P. Harris Pakkam, SDB
Como passaste os 18 meses de sequestro e como foste tratado pelos teus raptores?
Realmente, foi uma longa espera e não sabia o que fazer a não ser rezar. Tive as pernas e as mãos amarradas.
Passava o tempo a rezar o quanto mais possível, por todas as intenções possíveis. Normalmente dormia, rezava, pensava nas aulas de técnica que costumava dar, preparava alguma delas mentalmente... E à noite dormia. Os dias caminhavam assim e não tinha qualquer comunicação com o mundo externo, nem sabia onde estava.
Os meus raptores não me maltrataram, nem me torturaram. Davam-me de comer três vezes por dia e, uma vez, perguntaram detalhes sobre mim, minha família, os lugares visitados, as pessoas conhecidas... Era prisioneiro deles e estava o dia todo sentado no chão sobre uma almofada de espuma, com as mãos e pernas amarradas, e quando me sentia cansado, dormia um pouco ou, ao menos, me deitava, e os meus dias se passaram assim.
O que sentiste quando soubeste da morte das irmãs e das outras pessoas no ataque em Áden?
Era 4 de março de 2016, sexta-feira. Depois da adoração eucarística e a bênção eucarística da manhã para as cinco irmãs, tomei o café da manhã. Depois, passei um pouco de tempo na capela em oração pessoal. Pelas 8:40, logo que saí da casa das irmãs, ouvi um tiro de pistola e quase imediatamente depois um dos agressores amarrou minhas mãos e eu disse que era indiano. Fez-me sentar numa cadeira, perto da sala de segurança, próxima à porta principal do Instituto. As irmãs já estavam em seus locais de trabalho com os idosos. O chefe dos agressores foi onde elas trabalhavam e voltou com duas irmãs; depois, foi novamente procurar e voltou com outras duas irmãs, que deixou perto do portão principal. Foi ainda procurar a quinta irmã, mas não conseguiu encontrá-la. Depois, voltou ao portão principal, onde deixara duas irmãs, levou-as para fora da minha visão e disparou sobre elas; voltou e pegou as outras duas que estavam ao meu lado e disparou sobre elas. Tudo isso aconteceu no interior do Instituto. Eu só rezei a Deus para ser misericordioso com as irmãs e ter piedade dos perseguidores. Não chorei, nem tive medo da morte.
Depois, pegou-me e colocou-me no bagageiro do carro, que estava estacionado perto do Instituto das irmãs, e fechou a porta. Depois, entrou na capelinha da casa, pegou o tabernáculo com o Santíssimo e jogou-o no bagageiro do carro, onde também eu estava fechado. E, então, me levaram embora.
Senti grande angústia. Rezei a Deus para ser misericordioso com as irmãs e demais vítimas e perdoar os assassinos. Pedi ao Senhor que me desse a graça e a força de aceitar a sua vontade e permanecer fiel a Deus, para ser fiel à missão para a qual Ele me quis aqui, nesta terra.
O quanto a vida oração e o carisma salesiano te ajudaram em tua experiência de prisioneiros?
A maior parte do tempo, quando estava acordado, de dia ou de noite, era dedicada à oração. Iniciava o dia com o Ângelus, seguido de um Pai Nosso e uma Ave Maria por cada uma das irmãs mortas, e depois continuava a rezar pela minha Inspetoria, a Congregação, a paróquia, a família; recordava todas as pessoas e intenções que conseguia, rezando por elas. Rezava também pelos meus raptores, pedindo ao Senhor que os perdoasse e convertesse. Não tinha nem hóstia nem vinho, nem um missal ou lecionário, mas celebrava a missa espiritualmente todos os dias. Oferecia-a ao Senhor todos os dias; para as leituras, recordava algum episódio do Antigo ou do Novo Testamento, e para o Evangelho, algum milagre, parábola ou episódio da vida de Jesus, e os meditava. Rezava também por todos os Salesianos falecidos, pelos familiares, paroquianos e todas as pessoas que conhecia. Continuei a rezar por muitíssimas intenções. Rezava também para ser libertado, se fosse a vontade do Senhor. Rezava muitas vezes o rosário. Algumas vezes, porém, não conseguia rezar porque falavam em árabe e na minha mente não podia concentrar-me em nada.
Como se davam as gravações de vídeo com os teus apelos?
Era tudo bem programado por eles. Disseram-me antes que fariam um vídeo-apelo para obter um resgate; não podia fazer outra coisa que obedecer-lhes. Gritavam e faziam barulho como se estivessem batendo em mim, mas nunca me fizeram qualquer mal. Esperavam que o vídeo levaria rapidamente ao pagamento do resgate.
Como te sentes agora que foste libertado?
O Senhor fez um grande milagre para mim e me deu outra vida. Se me salvou, significa que ainda tem um plano para mim e ele quer que viva para Ele e seja uma testemunha. Quero agradecer a Deus Onipotente, às autoridades da Igreja tanto na Índia como na Vaticano, à Congregação Salesiana, à minha família e a cada pessoa que rezou pela minha libertação. Seguramente, é graças às orações que a minha vida foi poupada.
Como te sentes depois de encontrar o Santo Padre?
Esta é outra grande graça que me foi concedida por causa da minha prisão. Chorei profundamente diante dele, compartilhei com ele a minha experiência. Foi muito empático, compassivo e preocupado por mim e beijou as minhas mãos duas vezes. Não esperaria nada disso tudo; foi-me dada uma nova vida e pedi ao Santo Padre que agradecesse a todos pelas orações oferecidas por mim no mundo todo.
Quais são os teus próximos planos? Voltarás logo à Índia?
No momento, sinto-me fisicamente fraco, mas com os remédios e a alimentação estou começando a sentir-me melhor. Preciso fazer alguns exames médicos e espero recuperar-me logo. Quando estava em Áden pesava 82 kg, quando me pesei depois da libertação chegava a 55 kg. Agora estou me recuperando. Estou certo de que ficarei melhor, porque a graça de Deus e as orações de tanta gente me ajudam.
Quanto ao futuro, não tenho outros projetos a não ser fazer a vontade de Deus, que me será expressa através dos meus Superiores na Congregação Salesiana. Gostaria, certamente, de voltar à Índia e agradecer a todos e encontrar toda a minha gente, mas esperarei até quando os médicos disserem que serei capaz de viajar. Pode exigir algum tempo e estou pronto a esperar ainda um pouco.