Vim aqui para encontrá-los, com os meus 21 companheiros que representam a jovem população salesiana no Oriente Médio, e em especial Síria, Líbano e Egito. Também está conosco o P. Simon, responsável da comunidade salesiana. Agradecemos ao Senhor por poder estar aqui com todos vocês.
Creio ser difícil para muitos de vocês conhecer e entender plenamente a enormidade do que está acontecendo no meu amado País, a Síria. E é difícil para mim compartilhar com vocês em poucas frases uma vida de sofrimento. O sofrimento que vive nos nossos corações é muito grande para poder exprimi-lo com palavras, mas procurarei compartilhar com vocês, nossos irmãos e irmãs na fé, alguns aspectos da nossa realidade.
Vivemos todos os dias rodeados pela morte. Como vocês, fechamos todos os dias as portas de casa para ir ao trabalho ou à escola. É nesse momento que somos tomados pelo medo de não encontrar novamente as nossas casas ou as nossas famílias como as deixamos. Talvez sejamos mortos naquele dia. Ou talvez serão mortas as nossas famílias. É uma sensação dura e dolorosa viver rodeado pela morte e pelos assassinatos, e que não há possibilidade de fugir; não há ninguém que te ajude.
Deus, onde estás? Por que nos abandonaste? Existes, realmente? Por que não tens piedade de nós? Não és, talvez, o Deus do amor? Todos dias, nós passamos alguns minutos pondo-nos estas questões. E eu não tenho uma resposta!
É possível que este seja o fim e que nós nascemos para morrer no sofrimento? Ou, ao contrário, nascemos para viver e para viver a nossa vida em plenitude? A minha experiência nesta guerra foi dura e difícil. Contudo, fez-me amadurecer e crescer antes do tempo, e fez-me ver as coisas sob uma perspectiva diferente.
Eu presto serviço no Centro Dom Bosco de Aleppo. O nosso centro recebe mais de 700 jovens, rapazes e moças, que chegam na esperança de ver um sorriso e ouvir uma palavra de encorajamento. Eles também estão em busca de algo que falta em suas vidas: um genuíno tratamento humano. Entretanto, é difícil para mim dar alegria e fé aos outros, enquanto eu mesma me sinto sem estas coisas na minha vida.
Nesta guerra, perdemos muitas pessoas do nosso Centro. Jack, um garoto de 13 anos, morto enquanto esperava o ônibus que o levaria a uma aula de catequese e para brincar com seus amigos. Infelizmente, a amargura da guerra e o ódio no coração dos homens mataram esse garoto. Anwar e Michelle deixaram-nos uma tarde, e esperávamos revê-los no dia seguinte, de volta ao Centro. Infelizmente, porém, o seu sono naquela noite tornou-se eterno, porque a sua casa foi destruída e caiu sobre eles, e eles foram com os anjos do céu. Entre outros que morreram, estão os meus amigos, Nour, Antoine, William, e muitos outros garotos e garotas, cuja única culpa é terem ousado crer na humanidade. São todos mártires nesta guerra sangrenta e sem sentido que destruiu as nossas almas, os nossos sonhos e as nossas esperanças. A destruição da vida humana é uma perda infinitamente maior em comparação com a destruição de tijolos e pedras.
Apesar de todo este sofrimento a minha vida e a vida dos meus amigos na Igreja continuaram a ser vidas de serviço e doação alegre aos meninos e aos jovens da nossa cidade. Nós seguimos os passos de Dom Bosco, que duplicava a sua alegria como resposta a um sofrimento crescente. Nós vemos a presença de Deus numa criança que ajuda a levar a água. Vemos Deus naqueles que trabalham para salvar os outros que estão em perigo. Nós vemos Deus nos pais que não se rendem enquanto não conseguem levar comida para seus filhos.
Em minha pobre experiência de vida, aprendi que a minha fé em Cristo supera as circunstâncias da vida. Esta verdade não é condicionada ao viver uma vida de paz, sem dificuldades. Eu creio sempre mais que Deus existe apesar do nosso sofrimento. Eu creio que, às vezes, através do nosso sofrimento, Ele nos ensina o verdadeiro sentido do amor. A minha fé em Cristo é a razão da minha alegria e da minha esperança. Ninguém jamais poderá roubar-me esta verdadeira alegria. Enfim, eu peço ao Senhor Ressuscitado que conceda a mim, a todas as pessoas que vivem na Síria, a todos do mundo, a graça de mostrar um gesto de misericórdia e de plantar a alegria no coração de cada pessoa ferida, triste e abandonada. Esta é a mensagem para cada cristão sobre a face da terra.
Agradeço a todos vocês e peço-lhes seriamente que rezem pelo meu amado País, a Síria.