Uganda – Viver e trabalhar em campo de refugiados: a presença salesiana em Palabek

(ANS – Palabek) – “Em 2015, o Papa Francisco convidou as Congregações a não apenas ‘trabalhar’ em campos de refugiados mas também a ‘viver nos’ locais. Nós, salesianos, aceitamos o desafio de permanecer dentro de Palabek. Há de fato outras organizações que trabalham ali, mas não moram no local: vêm e vão todos os dias. Os salesianos somos os únicos autorizados a viver em lugares como Palabek ou Kakuma, no Quênia”, disse o Sr. Máximo Herrera, salesiano irmão, argentino, missionário na África.

Uganda é o país africano com o maior número de campos de refugiados – 28! - para pessoas da Etiópia, Somália, Congo, Ruanda, Burundi e Sudão. Estima-se que, no local, resida um total de 1,7 milhão de refugiados. No caso específico de Palabek – que pertence às Nações Unidas e abrange uma área de 400 quilômetros quadrados – ali vivem cerca de 72 mil acolhidos, vindos principalmente do Sudão do Sul. O Sr. Herrera falou ao Boletim Salesiano da Argentina sobre essa realidade, concedendo uma longa entrevista, que reproduzimos a seguir para os leitores da ANS.

Como é viver num campo de refugiados? Como é a vida das pessoas?

Nós, salesianos, temos uma pequena casa; a maioria das pessoas mora em casas de barro ou palha; a nossa é de lata, e conta com água e luz. Até o ano passado éramos seis salesianos, vindos também de seis países: um venezuelano, dois tirocinantes (salesianos ‘estagiários’) do Burundi e de Uganda, um congolês, um indiano e eu. Foi uma experiência muito boa. Nossa vida diária no acampamento também é uma surpresa. A cidade onde compramos comida fica a 80 quilômetros de distância, é preciso subir uma estrada de montanha. Comemos o que as pessoas daqui comem: milho, feijão... E temos a nossa casa, que é um pouco como um quartel-general. A oito quilômetros de casa fica a única escola, que é de Formação Profissional. Também cuidamos de todas as atividades de lazer: esporte, teatro, música. A coisa mais difícil para um refugiado é administrar o tempo, pois muitas vezes não tem nada para fazer.

Quais são as esperanças e expectativas de quem mora lá?

O Sudão (do Sul), de onde vêm os refugiados, é um país independente há apenas 11 anos e está muito inseguro, porque as tribos lutam entre si. Então, quem chega ao campo - principalmente as mulheres - e consegue colocar os filhos na escola, não quer voltar. Nós temos um programa que permite que as crianças frequentem a escola secundária fora do acampamento. A presença salesiana pensa no futuro, em fornecer ferramentas aos jovens para que alcancem seus objetivos.

Pelo que o senhor diz, parece que a missão salesiana na África está intimamente ligada à vida cotidiana das pessoas...

Gosto muito desse aspecto da espiritualidade salesiana, desse aspecto da vida cotidiana. Passamos o dia com os refugiados, realizando várias atividades: Formação Profissional, projetos agrícolas, atividades recreativas (esporte, música, dança), e estamos felizes com isso. É assim que nós, salesianos, nos aproximamos de Deus: Dom Bosco, de fato, deixou bem claro que a educação é o melhor dom que podemos oferecer (também na África). Ele não se satisfazia em apenas trabalhar com crianças pobres: queria que elas saíssem da situação em que se encontravam, porque acreditava que elas tinham futuro.

Diante de uma realidade tão difícil, como sustentar a Fé?

Acho que aprendi a rezar realmente desde que estou na África, porque vi o empenho e a convicção com que aqui rezam. Há dois detalhes que me chamam a atenção: o primeiro é que eles entram descalços na igreja porque, dizem, é um lugar sagrado, santo. A segunda é que cobrem o rosto diante do Santíssimo Sacramento. Isso vem do Êxodo, de Moisés, que cobre o rosto devido ao excesso de luz que o impedia de ser visto. Por fim, deve ser mencionada a devoção a Maria SS. Especialmente no campo: eles são muito devotos de Maria. Como salesianos, trabalhamos para difundir a devoção a Maria Auxiliadora que, assim como no tempo de Dom Bosco, é a Mãe que nos acompanha nos momentos... difíceis: auxilia. Acho que isso tem muito a ver com o contexto da África, onde são as mulheres que fogem com os filhos nas costas. Você as vê chegando a pé com seus filhos pequenos. Elas chegam e continuam cuidando deles. Lembram muito quando Jesus fugiu para o Egito: celebram-no como o dia dos refugiados, porque Jesus também foi um refugiado: Ele foi um deles.

Santiago Valdemoros e Juan José Chiappetti

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