temporária" pela União Europeia foi de grande ajuda. No entanto, as dificuldades práticas continuam.

Os dados relatados são muito interessantes: um em cada três refugiados já se sente parte da comunidade do país de acolhida; mas quase a mesma porcentagem gostaria de voltar para a Ucrânia. Um quarto dos inquiridos continua indeciso.

A maior parte dos entrevistados não encontrou dificuldades nos deslocamentos para e dentro da União Europeia (UE). A maioria acredita ter recebido informações suficientes sobre seus direitos e sobre os serviços disponíveis de acordo com a Diretiva de Proteção Temporária. Neste sentido, um terço dos entrevistados pediu asilo no país de acolhida, enquanto a grande maioria solicitou proteção temporária (embora existam diferenças significativas entre os Estados-Membros).

Seis em cada dez entrevistados viviam em acomodações particulares na data da pesquisa. Mais da metade deles precisou pagar, integral ou parcialmente, por eles. Para muitos, a acomodação não é ideal. Os refugiados frequentemente reclamaram da falta de privacidade, pois precisaram dividir a cozinha ou o banheiro com estranhos. Muitos dos adultos entrevistados que vivem com filhos dependentes se encontram em alojamentos onde os filhos não têm acesso a um local sossegado ou separado para estudar.

Só menos da metade das pessoas que estudavam pouco antes de fugir da Ucrânia continuou seus estudos no país de acolhida. O principal motivo foi a barreira do idioma. Quatro em cada dez entrevistados não frequentaram um curso de línguas no país de acolhida desde a sua chegada. Quase dois terços das crianças aproveitaram a educação on-line fornecida por escolas ou universidades ucranianas ou aprenderam sozinhas usando materiais e outros suportes vindos da Ucrânia.

Cerca de dois terços das pessoas que tinham um emprego remunerado na Ucrânia antes de 24 de fevereiro de 2022 conseguiram encontrar emprego no país de acolhida. No entanto, dois terços dos entrevistados em idade ativa ainda não tinham emprego remunerado no momento da pesquisa. Os principais obstáculos ao acesso a emprego foram o desconhecimento da língua do país de acolhida e as responsabilidades com dependentes, sobretudo para as mulheres. É particularmente preocupante que três em cada dez entrevistados tenham sido submetidos a alguma forma de... exploração no trabalho.

As questões econômicas preocupam um em cada dois entrevistados que têm 16 anos ou mais. Tais entrevistados relatam que suas famílias têm alguma ou muitas dificuldades para sobreviver no país de acolhida. Apenas um pouco mais de um quarto dos entrevistados adultos consegue cobrir as despesas básicas do dia a dia, graças ao próprio trabalho; e apenas cerca de metade dos entrevistados adultos afirma ter sido ajudado financeiramente pelas autoridades desde a sua chegada.

Apenas um em cada três entrevistados afirmou ter boa ou excelente saúde. Um em cada dois entrevistados relatou sofrer de doenças ou problemas de saúde de longa duração. Além disso, metade dos entrevistados com mais de 16 anos teve problemas de acesso aos cuidados de saúde devido a dificuldades com o idioma ou porque não sabiam para onde ir ou a quem contatar.

Um em cada dois entrevistados afirmou sentir-se sempre ou frequentemente deprimido ou desanimado desde que chegou ao país de acolhida. No entanto, cerca de dois terços dos entrevistados estão otimistas em relação ao futuro. Um em cada três se sente parte da comunidade do país anfitrião: tal otimismo se deve à alta proporção de entrevistados que foram expostos a experiências traumáticas na Ucrânia ou na UE.

A maioria das pessoas que fogem da Ucrânia estiveram expostas a experiências traumáticas, especialmente na Ucrânia. Os incidentes na UE não foram, em sua maioria, relatados. Em todo o caso, apenas cerca de um terço dos inquiridos procurou cuidados médicos ou psicológicos desde que chegou à EU, e cerca de um quarto deste grupo não recebeu o apoio solicitado.

É também preocupante que cerca de metade das crianças entre 12 e 15 anos que participaram da pesquisa relatam sentir dificuldade em dormir e/ou se concentrar, ter perdido a confiança em si ou sentir vulnerabilidade.

91% dos entrevistados são mulheres. O desequilíbrio de gênero reflete a sub-representação dos homens na população-alvo, devido ao fato de que a lei marcial na Ucrânia proibiu a maioria dos cidadãos ucranianos, com idade entre 18 e 60 anos, viajar para o exterior. A idade média da amostragem é de 40 anos e inclui principalmente pessoas em idade ativa (18-64 anos).

O relatório completo da FRA pode ser baixado no final da página.

InfoANS

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