Em Bahía Blanca, o jovem Artêmides frequentou a paróquia dirigida pelos salesianos, cujo pároco era o P. Carlos Cavalli. Nele encontrou Zatti uma figura de pai e diretor espiritual que o orientaria na vida salesiana; e, em Viedma, conheceu o P. Evasio Garrone, que o convidou a rezar a Maria Auxiliadora para obter a cura, sugerindo-lhe, porém, que fizesse uma promessa: "Se ela o curar, você se dedicará a estes doentes por toda a vida". Artêmides fez a promessa de bom grado e, milagrosamente, curou-se. Emitiu a primeira profissão como salesiano coadjutor no dia 11 de janeiro de 1908 e a profissão perpétua no dia 18 de fevereiro de 1911, convencido de que “podemos servir a Deus tanto como sacerdotes quanto como coadjutores: para Deus, uma coisa vale tanto quanto a outra, desde que seja feita com vocação e amor”.
O hospital foi, durante toda a sua vida, o lugar onde exercia, dia após dia, uma caridade cheia da compaixão do Bom Samaritano. Ele costumava acordar os doentes nas enfermarias, dizendo: "Bom dia". Viva Jesus, José e Maria… Estão todos respirando?”.
Também costumava ir para a cidade de Viedma com seu jaleco branco e a bolsa de remédios, com uma mão no guidão e a outra no terço. Fazia tudo sem cobrar. Certa vez, um agricultor que quis expressar sua gratidão cumprimentando-o lhe diz: “Muito obrigado, Sr. Zatti, por tudo. Saúdo-o e peço que leve os meus melhores cumprimentos à sua esposa, mesmo sem ter tido o prazer de a conhece-la…”. "Nem eu", respondeu Zatti, soltando uma gargalhada.
Artêmides Zatti amava seus doentes, enxergava e servia o próprio Jesus através deles. Certo dia, pediu ao encarregado pela rouparia: "Uma muda de roupa para Nosso Senhor...". Zatti buscava o melhor para seus pacientes porque "a Nosso Senhor devemos dar aquilo que temos de melhor". Uma vez, um menino pobre do campo precisou de uma roupinha para sua primeira comunhão e Artêmides solicitou: "uma roupinha para Nosso Senhor".
Ele sabia conquistar a todos, com seu equilíbrio conseguia resolver até as situações mais delicadas. Um dos médicos do hospital testemunhou: "Quando encontrava o Sr. Zatti, a minha incredulidade vacilava!”. E outro: “Eu creio em Deus desde o dia em que conheci o Sr. Zatti”.
Na comunidade, era ele quem tocava o sino, era ele que precedia todos os coirmãos nas reuniões comunitárias. Como bom salesiano, sabia despertar a alegria, um componente de sua santidade. Sempre agradavelmente sorridente: é assim que todas as fotos o retratam.
Em 1950, Zatti caiu de uma escada, acidente que revelou os sintomas de um câncer que ele mesmo diagnosticou, com lucidez. Faleceu no dia 15 de março de 1951, cercado pelo afeto e pela gratidão da população de Viedma e Patagones, que a partir daquele momento começou a invocá-lo como intercessor junto a Deus. A crônica do colégio salesiano de Viedma relata estas palavras proféticas: "Um irmão a menos em casa e um santo a mais no céu”.
O milagre da canonização
O milagre reconhecido refere-se à recuperação milagrosa de Renato, um filipino que, em agosto de 2016 sofreu um grave derrame isquêmico, agravado por hemorragia. Devido ao agravamento dos sintomas e à consequente dificuldade de locomoção, ele acabou sendo internado. Nos dias seguintes, não havendo melhora, ao contrário, encontrando-se desorientado e apresentando a fala confusa, foi transferido para a UTI.
Seu irmão Roberto, salesiano coadjutor, ao tomar conhecimento da gravidade da situação, no dia da internação começou a orar por sua recuperação por meio da intercessão do Beato Artêmides Zatti.
Em seguida, um check-up neurocirúrgico indicou a necessidade de uma cirurgia que, porém, não seria possível devido à escassa situação financeira da família. Os familiares, então, decidiram levá-lo para casa para que ele pudesse passar os últimos dias de sua vida com a família. O moribundo recebeu a unção dos enfermos e quis ver os familiares e parentes para se despedir.
Roberto convidou os parentes a se unirem para rezar, invocando intensamente o Beato Artêmides Zatti.
No dia 24 de agosto de 2016, contrariando todas as expectativas, Renato tirou o tubo e o oxigênio e chamou os parentes, dizendo que estava bem e que queria tomar banho e comer. O homem que há poucos dias havia sido trazido para casa para morrer estava saudável!
Este milagre confirma o carisma de Artêmides Zatti, cujo apelido era "o parente dos pobres". De fato, em seu hospital de Viedma, na Argentina, Artêmides acolheu e atendeu aqueles que não podiam arcar com os custos dos medicamentos e das internações.
O milagre não aconteceu apenas como uma cura física. A graça de Deus, de fato, enquanto cura o corpo, toca o coração e a vida das pessoas enquanto, renovando-as na fé, nos relacionamentos e no testemunho de uma nova vida.
Certa vez, um dos médicos do hospital San José perguntou: "Sr. Zatti, o senhor é feliz?’ ‘Muito. E o Doutor?’. ‘Eu não…’. ‘Veja, a felicidade, cada qual a carrega em si: contente-se com o que tem, ainda que seja pouco ou nada: é isto o que Deus nos pede. Quanto ao resto, Ele pensará”.
Esta é a mensagem que o Sr. Zatti deixa, hoje, a cada um de nós. Como escreveu em uma carta a seu pai, Luigi, em 1908: “Eu não ficarei a elencar as graças que deveis pedir; vós sabeis muito bem. Só quero colocar diante de seus olhos uma delas: a de que todos nós possamos amar e servir a Deus neste mundo e depois poder ser felizes com Ele no outro”. Oh! Que felicidade, então poderemos estar todos juntos, sem mais medo da separação!... ah, sim, vós deveis pedir esta graça. E, se às vezes, tivermos que sofrer alguma coisa, paciência!... no céu encontraremos a recompensa, se sofremos por amor ao nosso Querido Jesus e, lembremos, momentâneos são os sofrimentos e eterno é o gozo!”.
P. Pier Luigi Cameroni, Postulador Geral para a Causa dos Santos da Família Salesiana