Quando e como o senhor chegou em Kami?
Cheguei da Itália para a missão em Kami no dia 2 de janeiro de 1985, para ajudar e dar o meu apoio a esta área remota e complicada devido à altitude. Eu não estava pronto para partir como missionário, mas acolhi a proposta dos meus superiores. Era chegada a hora de dar a minha contribuição.
Como era a realidade da comunidade Kami quando o senhor chegou?
Na época, as estradas eram terríveis, com constantes deslizamentos de terra. A cidade mais próxima ficava a muitas horas de distância. Outra questão marcante era a situação das crianças: não tinham nada para se proteger da chuva e do frio. Agora a situação é muito diferente: sem comparação.
Qual é o impacto social da presença salesiana em Kami?
Um dos primeiros efeitos foi a presença de sacerdotes, que visitavam as famílias e asseguraram a Celebração da Eucaristia.
As obras sociais começaram quase imediatamente depois da chegada dos salesianos, como o aqueduto, considerado uma obra monumental: são sete quilômetros de tubulação ao longo de uma serra muito complicada. A água foi trazida para Kami em grande quantidade (embora ainda seja insuficiente, devido ao grande número de mineiros).
Também conseguimos organizar melhor a assistência sanitária, com a ajuda da ONG italiana "COOPI", e fortalecemos as escolas da região, uma vez que a evasão escolar era alta.
Outras obras importantes foram a construção do hospital, do ginásio e do cinema em 1984. São obras sociais que tiveram forte impacto na população de Kami e criaram uma relação de estima com a comunidade salesiana.
O que o senhor nos pode dizer sobre a hidrelétrica?
O projeto é realmente grande. A primeira fase foi concluída em 2007: agora estamos na terceira e última fase do projeto, que precisa ser completada para a construção da instalação. Ela fornecerá energia elétrica a toda a região e terá potencial para expandir-se um pouco mais. O projeto prevê que a energia excedente seja vendida ao Estado e a renda seja utilizada para sustentar todas as atividades da missão salesiana na Bolívia, como: apoiar os projetos da Rádio Dom Bosco, os projetos agrícolas, a manutenção das estradas (que é uma parte importante para o desenvolvimento da aldeia...).
Como começou a produção e comercialização da carne?
Esta iniciativa nasceu há cerca de 25 anos, partindo de um projeto agrícola que visava dar qualidade de vida às pessoas melhorando a qualidade das sementes de batata (o que continua até hoje). Naqueles anos, quando não havia veterinários na área, a formação de promotores agrícolas tornou-se uma necessidade. Começamos com a formação de suinocultores (uma vez que todas as famílias possuíam porcos abandonados e doentes), e conseguimos fazer pequenas granjas em boas condições higiênicas. Com esse aporte, chegamos, ao longo do tempo, a produzir presunto serrano e salame de chouriço. Posso afirmar que conseguimos produzir o melhor presunto serrano da Bolívia.
Quais são os maiores desafios para Kami e para a Casa salesiana no futuro?
Seguir em frente com os projetos que temos, pois a autossustentabilidade econômica ainda é um desafio fundamental.
https://www.infoans.org/pt/component/k2/item/14481-bolivia-entrevista-com-o-p-serafino-chiesa-sdb-missionario-em-kami#sigProIdb6b69b71b7